Já desde o início da formação do
nosso amado país que tem havido uma ligação entre a fé e a pátria. Reza a lenda que quando o Rei D. Afonso
Henriques derrotou os cinco Reis Mouros no dia 25 de Julho de 1139, naquela que seria
a batalha decisiva para o nascimento do Reino de Portugal, teve uma visão nos
Céus onde viu o Senhor Jesus Cristo crucificado, e foi-lhe prometida profeticamente
a vitória nesta batalha. Por esta razão decidiu colocar na bandeira de Portugal
cinco escudos em cruz a representar os cinco Reis derrotados e em cada um cinco
besantes representando as cinco chagas de Cristo, estes símbolos perduram até
aos dias de hoje na nossa bandeira.
O escudo da bandeira Portuguesa
É claro que esta lenda é apenas
isso, uma lenda, que apareceu pela primeira vez nos escritos de Fernão Lopes em
1419. No entanto não apareceu por acaso, apareceu porque em Portugal os
portugueses Cristãos e Católicos, cheios de sentimento patriótico, sentiram
Portugal chamado para grandes coisas, apareceu como uma expressão da união
entre a fé a pátria.
A Igreja Católica teve grande
influência na História de toda a Europa, e portanto também na nossa, fazendo a
aliança entre a pátria e a fé ser cada vez maior.
Mas a ligação não é só antiga, especialmente para os Cristãos Católicos. No
século XX o milagre de Fátima, independentemente de crermos nele ou não, marca a História, não só de Portugal mas do
Mundo: desde o discurso do Cardeal Cerejeira na abertura da Ponte de Salazar
(conhecida hoje como Ponte 25 de Abril), à devoção do Papa João Paulo II, com
mesmo alguns a dizer que Fátima foi responsável pela queda do Comunismo na
Europa, regime cujos grandes defensores (Lenine, Estaline, Marx, etc.) eram extremamente
anti-religiosos. Alguns poderiam mesmo dizer que Deus usou Fátima para combater
os Seus inimigos.
Os pastorinhos de Fátima
O século XX ainda nos leva àquela
que é uma figura odiada por muitos, o Dr. António de Oliveira Salazar, mas
amada por outros, sendo que foi eleito o maior Português de Sempre no Programa
da RTP “Grandes Portugueses”. Esta figura que marcou a nossa História, era um
Católico fervoroso, sendo conhecido pelo seu lema “Deus, Pátria, Família”. O lema de Salazar é, na verdade, um bom princípio, no entanto Salazar parecia colocar a Pátria igual ou maior que Deus, muitas vezes sacrificando a liberdade de cada um em nome da Pátria, tornando assim a Pátria um ídolo que forçava o seu regime a desobedecer a alguns dos grandes ensinamentos de Jesus Cristo.
Depois de ter analisado brevemente
alguns pontos importantes da História da nossa Fé e Pátria, devemos perguntarmo-nos o que podemos aprender com eles. Qual deve ser o papel da
pátria no serviço da fé? Qual deve ser o papel da fé dentro da pátria?
Um dos grandes lemas de Salazar
Em primeiro lugar é preciso
compreender que ser patriota não pode ser, para um Cristão, sinónimo de
considerar a sua nação superior às outras, ou os seus cidadãos melhores e mais
valiosos, pois já São Paulo perguntava “É porventura Deus somente dos judeus? E não o é também dos gentios? Também dos gentios, certamente.” (Rm 3:29), e dizia também Pedro : “E, abrindo Pedro a boca, disse: Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas; Mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e faz o que é justo.” (At 10:34-35).
No entanto não devemos desprezar
o orgulho pelo nosso país, não o orgulho que é arrogante e opressivo, mas o
orgulho humilde, o orgulho que defende as tradições e costumes valiosos da
nação. O orgulho pelo país não deve ser o oposto da humildade, mas o oposto da
vergonha. Ser patriota é não ter vergonha de se dizer que é Português, e é
sacrificar os interesses próprios pelos interesses da Nação.
E aqui aparece a pergunta chave: “Quais
são os interesses da Nação?”. Para o não crente a resposta pode ser poder, domínio,
opressão, imperialismo, ou qualquer outra tentação vinda do Acusador. Mas não
para o Cristão. Para o Cristão os interesses da Nação são que o seu povo e o
seu legado se conformem àquilo que é encontrado em Jesus Cristo, uma Nação que
assenta nos valores da paz, justiça, amor fraterno e serviço, pois aquele que
quiser fazer-se grande entre nós deve ser o primeiro a servir (Mt 20:26).
É assim óbvio qual é a relação
entre ser patriota e ser Cristão: ser patriota é querer o bem da Nação, e o bem
da Nação é que se conforme à imagem de Deus, e aquele que se conforma à imagem
de Deus é aquele que é Cristão.
É importante então não
interpretar a Nação como um ídolo, tal como os fascistas como Hitler e
Mussolini faziam, cometendo barbaridades em nome do seu ideal para o País e
igualando engrandecer a Nação com subjugar as outras nações, o que
paradoxalmente leva não ao engrandecimento da Nação, mas à sua corrupção, que
mesmo que seja a maior no Reino dos Homens, será a menor no Reino de Deus.
Típica propaganda com traços de idolatria ao homem e à Nação, no regime Nazi do ditador Adolf Hitler, responsável pelo massacre de milhões de Judeus
Não significa isto que se deva
esquecer o nosso legado e tradição, pois isso nunca seria patriotismo. O nosso
legado e tradição, na medida em que não contradiga os ensinamentos divinos (e
na realidade raramente contradiz, pois antes pelo contrário, reafirma-os),
devem ser defendidos, e Deus nos ajudará.
Assim, o projecto patriótico não
é impor o nosso Legado e Tradição aos outros, nem esquecê-los como os
Anarquistas por vezes propõem, mas glorificar o nosso Legado e Tradição, da
maneira mais nobre possível: colocando-o ao serviço dos outros, preservando-o e
tirando o melhor possível deles, para que a Nação seja posta ao serviço de
Deus, que é fiel (Dt 7:9), e então Deus se porá Ele ao serviço da Nação, pois
sem dúvida irá guiar a Nação pelos caminhos da Justiça, Amor e Rectidão, pois
ela será assim um instrumento do próprio projecto divino.
Um grande Português Cristão, o Padre António Vieira, no seu célebre "Sermão aos Peixes"