Ghandi disse “Eu gosto do vosso
Cristo, eu não gosto dos vossos Cristãos. Os vossos Cristãos são tão diferentes
do vosso Cristo.”. Numa série de artigos, pretendo responder a uma objecção
comummente levantada por não-Cristãos muitas vezes vindos do Oriente
(normalmente muçulmanos), mas por vezes também por ateus/agnósticos Ocidentais:
Será de esperar que aqueles que
estão mais próximos de Deus, que recebem o Seu Espírito e têm uma relação de
comunhão com Ele se assemelhem a Ele mais do que os pagãos que supostamente
estão longe de Deus. Porquê então é que vemos tanta imoralidade nos chamados
países Cristãos? Porque vemos tanta ganância, tanta inveja, tanta luxúria,
tanta hipocrisia? Se a nossa sociedade é realmente Cristã, se o Deus que existe
é o Deus do Cristianismo, que é Amor (1 Jo 4:8), porque razão a nossa sociedade
tem tanta injustiça? Os muçulmanos vindos do Oriente, que aceitam (alguns)
valores morais que o Cristianismo também aceita, ficam escandalizados ao ver
que na nossa sociedade Ocidental vivemos duma maneira bem diferente do que está
na Bíblia e nos nossos credos. O agnóstico comum pode ouvir os ensinamentos de
Jesus e ver uma grande mensagem de amor e rectidão, no entanto olha para as
pessoas que saem da Igreja e apercebe-se que nem uma moeda ao mendigo na rua
foram capazes de dar... Basicamente tanto o muçulmano como o ateu concluem que
ou os Cristãos são todos uns grandes hipócritas e portanto não querem fazer
parte de uma comunidade tão corrupta, ou então que o seu Deus não é assim tão
bom e grande como pregam, pois as suas acções não o reflectem.
Se você é um daqueles que faz
esta crítica, a primeira coisa que lhe quero dizer é que não está sozinho, pois
há 2000 anos viveu um homem que fez a mesma crítica que está a fazer, e talvez
ficará surpreendido se lhe disser que o seu nome era... Jesus Cristo! Jesus não
veio ao mundo duma maneira fria e distante, Ele realmente envolvia-se nos
problemas das pessoas e resolvia-os sempre que ajuda lhe era pedida. Mas Jesus
não era simplesmente um “hippie” como algumas pessoas hoje querem fazer
parecer, ele criticava e chamava atenção de quem estava em erro, avisando dos
perigos desse erro e como voltar para o caminho certo. Um dos problemas que
Jesus enfrentava com mais frequência era precisamente a hipocrisia dos líderes
religiosos, como se pode observar na seguinte passagem:
“Então falou Jesus à multidão, e aos seus discípulos, dizendo: Na
cadeira de Moisés estão assentados os escribas e fariseus. Todas as coisas,
pois, que vos disserem que observeis, observai-as e fazei-as; mas não procedais
em conformidade com as suas obras, porque dizem e não fazem; Pois atam fardos
pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; eles, porém,
nem com seu dedo querem movê-los;
E fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens; pois trazem
largos filactérios, e alargam as franjas das suas vestes e amam os primeiros
lugares nas ceias e as primeiras cadeiras nas sinagogas, e as saudações nas
praças, e o serem chamados pelos homens; Rabi, Rabi [que quer dizer mestre].” –
Mt 23:1-7
Jesus condena os fariseus porque
eles, embora preguem a Lei de Moisés (que era a Lei que os Judeus eram
comandados por Deus a seguir naquele tempo), não a praticavam, tal como se
calhar muitos líderes religiosos hoje (não) fazem. Mas Jesus continua, e depois
de uma longa lista de condenação dos comportamentos hipócritas dos fariseus,
Jesus diz graficamente:
“Serpentes, raça de víboras! como escapareis da condenação do inferno?
Portanto, eis que eu vos envio profetas, sábios e escribas; a uns deles
matareis e crucificareis; e a outros deles açoitareis nas vossas sinagogas e os
perseguireis de cidade em cidade.” - Mt 23:33-34
E termina com uma das minhas
passagens favoritas em toda a Bíblia, onde demonstra como está revoltado o seu
coração com esta situação:
Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são
enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta
os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste! Eis que a vossa casa vai
ficar-vos deserta;
Porque eu vos digo que desde agora me não vereis mais, até que digais:
Bendito o que vem em nome do Senhor.” - Mt 23:37-39
Portanto meu amigo, você não está
sozinho, Jesus concorda consigo em que a hipocrisia religiosa é um problema.
Mas se você é um Cristão, lembre-se, você carrega em si o nome de Cristo,
portanto deve viver como Cristo no máximo grau possível, e estes avisos feitos
aos fariseus podem ser também para si. Pois Jesus disse:
“Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns
aos outros.” – Jo 13:35
“Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando.” – Jo 15:14
A citação seguinte é atribuída a
algumas pessoas a S. Francisco de Assis, embora seja muito provável que ele
nunca a tenha dito, no entanto fica a peça de sabedoria: “Pregue sempre o
Evangelho, se necessário, use palavras.”. É óbvio que esta frase é uma
hipérbole,mas a ideia é que os seus irmãos só pelo seu comportamento deveriam saber
que você pelo menos não era “do mundo”, como Jesus tantas vezes diz, mas que é
um seguidor de algo diferente (e melhor). E existem muito mais versos na Bíblia
que suportam a ideia de que o verdadeiro Cristão é aquele que demonstra os seus
actos a sua fé, como por exemplo:
Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia;
e a misericórdia triunfa do juízo. Meus irmãos, que aproveita se alguém disser
que tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo? E, se o
irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem falta de mantimento quotidiano. E
algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos, e fartai-vos; e não lhes
derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí? Assim
também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma. Mas dirá
alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas
obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.
Tu crês que há um só Deus; fazes bem. Também os
demónios o crêem, e estremecem. Mas, ó homem vão, queres tu saber que a
fé sem as obras é morta? - Tg 2:13-20
Tiago deixa ficar bem claro que
os Cristãos não são comandados por Deus a apenas “lançar bênçãos para o ar” e
palavras bonitas e sábias, mas também a tomar acção, pois Jesus também disse que “por seus frutos os conhecereis.” (Mt 7:16).
Mera crença e fé morta não adiantam de
nada ao ser humano, pois até os demónios acreditam mas não são “amigos de Deus”,
pois desobedecem. Em certo sentido, o pecado do crente é maior do que o do não
crente, pois nós, os crentes temos a verdade, e alguns dos não crentes não têm,
por isso é que Jesus diz:
“A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi
confiado, muito mais será pedido.” – Lc 12:48
Jesus também reflecte esta
realidade de que somos comandados para ser bons
para com os outros e não hipócritas na parábola das ovelhas e das cabras
(Mt 25:31-46).
É importante compreender uma
coisa essencial, e foi por isso que coloquei aqui tantas passagens da Bíblia: o
verdadeiro Jesus não é dado a conhecer pelos testemunhos dos pastores, padres,
papas, crentes ou não-crentes, Ele começa a ser conhecido ao ler a Bíblia e
depois através do testemunho do Espírito Santo, que está hoje no mundo.
Portanto se você quer investigar o Cristianismo não comece por olhar
primariamente para os comportamentos de quem vai à igreja ao Domingo mas antes
por olhar para os comportamentos de Jesus Cristo. E é claro depois de ler estas
passagens que Ele realmente se preocupava e indignava com o facto de muita
gente em palavras ser um discípulo mas não em acções.
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