O tema desta semana é o
compromisso: Deus não deseja Cristãos “nominais”, ou seja, que
apenas se auto-intitulam Cristãos mas não o seguem, nem deseja um
acordo só de palavras mas sem acções. Deus quer um verdadeiro
compromisso, mas que tal seja possível, dá também ao Homem a
liberdade de o assumir ou não.
Começamos com uma
leitura do livro de Josué, o sucessor de Moisés, já depois do
Senhor ter libertado os Filhos de Israel do domínio do Faraó. Após
Josué apresentar ao povo de Israel a escolha que Deus lhes oferece
(tal como em outros locais da Bíblia como Dt 30:15),
o povo apresenta a libertação da escravatura como sendo a razão
porque escolhem o Senhor, no entanto rapidamente se apercebemos que
muitos deles foram como aquele filho que disse ao seu pai que ia
trabalhar para a sua vinha, mas não foi (Mt 21:28-32).
É verdade que a libertação da escravidão foi um grande trabalho
de Deus, e que foram realizados grandes milagres, mas Jesus
liberta-nos da escravidão espiritual e de Satanás, algo muito mais
severo que a escravidão do Faraó. Podemos viver como escravos no
Egipto toda a nossa vida, mas livres do pecado espera-nos Deus e a
vida eterna, mas se vivermos livres do Faraó e sem Deus mas apenas
com os nossos pecados, então o que nos espera é precisamente isso:
uma eternidade sem Deus e a sós com os nossos pecados, e a
consciência de quão eles foram graves perante o Juiz do Mundo.
Muitas vezes damos mais valor a coisas terrenas, mas lembre-mo-nos das
palavras de Jesus: “Pois qual é mais fácil? dizer: Perdoados são
os teus pecados, ou dizer: Levanta-te e anda?”. Que hoje sejamos
como Josué e escolhamos servir o Senhor, e que saibamos que a
Salvação de Jesus ainda foi maior que a de Moisés.
Salmo - Sl 34
No Salmo podemos observar
que o Senhor é fiel aqueles que em si procuram refúgio (v. 22), e portanto
podemos estar sempre seguros nele, por muito grandes que sejam os
nosso pecados (Is 1:18).
Mais uma vez vemos que aquele que escolhe não estar em comunhão com
Deus (o que só é possível com um compromisso), esse terá de lidar
com os seus próprios pecados.
Segunda Leitura - Ef 5:21-32
Sendo que já dediquei
dois artigos ao feminismo (que pode ler aqui e aqui), gostaria de
apenas brevemente referir que este texto não deve ser considerado
misógino: Deus apenas idealiza que exista na família um líder, e
escolheu que deve ser o homem. No entanto esta liderança não é
opressiva para a mulher e não faz o homem superior à mulher, dá
sim ao homem mais responsabilidade. É muito interessante também
ver como o apóstolo compara o compromisso do aliança que é o
casamento com o compromisso da aliança que é a fé, e tal pode ser
sumariado no lema da aliança: “eu sou teu e tu és meu”. Pode
ler mais sobre as alianças de Deus e a sua relação com o casamento
aqui.
Evangelho - Jo 6:60-69
É preciso compreender a
razão pela qual os judeus se escandalizavam com Jesus: de acordo com
a lei de Moisés (que é também a palavra de Deus), os judeus não
podem beber sangue (Lv 17:10-11), mas Jesus diz-lhes que eles têm de
beber o seu sangue e comer a sua carne para terem a vida eterna.
Podemos entender o beber o sangue de Jesus como uma metáfora para
uma comunhão forte com Ele, no entanto os patriarcas da Igreja
também afirmavam que no pão e no vinho o Senhor estava realmente
presente, e que ali tínhamos a sua carne e o seu sangue (pode
encontrar algumas dessas citações neste link),
no entanto é verdade que noutras ocasiões estes também recorriam à
interpretação metafórica em certas passagens. Penso que o que
devemos aprender é que o compromisso com Jesus é realmente
importante, e que a Seia do Senhor foi uma das maneiras que Jesus
escolheu para estarmos em maior comunhão com Ele, não a podendo
menosprezar qualquer que seja a nossa Teologia.
Vemos que Jesus também
faz uma observação que pode deixar os mais atentos um pouco
perplexos: “É por isso que vos disse: ninguém pode vir a mim, a
não ser que lhe seja concedido pelo Pai”, o que poderia significar
que Deus não tinha concedido àqueles judeus se converterem por
razões exteriores a si mesmos. Alguns Cristãos tomaram esta posição
ou semelhantes, sendo o exemplo mais notável Calvino. Não tomando
eu essa posição, gostaria de lembrar a todos que sem a graça de
Deus é impossível ao homem chegar a Ele. A questão é: porque é
que a estes judeus não foi permitido pelo Pai chegarem ao Filho?
Penso que foi precisamente porque estes tinham dado ao Pai um
compromisso de palavras mas que o seu coração estava longe (Mt 15:8),
eles tinham escolhido endurecer o seu coração e resistir ao
Espírito (Is 65:2; Act 7:51).
Talvez para nós beber o
sangue de Jesus não seja duro de ouvir, mas e quando Jesus trouxer
palavras duras um dia para nós? Quando nos alertar dos nosso
pecados, quando nos pedir para o afirmarmos frente a multidões
hostis, ou talvez quando denunciar a nossa imoralidade sexual ou
ganância? Lembre-mo-nos que um pai disciplina aqueles que ama (Pr3:12). E se muitos forem embora e Jesus perguntar: “Vós também
vos quereis ir embora?”, que nós não nos fiquemos por responder
“A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna.",
pois Jesus não é de louvar apenas porque não há outro, Ele é de
louvar porque não poderia haver outro melhor, pois é impossível
ser mais Santo que o Santo de Deus.