Depois de ter discutido neste artigo a questão de se Portugal é realmente um país Cristão, gostaria de explorar um dos aspectos que podemos mudar dentro da própria Igreja (seja qual for a denominação).
Em primeiro lugar devemos lembrar-nos que o Cristianismo não é apenas uma filosofia de vida, mas também afirma acontecimentos históricos passados (morte e Ressurreição de Jesus, milagres, vida dos profetas como Abraão e Moisés, etc), futuros (Ressurreição geral, julgamento final, etc), bem como afirmações metafísicas (Deus existe, anjos e demónios são reais, o homem tem um espírito, etc.) e morais (a realidade do pecado, a virtude da misericórdia, os mandamentos, etc). É portanto importante que todo aquele que se auto-denomina Cristão se instrua nestas verdades, até porque sem elas torna-se difícil compreender certos aspectos da filosofia de vida Cristã (por exemplo, se não há Ressurreição, como posso não temer a morte?) ou para compreender mesmo pontos centrais na mensagem (por exemplo, se não há pecado nem julgamento, então porque chamo a Jesus meu Salvador se eu não preciso de ser salvo de nada?)...
Para além de todos estes importantes pontos, é preciso que o Cristão, que tem a missão de ser um pequeno Cristo, compreenda quem é Cristo e qual é a mensagem do Evangelho, que é resumida por São Paulo como sendo: que Cristo morreu pelos nossos pecados e Ressuscitou (1 Cor 15:3-4), consulte este artigo para uma exposição mais completa de qual é a mensagem central do Evangelho. Várias questões aparecem: porque preciso que alguém morra pelos meus pecados, quais são os meus pecados, porque não poderia outro qualquer ter morrido pelos meus pecados, etc.
Não pretendo com isto dizer que é preciso compreender todo este sistema na perfeição para ser um verdadeiro Cristão! Se assim fosse não haveria Cristãos no mundo, pois ninguém sabe tudo, já para não falar daqueles que sem culpa própria não receberam a instrução certa. No entanto, estar confiante das afirmações Cristãs oferece ao Cristão muitas bênçãos e benefícios: estará mais confiante na sua Fé, compreenderá melhor os mistérios da Salvação, e talvez o mais importante, estará melhor equipado para expor ao seu irmão a mensagem do Evangelho de uma maneira coerente, basicamente permite ter uma Fé madura.
Onde quero chegar é ao seguinte: se nós somos Cristãos e se temos uma mensagem, que tem certos aspectos centrais e outros menos centrais porque razão gastamos a maioria do nosso tempo a discutir assuntos secundários? Que assuntos? Aborto, celibato dos padres, casamento gay, eutanásia, ordenação dos padres, etc. são assuntos importantes e onde os Cristãos devem mostrar a sua opinião, mas não são o centro da mensagem do Evangelho, até porque diversas denominações Cristãs pois vezes não concordam entre si sobre alguns destes assuntos (por exemplo na Igreja Protestante não há celibato mas na Católica há). Qualquer pagão pode ser contra o aborto, contra o casamento gay, contra a eutanásia, etc. mas um pagão não pode proclamar a Salvação e o trabalho de Cristo (pois caso contrário seria um Cristão!).
O problema é que se assemelhamos ao homem que quer construir o telhado da sua casa sem primeiro construir as paredes. Como podemos exigir à nossa sociedade que siga a moral correcta, se ela não conhece Aquele que é responsável pelas verdades morais? Para a sociedade seguir os mandamentos de Deus é preciso que primeiro conheça Deus, e portanto temos de primeiro mostrar à sociedade quem é Deus, como? Mostrando-lhes o Seu Filho Jesus Cristo (Jo 14:7), que nos amou e deu a sua vida por nós sem pedir nada em troca. E como vamos nós ensinar aos nossos irmãos quem é Cristo se primeiro nós não soubermos quem Ele é? Para sabermos quem Ele é devemos ler a Bíblia, que é a Sua Palavra, orar, que é a nossa forma de falar com Ele, e seguir os seus mandamentos, para que Ele permaneça em nós (Jo 15:10).
( quadro de Harry Anderson, onde mostra a indiferença do povo perante a pregação de Noé)
O facto de que nos testes estatísticos que se fazem sobre as crenças mostram uma maioria Cristã mas uma minoria a crer nas ideias Cristãs mostra que nós, os professores, estão a fazer um mau trabalho, e que talvez também os alunos não estudem o suficiente. Talvez seja fácil para muitos se lembrarem do que a Igreja ensina sobre o aborto, sobre quando é que não se deve comer carne, sobre a eutanásia, sobre as uniões gays, sobre o casamento e o divórcio, mas será que se um dia encontrassem um irmão que lhes perguntasse: "Quem é Jesus e qual a mensagem do Evangelho?", saberiam responder de uma forma confiante e Bíblica? Se não então algo está errado, pois essa deveria ser a primeira resposta que deveríamos saber de cor!
O meu apelo é que não sejamos conhecidos na sociedade por aqueles que se opõem ao aborto, ou ao casamento gay, etc. Mas antes devemos ser conhecidos por aqueles que crêem na mensagem de Cristo, e que a sociedade ao menos saiba que mensagem é esta. E que nos concentremos os nossos sermões, catequeses, palestras, participação na comunicação social etc. para divulgar esta mensagem e termos a certeza que pelo menos os membros da nossa comunidade saibam melhor a razão pela qual se levantam cedo para celebrar aos Domingos de manhã. Com esta base forte, o resto seguirá.
Se você é daqueles que gostaria de ter esta resposta essencial na ponta da língua, então recomendo que leia a Bíblia com atenção e leia o meu artigo neste blogue sobre a mensagem central do Evangelho. Mas se você é daqueles que considera ter uma boa ideia de qual é a mensagem do Evangelho, lembre-se que você é então responsável por fazer com que estes irmãos mais pequeninos a saibam também, e se é um pastor, padre, ou catequista, a sua responsabilidade aumenta, pois "a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá" (Lc 12:48).