Muitas pessoas não acreditam na
existência de Deus, mas no entanto, muitas destas pessoas não se apercebem das
devastadoras consequências desta posição. Uma delas tem a ver com moralidade:
se Deus não existe e o materialismo é verdadeiro, como podemos realmente falar
em moralidade? Como podemos realmente dizer que algo está errado ou certo? Vou defender neste artigo que o ateísmo leva a uma
conclusão que não só é absurda mas ninguém na realidade acredita nela. A
primeira premissa que vou defender é:
- Se Deus não existe, então valores morais objectivos não existem.
Por objectivos entende-se que são
verdadeiros e violá-los é errado mesmo que ninguém acredite na sua veracidade.
Por exemplo, dizer que o Holocausto é objectivamente errado significa dizer que
o Holocausto seria errado mesmo que os Nazis tivessem ganho a Guerra e
conseguido fazer que com que toda a gente achasse que o Holocausto estava
certo.
Se Deus não existe, então é
plausível pensar que o mundo material é tudo o que existe. Se isto for verdade,
então todos os eventos são apenas rearranjos da matéria existente, qual é o
significado moral de tal rearranjo? Parece simplesmente que é arbitrário se a
matéria toma uma certa configuração ou outra. Penso que todos concordaríamos
que conduzir do lado esquerdo ou direito da estrada, pintar o cabelo de verde
ou de vermelho, etc. são acções moralmente neutras. Se Deus não existe então
não há nada realmente especial no ser humano, tal como as pedras somos
simplesmente colecções de átomos, destinados a desaparecer um dia na imensidão
do Cosmos. Porque somos nós mais importantes que mosquitos, moscas, cães ou
porcos? Dizer que somos especiais seria cair na falácia do especismo, ou seja,
arbitrariamente decidir que a nossa espécie é mais valiosa que as outras.
Pensemos agora no que significa a
palavra “mal”. É difícil arranjar uma definição, mas penso que esta, que ouvi
da boca do Dr. J.P. Moreland, é muito boa: “o mal acontece quando a realidade
não corresponde à maneira de como as coisas deviam
ser”. Mas a óbvia questão surge: se o mundo material é tudo o que existe,
então faz algum sentido em falar em numa maneira em como as coisas deviam ser?
Não, pois em primeiro lugar se o ateísmo é verdadeiro tudo o que acontece está
determinado pelas leis da natureza, portanto não faz sentido em falar em como a
realidade poderia ser, pois a
realidade não poderia ter sido de outra maneira!
Deus entrega a Moisés as Tábuas da Lei contendo dos Dez Mandamentos
Existe ainda outro problema, se os valores morais objectivos existem não são objectos materiais, e só por aí o materialismo/naturalismo (ligado ao ateísmo) são falsos. Depois existe outro problema: os processos naturais de evolução Darwinista são insuficientes para nos mostrar como podemos apreender a existência de tais valores morais objectivos transcendentes à matéria, pois eles apenas são rearranjos de matéria filtrados pela selecção natural, sem qualquer mecanismo para uma interacção entre o mundo material e o mundo imaterial, portanto chegaríamos à conclusão que mesmo que estes valores morais objectivos existissem, então nós não teríamos qualquer ideia de quais eles eram, o que torna a crença neles arbitrária e irracional.
É interessante notar que muitos
ateus concordam com esta afirmação:
“O universo que observamos tem precisamente as características com as quais se conta quando, por trás dele, não existe nenhum plano, nenhuma intenção, nenhum bem ou mal, nada, além da cega e impiedosa indiferença” (Richard Dawkins, "Deus, um delírio")
“O universo que observamos tem precisamente as características com as quais se conta quando, por trás dele, não existe nenhum plano, nenhuma intenção, nenhum bem ou mal, nada, além da cega e impiedosa indiferença” (Richard Dawkins, "Deus, um delírio")
É importante explicar que não estamos aqui a defender que é preciso acreditar em Deus para agir moralmente, mas sim que a existência de Deus é necessária para se poder falar de valores morais objectivos. Noutras palavras, o problema é ontológico e não epistemológico. Segue-se agora a próxima premissa:
2. Valores morais objectivos existem.
Porquê acreditar nesta premissa?
Bem, eu diria que é auto-evidente, tal como a existência do mundo exterior, a
existência do passado, as regras da lógica, certas verdades matemáticas como
1+1=2, etc. O fardo da prova está em quem nega a existência de valores morais
objectivos, e a não ser que vá argumentar em círculos, o não crente não pode
basear tal crença no seu ateísmo/naturalismo. Faça a seguinte experiência
mental, pergunte a si mesmo, não acha que é objectivamente verdade dizer que torturar
bebés porque é divertido ou violar mulheres é moralmente errado e auto-sacrifício, simpatia, etc. é moralmente certo?
Mesmo Louise Antony, um
não-teísta, num debate com William Lane Craig disse:
“Qualquer argumento para o cepticismo moral será baseado em argumentos
que são menos óbvios que a existência dos próprios valores morais objectivos.”
Podemos então argumentar:
1.
Se Deus não existe, valores morais objectivos
não existem.
2.
Valores morais objectivos existem.
3.
Portanto, Deus existe.
Sendo que a premissa
1 tem fortes argumentos filosóficos a suportá-la, para rejeitar a
conclusão temos de rejeitar a premissa 2, ou seja temos de admitir que torturar
uma criança inocente por divertimento não está errado, e tem o mesmo
significado moral que comer no Burger King em vez do McDonald's... Se é esta a
alternativa a acreditar em Deus, penso que a nossa opção deve ser clara e
inequívoca: Deus existe.
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