"Naquela ocasião Miguel, o grande príncipe que protege o seu povo, se levantará. Haverá um tempo de angústia como nunca houve desde o início das nações até então. Mas naquela ocasião o seu povo, todo aquele cujo nome está escrito no livro, será liberto. Multidões que dormem no pó da terra acordarão: uns para a vida eterna, outros para a vergonha, para o desprezo eterno. Aqueles que são sábios reluzirão como o fulgor do céu, e aqueles que conduzem muitos à justiça serão como as estrelas, para todo o sempre.
Daniel, o profeta, estava no exílio na Babilónia. Rodeado de pagãos, mas ele adorava o Senhor, Deus de Israel, e mesmo frente a perseguição e ameaças de morte. Vemos uma passagem apocalíptica, que expressão que normalmente é associada ao fim do mundo. No entanto, a palavra em grego (Αποκάλυψη), quer dizer algo como "revelação". Podemos dizer que aqui Daniel tem uma revelação, que neste caso é acerca do fim dos tempos e do juízo final. Muitos de nós, ao lermos estas passagens, tememos. Porquê? Talvez porque achamos que podemos ser castigados, talvez porque olhamos para a nossa vida e podemos não ser considerados 'sábios' ou 'aqueles que conduzem à justiça', talvez porque identificamos na nossa vida coisas que fizémos sobre as quais temos vergonha e reconhecemos que estão erradas, atitudes que não poderiam ser permitidas num paraíso, atitudes que falharam o objetivo que o Criador tinha para nós, que o deixariam desapontado e talvez até mesmo revoltado, a isso a Igreja chama de pecado. Ouvimos falar em justiça e ouvimos falar do Céu, e pensamos que talvez não somos bons o suficiente para lá entrar, um sítio tão Santo com um Deus tão Santo e nós com tantas coisas erradas, coisas que às vezes parecem demasiado más para serem perdoadas. Não só isto mas percebemos que temos uma tendência persistente para desejar estas coisas. A isto a Igreja chama a Queda do Homem.
O que devemos fazer é muitas penitências e muitas boas ações, pois assim podemos compensar as coisas que fizemos mal e no dia do juízo, perante Deus, ser considerados justos com base nestas coisas, certo? Mas será que conseguimos? Será que é possível com penitências apagar um mal que já foi feito, e será que com boas obras podemos ser Santos? Mais importante, será que com penitências e boas obras, só por nós, conseguimos tornar os nossos corações possíveis de habitar o Céu, eliminando as consequências da Queda do Homem? Eu acho que existe um caminho melhor, que é as Escrituras nos apresentam a seguir:
Dia após dia, todo sacerdote apresenta-se e exerce os seus deveres religiosos; repetidamente oferece os mesmos sacrifícios, que nunca podem remover os pecados. Mas, quando esse sacerdote acabou de oferecer, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à direita de Deus. Daí em diante, ele está esperando até que os seus inimigos sejam como estrado dos seus pés; porque, por meio de um único sacrifício, ele aperfeiçoou para sempre os que estão sendo santificados. O Espírito Santo também nos testifica a esse respeito. Primeiro ele diz: "Esta é a aliança que farei com eles, depois daqueles dias, diz o Senhor. Porei as minhas leis em seu coração e as escreverei em sua mente"; e acrescenta: "Dos seus pecados e iniquidades não me lembrarei mais". Onde esses pecados foram perdoados, não há mais necessidade de sacrifício por eles.
Afinal, oferecer sacrifícios do homem não é suficiente para remover os pecados, mesmo que seja o Sumo Sacerdote a oferecê-los. É preciso algo maior, algo infinito capaz de remover a consequência da ofensa perante um Deus Santo... perante um Pai Amoroso... Porque nós não somos os únicos que ficamos preocupados com o problema do nosso pecado, Deus, que nos ama, e quer viver a Eternidade connosco, preocupa-se ainda mais. O pecado é um problema sério. Querem ver o quão seriamente Deus leva o pecado? Olhem para a cruz! Jesus, o Filho Inocente, oferece-se pelos nosso pecados, removendo de nós a culpa que existia, o medo. A isto chama-se expiação. Assim, podemos chegar perante Ele no dia do juízo e não temer, não porque depositamos a nossa confiança nas nossas obras, mas a depositamos n'Aquele que morreu pelos nossos pecados, e esse nunca pecou e o seu sacrifício foi suficiente, de uma vez por todas! A isto chama-se justificação.
Porque Deus trabalha para a renovação da sua Criação que Ele tanto ama. E como pode a sua Criação agora corrompida viver em comunhão com Ele para sempre? E como pode ele torná-la perfeita sem destruir o pecado? Assim, esta é a solução de Deus: oferece o Seu Filho para destruir o pecado. Mas atrevo-me a dizer que isso não e o propósito de Deus, isso é apenas um meio para atingir o verdadeiro propósito de Deus: manifestar a Sua Glória. E como é que Deus manifesta a Sua Glória? Mostrando o seu atributo de Amor numa relação de comunhão com o Homem, e para isto Ele tem de ser santificado. Pois eis que o Homem tem de ter os seus pecados perdoados para viver para sempre com o seu Pai. E assim se cumpre a promessa de Deus: "Porei as minhas leis em seu coração e as escreverei em sua mente (...) "Dos seus pecados e iniquidades não me lembrarei mais" (Jr 31:33-34).
Neste momento faz todo o sentido introduzir o Salmo:
Salmo - Sl 16
Deus é verdadeiramente o nosso refúgio, pois graças a Ele estamos livres do pecado.Protege-me, ó Deus, pois em ti me refugio.
Evangelho (Mc 13:24-32)
Mas, naqueles dias, após aquela tribulação, 'o sol escurecerá e a lua não dará a sua luz; as estrelas cairão do céu e os poderes celestes serão abalados'. "Então verão o Filho do homem vindo nas nuvens com grande poder e glória. E ele enviará os seus anjos e reunirá os seus eleitos dos quatro ventos, dos confins da terra até os confins do céu. "Aprendam a lição da figueira: Quando seus ramos se renovam e suas folhas começam a brotar, vocês sabem que o verão está próximo. Assim também, quando virem estas coisas acontecendo, saibam que ele está próximo, às portas. Eu asseguro a vocês que não passará esta geração até que todas estas coisas aconteçam. Os céus e a terra passarão, mas as minhas palavras jamais passarão. Quanto ao dia e à hora ninguém sabe, nem os anjos no céu, nem o Filho, senão somente o Pai.
Aqui vemos Jesus, tal como Daniel, a falar do fim dos tempos. E agora pergunto: devemos temer o fim dos tempos? Mas qual o significado do fim dos tempos? O significado do fim dos tempos é a consumação do plano de Deus, é quando ele vem ceifar o que já foi semeado e deu bom fruto. É quando Deus se prepara para concluir o seu programa de restauração da Criação, é quando Deus se prepara para manifestar a Sua Glória. Se caminharmos com Ele, não devemos portanto temer, pois o fim dos tempos é a consumação da Boa Nova anunciada. Devemos é sempre estar vigilantes para ter a certeza que caminhamos com o Senhor quando Ele voltar, pois o dia e a hora nem os anjos do Céu sabem. Deus quer realmente renovar a sua Criação, para manifestar a sua Glória numa relação de Amor e Comunhão com o Homem. Pois Deus ama para manifestar a Sua Glória e manifesta a sua Glória porque ama. Mas e se nós não amarmos Deus? Se nós não formos redimidos? Se os nossos pecados não forem perdoados, não podemos ser regenerados, e se não formos regenerados não podemos ser santificados, e assim não podemos entrar na nova Criação. Temos de ser portanto deixados de fora, vivendo sem Deus e apenas connosco e com os nosso pecados que ainda permanecem, que nos irão atormentar eternamente. Este é o castigo de Deus. Esta é a Ressurreição da vergonha e do desprezo eterno que Daniel falava. A isto a Igreja chama inferno. E não estou aqui a criar a cultura do medo, a dizer as pessoas que se tornem Cristãos por medo do inferno, mas faço esta pergunta: se durante a vida alguém foge de Deus e não quer a sua presença, se prefere o pecado ao perdão e a criatura ao Criador, porque razão essa pessoa deveria esperar que na próxima vida isso mudasse? Parece até bizarro achar que as pessoas que toda uma vida fogem de Deus se devem poder queixar porque não passam a eternidade com Ele. Cada um terá o destino que traçou, e ninguém poderá dizer a Jesus, enquanto contempla as chagas das suas mãos e as feridas do seu lado: "não tentaste que chegue, não me amaste o suficiente".