Certamente que muitos de nós já ouvimos versões deste argumento comum aos novatos na discussão da grande questão que é a existência de Deus. Eu mesmo fiquei sem resposta a primeira vez que tal argumento me foi apresentado por um colega na Universidade! No entanto após fazer uma pequena pesquisa percebi que o argumento era na realidade extremamente fraco e baseado numa grande confusão sobre o conceito de omnipotência.
Este argumento pretende provar que Deus não existe mostrando que existe uma contradição lógica no conceito de Deus, e é formulado da seguinte maneira:
- Se Deus existe, então Ele é omnipotente.
- Se Deus é omnipotente, então Ele pode criar uma pedra tão pesada que nem mesmo Ele a pode erguer.
- Se Deus criar tal pedra, então ele não poderá erguê-la, e portanto não será omnipotente.
- Deus não é omnipotente.
Conclusão: Deus não existe.
Para negarmos este argumento temos de disputar uma das premissas, e é exactamente isso que vamos fazer, disputando a premissa 2 e/ou 3, mas antes disso convém definir o que significa omnipotência, pois aí reside o problema deste argumento.
É um consenso entre teólogos e leigos que Deus é omnipotente, mas o que é que isso significa exactamente? Uma maneira ingénua de definir omnipotência é "ter o poder de fazer literalmente tudo". O problema desta definição é que é incoerente e nem sequer é apoiada pela Bíblia, que afirma que Deus, por exemplo, não pode mentir (Tito 1:2).
Absurdos lógicos como "criar um solteiro casado" ou criar um "quadrado circular" são simplesmente combinações de palavras sem sentido e a omnipotência de Deus não é comprometida por não poder fazer tais absurdos. A definição de omnipotência correcta é simplesmente "poder fazer tudo o que é logicamente possível (coerente)", ou seja, não existe nenhuma acção que Deus não possa fazer por não ter poder suficiente, mas que se fosse mais poderoso poderia fazer.
Note-se que o conceito de omnipotência é a representação do expoente máximo da propriedade "força" ou "poder", portanto é perfeitamente de esperar que a definição correcta para este termo seja precisamente a que dei acima (nenhuma acção lhe é impossível por falta de poder).
Tal como C.S. Lewis escreveu:
“Não é limitativo do Seu poder. Se dissermos que Deus pode dar livre arbítrio a uma criatura, ao mesmo tempo que lho nega, não se conseguiu dizer nada acerca de Deus: um conjunto de palavras sem significado não passa a adquiri-lo apenas porque se juntou como prefixo «Deus consegue»
Cs Lewis -The Problem of Pain
Se a premissa 2 for falsa, então o argumento cai por terra. Mas se admitirmos que a premissa 2 é verdadeira (por uma questão de argumentação), então segue-se que a premissa 3 é falsa, pois erguer uma pedra que por definição não pode ser erguida é logicamente absurdo, não mais que criar um solteiro casado. Em suma, de qualquer maneira, uma das premissas do argumento é falsa e portanto o argumento é refutado.
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