domingo, 25 de janeiro de 2015

Cristo e os Cristãos - Jesus e os Hipócritas

Ghandi disse “Eu gosto do vosso Cristo, eu não gosto dos vossos Cristãos. Os vossos Cristãos são tão diferentes do vosso Cristo.”. Numa série de artigos, pretendo responder a uma objecção comummente levantada por não-Cristãos muitas vezes vindos do Oriente (normalmente muçulmanos), mas por vezes também por ateus/agnósticos Ocidentais:
Será de esperar que aqueles que estão mais próximos de Deus, que recebem o Seu Espírito e têm uma relação de comunhão com Ele se assemelhem a Ele mais do que os pagãos que supostamente estão longe de Deus. Porquê então é que vemos tanta imoralidade nos chamados países Cristãos? Porque vemos tanta ganância, tanta inveja, tanta luxúria, tanta hipocrisia? Se a nossa sociedade é realmente Cristã, se o Deus que existe é o Deus do Cristianismo, que é Amor (1 Jo 4:8), porque razão a nossa sociedade tem tanta injustiça? Os muçulmanos vindos do Oriente, que aceitam (alguns) valores morais que o Cristianismo também aceita, ficam escandalizados ao ver que na nossa sociedade Ocidental vivemos duma maneira bem diferente do que está na Bíblia e nos nossos credos. O agnóstico comum pode ouvir os ensinamentos de Jesus e ver uma grande mensagem de amor e rectidão, no entanto olha para as pessoas que saem da Igreja e apercebe-se que nem uma moeda ao mendigo na rua foram capazes de dar... Basicamente tanto o muçulmano como o ateu concluem que ou os Cristãos são todos uns grandes hipócritas e portanto não querem fazer parte de uma comunidade tão corrupta, ou então que o seu Deus não é assim tão bom e grande como pregam, pois as suas acções não o reflectem.
Se você é um daqueles que faz esta crítica, a primeira coisa que lhe quero dizer é que não está sozinho, pois há 2000 anos viveu um homem que fez a mesma crítica que está a fazer, e talvez ficará surpreendido se lhe disser que o seu nome era... Jesus Cristo! Jesus não veio ao mundo duma maneira fria e distante, Ele realmente envolvia-se nos problemas das pessoas e resolvia-os sempre que ajuda lhe era pedida. Mas Jesus não era simplesmente um “hippie” como algumas pessoas hoje querem fazer parecer, ele criticava e chamava atenção de quem estava em erro, avisando dos perigos desse erro e como voltar para o caminho certo. Um dos problemas que Jesus enfrentava com mais frequência era precisamente a hipocrisia dos líderes religiosos, como se pode observar na seguinte passagem:

“Então falou Jesus à multidão, e aos seus discípulos, dizendo: Na cadeira de Moisés estão assentados os escribas e fariseus. Todas as coisas, pois, que vos disserem que observeis, observai-as e fazei-as; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não fazem; Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; eles, porém, nem com seu dedo querem movê-los;
E fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens; pois trazem largos filactérios, e alargam as franjas das suas vestes e amam os primeiros lugares nas ceias e as primeiras cadeiras nas sinagogas, e as saudações nas praças, e o serem chamados pelos homens; Rabi, Rabi [que quer dizer mestre].” – Mt 23:1-7

Jesus condena os fariseus porque eles, embora preguem a Lei de Moisés (que era a Lei que os Judeus eram comandados por Deus a seguir naquele tempo), não a praticavam, tal como se calhar muitos líderes religiosos hoje (não) fazem. Mas Jesus continua, e depois de uma longa lista de condenação dos comportamentos hipócritas dos fariseus, Jesus diz graficamente:

“Serpentes, raça de víboras! como escapareis da condenação do inferno?
Portanto, eis que eu vos envio profetas, sábios e escribas; a uns deles matareis e crucificareis; e a outros deles açoitareis nas vossas sinagogas e os perseguireis de cidade em cidade.” - Mt 23:33-34

E termina com uma das minhas passagens favoritas em toda a Bíblia, onde demonstra como está revoltado o seu coração com esta situação:

Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste! Eis que a vossa casa vai ficar-vos deserta;
Porque eu vos digo que desde agora me não vereis mais, até que digais: Bendito o que vem em nome do Senhor.” - Mt 23:37-39



Portanto meu amigo, você não está sozinho, Jesus concorda consigo em que a hipocrisia religiosa é um problema. Mas se você é um Cristão, lembre-se, você carrega em si o nome de Cristo, portanto deve viver como Cristo no máximo grau possível, e estes avisos feitos aos fariseus podem ser também para si. Pois Jesus disse: 

“Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.” – Jo 13:35

“Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando.” – Jo 15:14

A citação seguinte é atribuída a algumas pessoas a S. Francisco de Assis, embora seja muito provável que ele nunca a tenha dito, no entanto fica a peça de sabedoria: “Pregue sempre o Evangelho, se necessário, use palavras.”. É óbvio que esta frase é uma hipérbole,mas a ideia é que os seus irmãos só pelo seu comportamento deveriam saber que você pelo menos não era “do mundo”, como Jesus tantas vezes diz, mas que é um seguidor de algo diferente (e melhor). E existem muito mais versos na Bíblia que suportam a ideia de que o verdadeiro Cristão é aquele que demonstra os seus actos a sua fé, como por exemplo:

Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia; e a misericórdia triunfa do juízo.  Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo? E, se o irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem falta de mantimento quotidiano. E algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos, e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí? Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma. Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.
Tu crês que há um só Deus; fazes bem. Também os demónios o crêem, e estremecem. Mas, ó homem vão, queres tu saber que a fé sem as obras é morta? - Tg 2:13-20


Tiago deixa ficar bem claro que os Cristãos não são comandados por Deus a apenas “lançar bênçãos para o ar” e palavras bonitas e sábias, mas também a tomar acção, pois Jesus também disse  que “por seus frutos os conhecereis.” (Mt 7:16).  Mera crença e fé morta não adiantam de nada ao ser humano, pois até os demónios acreditam mas não são “amigos de Deus”, pois desobedecem. Em certo sentido, o pecado do crente é maior do que o do não crente, pois nós, os crentes temos a verdade, e alguns dos não crentes não têm, por isso é que Jesus diz:

“A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito mais será pedido.” – Lc 12:48

Jesus também reflecte esta realidade de que somos comandados para ser bons  para com os outros e não hipócritas na parábola das ovelhas e das cabras (Mt 25:31-46).

É importante compreender uma coisa essencial, e foi por isso que coloquei aqui tantas passagens da Bíblia: o verdadeiro Jesus não é dado a conhecer pelos testemunhos dos pastores, padres, papas, crentes ou não-crentes, Ele começa a ser conhecido ao ler a Bíblia e depois através do testemunho do Espírito Santo, que está hoje no mundo. Portanto se você quer investigar o Cristianismo não comece por olhar primariamente para os comportamentos de quem vai à igreja ao Domingo mas antes por olhar para os comportamentos de Jesus Cristo. E é claro depois de ler estas passagens que Ele realmente se preocupava e indignava com o facto de muita gente em palavras ser um discípulo mas não em acções.

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