Quero aproveitar esta semana para tocar num assunto sensível a Católicos e Protestantes: a devoção Mariana. Muitos dos Cristãos Portugueses são Católicos, e muitos também crêem no milagre de Fátima, sendo imensamente devotos à virgem Maria. A Igreja Católica celebra esta semana a Ascenção da Virgem Maria aos Céus, algo que todos os Católicos são obrigados a acreditar por ter sido um dogma proclamado "ex cathedra" pelo Papa Pio XII em 1950, que pode encontrar aqui. Vou tentar responder às seguintes perguntas:
- Será que Santos "pisa o risco" da idolatria?
- Fará sentido a nossa salvação depender da crença num dogma como a Assunção?
Consideremos as leituras:
Aqui lemos como uma mulher dá à luz um Filho, que vence o demónio. O livro do Apocalipse é sempre difícil de interpretar, mas parece claro que este Filho é Cristo. No entanto a pergunta permanece: quem é a mulher? Católicos dizem que é a Virgem Maria, a Mãe de Jesus, no entanto Protestantes afiram que a mulher é a Igreja. A realidade é que ambas as interpretações fazem sentido: realmente Maria deu à luz Jesus, a Palavra de Deus, tal como a Arca da Aliança antiga continha as palavras de Deus inscritas nas tábuas da Lei (Ex 16:25). O mesmo acontece no salmo, onde a Rainha pode ser Maria ou a Igreja (a esposa do Rei). Mas também é verdade que a Igreja foi perseguida por Satanás e Deus lhe preparou um lugar. Não tentarei resolver esta disputa aqui, pois isso exigiria uma série de artigos dedicados apenas a esta passagem! Mas talvez o leitor tenha hoje conhecido uma interpretação diferente da que está acostumado.
Aqui lemos uma das mais belas passagens da Bíblia, uma que também merece uma análise maior do que a que aqui vou expor, sendo que a promessa de Salvação é especialmente optimista ao lermos o apóstolo escrever "Pois, da mesma forma que em Adão todos morrem, em Cristo todos serão vivificados", embora Jesus tenha avisado várias vezes que alguns, infelizmente, se perderão (Lc 13:23-24). No entanto esta passagem de Coríntios mostra que podemos enfrentar o futuro com esperança, que a morte será vencida, e que a morte em Adão não é mais forte que a vida em Cristo. Esta passagem mostra que Jesus é tão bondoso e poderoso que a única coisa que nos pode separar do Reino dos Céus é a nossa escolha de o rejeitarmos.
No Evangelho lemos o célebre anuncio do anjo a Maria, que é descrita como "bendita" e "mãe do meu Senhor". Vemos também a humildade de Maria, que reconhece que é graças a Deus que ela pode receber os louvores que ainda hoje recebe. Maria recorda um tema recorrente na Bíblia: a maneira como Deus não se esquece das suas promessas, e Jesus é precisamente o culminar de todas estas promessas.
É claro que Maria não é um ser humano qualquer, ela era realmente uma serva fiel de Deus, bendita e bem-aventurada, era o que costumamos chamar, uma Santa. Devemos certamente honrar a Mãe do Nosso Senhor, mas não existirão certos exageros por este mundo fora? Lembre-mo-nos de que quem salva é Jesus, e não os santos. É a Ele que devemos a nossa devoção. Infelizmente vemos muitas vezes pessoas adorarem os Santos como quem adora a Deus, e sabemos que Deus não permite isto, sendo o pecado conhecido como idolatria (Lv 19:14), e até mesmo o escritor do Apocalipse caiu no erro de adorar a um que não Deus (Ap 19:9-10). A Igreja Católica introduz uma diferença útil nesta discussão: enquanto nós adoramos a Deus (latria), nós apenas honramos (dulia) os santos. Santo Agostinho escreveu o seguinte:
Ninguém no altar da sepultura dos Santos diz: "Trazemos para ti uma oferta Ó Pedro!", "Ó Paulo" ou "Ó Cipriano!". A oferta é feita apenas a Deus, que deu a coroa do martírio, enquanto que é em memória daqueles assim coroados. A emoção aumenta pelas associações de lugar, e o amor é excitado sobre os que são os nossos [bons] exemplos, bem como Aquele cuja ajuda nos permite servir tais exemplos. Nós encaramos os mártires como a mesma afecção intima que sentimos em relação a homens santos de Deus nesta vida, quando sabemos que os seus corações estão preparados para passar o mesmo sofrimento pela verdade do evangelho. Há mais devoção no nosso sentir para com os mártires, pois sabemos que o seu conflito terminou; e podemos falar com maior confiança em louvor àqueles já vitoriosos no Céu que daqueles que ainda aqui combatem. O que é propriamente adoração divina, que os Gregos chamam de latria, e para a qual não há palavra em latim, tanto em doutrina como em prática, nós apenas oferecemos a Deus. A esta adoração pertence a oferta de sacrifícios; como vemos na palavra idolatria [ido de ídolo e latria de adoração], que significa oferecer esta adoração aos ídolos. Desta forma não oferecemos, nem requeremos que ninguém ofereça, sacrifícios a um mártir, ou a uma alma santa, ou a algum anjo.
Contra Fausto, Livro XX, secção 21; NPFF 1, Vol. IV
E sendo este o Domingo da celebração da Assunção da Virgem Maria, independente de acreditar ou não, parece-me um exagero que alguma denominação Cristã excomungue um fiel seu por duvidar de algo que apenas foi definido quase 1900 anos depois de alegadamente ter acontecido. É claro que aqui estão outros dogmas subjacentes, como a Infalibilidade do Papa, que no entanto também considero errado, e ainda mais exagerado por todo aquele que não nele crer ser excomungado de acordo com o Concílio Vaticano I, mas não quero fazer deste artigo uma crítica à doutrina Católica da infalibilidade do Magistério e das suas pesadas penas. Em suma é isto que quero transmitir:
- Maria foi uma grande serva de Deus e devemos honrá-la.
- Se você é um protestante fiel a Deus e a nossa Senhor Jesus Cristo e embora valorize os santos, não presta veneração, certamente que isso não o afastará do reino dos Céus.
- Se você é Católico, lembre-se das distinções que a própria Igreja Católica faz, bem como as do seu mais influente teólogo e Doutor da Igreja, Santo Agostinho, e não se deixe cair em idolatria, lembrando-se que Jesus é que salva e que aos santos devemos honrar mas não adorar.
- Examine também a rígida doutrina da infalibilidade Papal e das penas de excomunhão por não acreditar em certos dogmas que não se relacionam directamente com a Salvação. Você acha que um irmão protestante fiel a Jesus deixa de ser um Cristão e é expulso da Igreja Universal por não crer na Assunção ou na infalibilidade do Papa?
- Investigue as escrituras e o que disseram os patriarcas da Igreja para saber mais sobre este assunto complexo da veneração dos santos.
Em Cristo
Sem comentários:
Enviar um comentário