terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Argumento Teleológico

Ao escrever um artigo sobre o argumento teleológico, penso que é minha obrigação explicar o que quero dizer com tal termo. Podemos dizer que a teleologia é o estudo das finalidades, do grego τέλος (télos). O argumento teleológico basicamente pretende demonstrar que o Universo foi desenhado para a existência de vida, ou seja, era este o seu fim. 
É um facto científico de que para que a vida possa existir é necessário que certas quantidades e constantes da natureza se apresentem num balanço extremamente preciso, a isto chamamos "fino timbre", em inglês "fine-tuning". Isto não é apenas uma teoria remota que os teólogos trouxeram, mas é confirmada pelos mais avançados estudos na área da física, como diz o prestigiado físico Paul Davies:

"Existe agora um acordo geral entre físicos e cosmologistas de que o Universo está em vários aspectos "bem afinado" para a [existência de] vida." - Davies (2003). "How bio-friendly is the universe".

E claro, provavelmente o mais famoso físico do mundo, Stephen Hawking diz:

"As leis da natureza, como as conhecemos presentemente, contêm muitos números fundamentais, como  valor da carga eléctrica do electrão e a razão entre as massas do protão e do electrão... O facto notável é que os valores destes números parecem ter sido finamente ajustados para fazer possível o desenvolvimento de vida." - Stephen Hawking, 1988. A Brief History of Time,Bantam Book, p125

O grande desacordo entre ateus e teístas não é a a existência ou não do chamado fino timbre na natureza, mas sim a explicação desse fenómeno.




Que explicação poderá existir então? Talvez os que observamos sejam os únicos compatíveis com as leis da natureza, e portanto os valores são os observados por necessidade física. Se tal não for verdade então ou as constantes são estas por um processo aleatório, ou foram determinadas por um algum agente. Podemos então enunciar a seguinte premissa:

1. O timbre fino do Universo é devido a necessidade física, acaso, ou design.

Consideremos a primeira possibilidade: necessidade física. Note-se que esta possibilidade é muito implausível sendo que as constantes e quantidades de que falamos são independentes das leis da natureza que conhecemos hoje. A nossa melhor teoria neste momento, a teoria M ou de super-cordas prevê que existem certa de 10500 "universos possíveis" consistentes com as nossas leis da física actuais, o que mostra que as constantes actuais não são as únicas compatíveis com as leis da natureza, logo necessidade física é uma alternativa implausível.



E em relação à segunda possibilidade, o que podemos dizer? Será razoável supor que tivemos realmente muita, muita sorte? Que por mero acaso as constantes e quantidades são as que vemos? A resposta é não assim que considerarmos as probabilidades ínfimas que estamos a considerar. Para ter apenas uma ideia, note-se que o número de segundos que passou desde o início do Universo é cerca de 1020 e o número de células no nosso corpo é 1014. Com estes números em mente considere-se o seguinte:

Se alterássemos a constante cosmológica em 1 parte em 10120 partes, o Universo ir-se-ia espalhar de forma demasiado rápida ou demasiado lenta, e a vida seria impossível. Mas se este número (1 seguido de 120 zeros) não é suficientemente monstruoso, considere o seguinte: se alterássemos a distribuição da massa e da energia do Universo em uma parte em 10^10123 partes, mais uma vez não haveria vida. Este último número mostra uma probabilidade (muitos) biliões de vezes inferior à de um macaco escrevendo ao acaso num computador, reproduzir o Hamlet, de Shakespeare, à primeira tentativa (cerca de 1 em 4.4 × 10360,783). É óbvio então que o acaso é uma explicação extraordinariamente implausível.

Chegamos à segunda premissa do argumento:

2. O fino timbre do Universo não se deve nem a necessidade física nem ao acaso.

E portanto a conclusão segue trivialmente: O fino timbre do Universo deve-se a design, havendo portanto um designer, a que chamamos Deus.

domingo, 7 de dezembro de 2014

Podemos confiar na Bíblia? - Fiabilidade Textual

Estamos no tempo do Advento, em que se preparamos para a chegada do Senhor, mas porque devemos nós confiar na mensagem Bíblica? Neste primeiro artigo começarei por examinar as questões que se prendem com a fiabilidade textual do Novo Testamento.

Certos eventos relatados na Bíblia são quase Universalmente aceites como terem acontecido,  mesmo pelos historiadores mais cépticos. Entre estes eventos está por exemplo a crucificação de Jesus, como diz o famoso historiador céptico Bart Ehrman, em várias das suas obras:

“De qualquer forma, o relato de Tácito confirma o que sabemos de outras fontes , que Jesus foi executado por ordem do Governador da Judeia, Pôncio Pilatos.” -  Bart Ehrman, The New Testament: A Historical Introduction to the Early Christian Writings, Oxford University Press, 2000], p. 197

O que eu penso que podemos dizer com alguma confiança é que Jesus realmente morreu, ele provavelmente foi sepultado, e que alguns dos seus discípulos afirmam tê-lo visto vivo posteriormente. De entre aqueles que fazem esta afirmação, interessantemente estava o próprio irmão de Jesus, Tiago, que veio a acreditar em Jesus e pouco tempo depois se tornou um dos principais líderes da igreja Cristã primitiva.” - Bart Ehrman, Jesus, Apocalyptic Prophet of the New Millennium, [Oxford University Press US, 1999], p.229

No entanto existem outros acontecimentos, os chamados de mais fantásticos como os milagres, que estes autores descredibilizam. Irei dedicar um artigo inteiro a discutir a Ressurreição, mas neste quero apenas focar-me na Bíblia em geral: porque devemos ter alguma confiança nesta colecção de livros escritos ao longo de séculos e cujos mais recentes têm perto de 2000 anos de idade?

Em primeiro lugar, nós temos boa evidência de que o texto não foi corrompido. Talvez o leitor pense que os manuscritos mais antigos que temos são muito recentes e poderiam facilmente ter sido forjados pela Igreja na Idade Média ou até mesmo quando no tempo de Constantino Roma se converteu, mas isto não é verdade. Note-se que possuímos neste momento cerca de 24000 cópias de manuscritos do Novo Testamento, e como se isso não bastasse temos também em nossa posse aproximadamente 86000 citações pelos primeiros Cristãos. Mesmo que não possuíssemos nenhum manuscrito do Novo Testamento, apenas com base em citações ao longo de 150-200 da Igreja Primitiva seria possível reconstruir todo o Novo Testamento, com excepção de apenas 11 versos!

Podemos pensar que as variações entre estes textos são de grande proporção. Isso é verdade em número mas não em qualidade: existem cerca de 150000 variações, no entanto 99% destas são insignificantes, como troca na ordem de palavras (exemplo escrever Jesus Cristo ao invés de Cristo Jesus) ou desaparecimento de uma letra (por exemplo escrever “letr” em vez de “letra”) sem que se altere o significado do texto.

Quando existem realmente variações maiores, estas nunca tocam em nenhuma doutrina essencial do Cristianismo, como a divindade de Cristo ou a Ressurreição, nem em nenhum mandamento essencial.
Mas talvez o leitor neste momento se esteja a perguntar: “muito bem, eu não sei muito sobre o método histórico e não tenho noção de se estes números para a Bíblia indicam ou não um texto histórico fiável, quero saber como se sai a Bíblia em comparação com outros textos históricos antigos”. Fico muito contente se o leitor estiver neste momento a considerar esta questão, pois Deus criou o mundo de tal forma que a Sua Palavra é realmente o texto histórico mais fiável que temos, com números que nem se comparam com os de outros documentos!

Observe a seguinte tabela (Josh McDowell, Evidências que provam um veredito, Thomas Nelson Publishers, 1999):


Repare-se bem na esmagadora superioridade do Novo Testamento contra os textos seculares, não em cópias, mas também em número de manuscritos!

Concluímos assim que temos boas evidências de que os textos do Novo Testamento que chegam hoje aos nossos dias estão muito perto (ou idênticos), àqueles que foram escritos originalmente. Mas será isto suficiente para crermos na Bíblia? O próximo artigo oferecerá a resposta a essa questão.

Note-se que algumas das informações e ideias usadas neste artigo foram retiradas das seguintes fontes:


sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

O Cristão e a tragédia Ferguson

Se tem estado a par das notícias mais recentes sobre o mundo, com certeza que está ciente da tragédia em Ferguson, nos EUA: um jovem de 18 anos, de nome Daniel Brown, foi alvejado por um polícia no passado dia 9 de Agosto, recentemente soube-se que não vai haver acusação contra o polícia, o que desencadeou uma onda enorme de protestos.  
Em primeiro lugar, que fique bem claro que não me compete a mim julgar se o polícia é ou não culpado, e para além disso não tenho informação suficiente sobre os detalhes do caso. Mas mesmo que os tivesse, e possuísse uma opinião muito bem formada sobre quem "tem razão" não o iria expor neste blogue, porque o propósito deste blogue simplesmente não é esse. 

No entanto quero utilizar este caso para transmitir certos princípios Cristãos ao leitor:

1. Para o Cristão, existe igualdade entre seres Humanos de todas as raças

Começando pelos Génesis, Deus cria o Homem à sua imagem, não fazendo diferença entre raças (Gn 1:27), e isso é reafirmado no tempo de Moisés: "Pois o SENHOR vosso Deus é o Deus dos deuses, e o Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e terrível, que não faz acepção de pessoas, nem aceita recompensas;" (Dt 10:17). 

São Pedro diz-nos nos Actos dos Apóstolos: "Então Pedro começou a falar: "Agora percebo verdadeiramente que Deus não trata as pessoas com parcialidade, mas de todas as nações aceita todo aquele que o teme e faz o que é justo." (Act 10:34-35).

Também São Paulo, o apóstolo dos gentios (não judeus) diz: "Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus." (Gl 3:28); "Onde não há grego, nem judeu, circuncisão, nem incircuncisão, bárbaro, cita, servo ou livre; mas Cristo é tudo, e em todos." (Cl 3:11). 



E claro Jesus mostra isto perfeitamente no episódio do bom samaritano. Um homem perguntou a Jesus o que deveria fazer para alcançar a vida eterna, e Jesus remeteu-o para a Lei, onde estão os grandes mandamentos sumariados, que são amar Deus e amar o próximo, que os judeus poderiam entender como se referindo apenas a judeus e daí o que acontece a seguir: 

"Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo?E, e respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto. E, ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo. E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e, vendo-o, passou de largo. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão; E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre o seu animal, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele; E, partindo no outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que de mais gastares eu to pagarei quando voltar. Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai, e fazei da mesma maneira." (Lc 10:29-37).

Repare-se que os Samaritanos eram especialmente odiados pelos judeus, e os levitas eram os sacerdotes que poderiam ser considerados como especialmente "santos". Portanto Jesus mostra claramente que para Deus não há parcialidade entre raças, e portanto para nós também não deve haver, pois devemos amar o nosso próximo como a nós mesmos, independentemente da raça.

2. Será que os protestos que estão a ser feitos fazem sentido?

Vamos supor que realmente este homem é culpado de homicídio e que o tribunal decidiu mal. Não defendo que se devamos calar, mas também me oponho a actos de vandalismo, como os que se têm registado recentemente, com pessoas a incendiar casas e tudo mais. Responder a injustiça com violência não é a mensagem Cristã. Quando Jesus, o homem mais bondoso que já viveu, e não merecia nenhuma injustiça, estava prestes a ser preso, um dos seus discípulos cortou a orelha de um soldado, mas Jesus disse-lhe: "Embainha a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão." (Mt 26:52). 



É fácil para nós amar os nossos amigos, aqueles que não nos causam injustiça, mas Jesus pede mais! Jesus diz-nos tão sabiamente: 

"Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos. Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim? Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus." (Mt 5:43-48).

Lembre-mo-nos dos que disse Jesus quando estava a sofrer a maior injustiça de todas, quando estava a ser crucificado o que nunca pecou:

"E dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem. E, repartindo as suas vestes, lançaram sortes." (Lc 23:34).



domingo, 30 de novembro de 2014

Qual deve ser o foco da pregação da Igreja

Depois de ter discutido neste artigo a questão de se Portugal é realmente um país Cristão, gostaria de explorar um dos aspectos que podemos mudar dentro da própria Igreja (seja qual for a denominação). 
Em primeiro lugar devemos lembrar-nos que o Cristianismo não é apenas uma filosofia de vida, mas também afirma acontecimentos históricos passados (morte e Ressurreição de Jesus, milagres, vida dos profetas como Abraão e Moisés, etc), futuros (Ressurreição geral, julgamento final, etc), bem como afirmações metafísicas (Deus existe, anjos e demónios são reais, o homem tem um espírito, etc.) e morais (a realidade do pecado, a virtude da misericórdia, os mandamentos, etc). É portanto importante que todo aquele que se auto-denomina Cristão se instrua nestas verdades, até porque sem elas torna-se difícil compreender certos aspectos da filosofia de vida Cristã (por exemplo, se não há Ressurreição, como posso não temer a morte?) ou para compreender mesmo pontos centrais na mensagem (por exemplo, se não há pecado nem julgamento, então porque chamo a Jesus meu Salvador se eu não preciso de ser salvo de nada?)...

Para além de todos estes importantes pontos, é preciso que o Cristão, que tem a missão de ser um pequeno Cristo, compreenda quem é Cristo e qual é a mensagem do Evangelho, que é resumida por São Paulo como sendo: que Cristo morreu pelos nossos pecados e Ressuscitou (1 Cor 15:3-4), consulte este artigo para uma exposição mais completa de qual é a mensagem central do Evangelho. Várias questões aparecem: porque preciso que alguém morra pelos meus pecados, quais são os meus pecados, porque não poderia outro qualquer ter morrido pelos meus pecados, etc. 

Não pretendo com isto dizer que é preciso compreender todo este sistema na perfeição para ser um verdadeiro Cristão! Se assim fosse não haveria Cristãos no mundo, pois ninguém sabe tudo, já para não falar daqueles que sem culpa própria não receberam a instrução certa. No entanto, estar confiante das afirmações Cristãs oferece ao Cristão muitas bênçãos e benefícios: estará mais confiante na sua Fé, compreenderá melhor os mistérios da Salvação, e talvez o mais importante, estará melhor equipado para expor ao seu irmão a mensagem do Evangelho de uma maneira coerente, basicamente permite ter uma Fé madura.  



Onde quero chegar é ao seguinte: se nós somos Cristãos e se temos uma mensagem, que tem certos aspectos centrais e outros menos centrais porque razão gastamos a maioria do nosso tempo a discutir assuntos secundários? Que assuntos? Aborto, celibato dos padres, casamento gay, eutanásia, ordenação dos padres, etc. são assuntos importantes e onde os Cristãos devem mostrar a sua opinião, mas não são o centro da mensagem do Evangelho, até porque diversas denominações Cristãs pois vezes não concordam entre si sobre alguns destes assuntos (por exemplo na Igreja Protestante não há celibato mas na Católica há). Qualquer pagão pode ser contra o aborto, contra o casamento gay, contra a eutanásia, etc. mas um pagão não pode proclamar a Salvação e o trabalho de Cristo (pois caso contrário seria um Cristão!). 

O problema é que se assemelhamos ao homem que quer construir o telhado da sua casa sem primeiro construir as paredes. Como podemos exigir à nossa sociedade que siga a moral correcta, se ela não conhece Aquele que é responsável pelas verdades morais? Para a sociedade seguir os mandamentos de Deus é preciso que primeiro conheça Deus, e portanto temos de primeiro mostrar à sociedade quem é Deus, como? Mostrando-lhes o Seu Filho Jesus Cristo (Jo 14:7), que nos amou e deu a sua vida por nós sem pedir nada em troca. E como vamos nós ensinar aos nossos irmãos quem é Cristo se primeiro nós não soubermos quem Ele é? Para sabermos quem Ele é devemos ler a Bíblia, que é a Sua Palavra, orar, que é a nossa forma de falar com Ele, e seguir os seus mandamentos, para que Ele permaneça em nós (Jo 15:10).

( quadro de Harry Anderson, onde mostra a indiferença do povo perante a pregação de Noé)

O facto de que nos testes estatísticos que se fazem sobre as crenças mostram uma maioria Cristã mas uma minoria a crer nas ideias Cristãs mostra que nós, os professores, estão a fazer um mau trabalho, e que talvez também os alunos não estudem o suficiente. Talvez seja fácil para muitos se lembrarem do que a Igreja ensina sobre o aborto, sobre quando é que não se deve comer carne, sobre a eutanásia, sobre as uniões gays, sobre o casamento e o divórcio, mas será que se um dia encontrassem um irmão que lhes perguntasse: "Quem é Jesus e qual a mensagem do Evangelho?", saberiam responder de uma forma confiante e Bíblica? Se não então algo está errado, pois essa deveria ser a primeira resposta que deveríamos saber de cor! 

O meu apelo é que não sejamos conhecidos na sociedade por aqueles que se opõem ao aborto, ou ao casamento gay, etc. Mas antes devemos ser conhecidos por aqueles que crêem na mensagem de Cristo, e que a sociedade ao menos saiba que mensagem é esta. E que nos concentremos os nossos sermões, catequeses, palestras, participação na comunicação social etc. para divulgar esta mensagem e termos a certeza que pelo menos os membros da nossa comunidade saibam melhor a razão pela qual se levantam cedo para celebrar aos Domingos de manhã. Com esta base forte, o resto seguirá. 

Se você é daqueles que gostaria de ter esta resposta essencial na ponta da língua, então recomendo que leia a Bíblia com atenção e leia o meu artigo neste blogue sobre a mensagem central do Evangelho. Mas se você é daqueles que considera ter uma boa ideia de qual é a mensagem do Evangelho, lembre-se que você é então responsável por fazer com que estes irmãos mais pequeninos a saibam também, e se é um pastor, padre, ou catequista, a sua responsabilidade aumenta, pois "a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá(Lc 12:48).


sábado, 22 de novembro de 2014

Os verdadeiros feministas – feminismo Bíblico

No artigo “Os verdadeiros feministas – o falhanço das ideias seculares” expliquei a razão pela qual os princípios feministas seculares falham em proteger as mulheres e acabam por prejudicá-las. Neste artigo mostrarei a razão pela qual os ideais Cristãos oferecem um verdadeiro feminismo, que protege a mulher e a eleva de uma forma que nenhum princípio secular poderia. Mostrarei ainda que o único feminismo coerente necessita de uma base teísta.

Em primeiro lugar, o que diz a Bíblia sobre a mulher? A Bíblia afirma um conjunto de verdades e princípios morais que asseguram os direitos da mulher e a sua dignidade:

  • Igualdade – “E criou Deus o Homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.” (Gen 1:27). Repare-se que Deus cria o homem e a mulher à imagem de Deus, o que dá um valor incalculável a cada um (note-se que Deus não fez isto com nenhum dos outros animais). 
  • Aptidão - "Débora, uma profetisa, mulher de Lapidote, liderava Israel naquela época." (Juí 4:4). Esta passagem mostra-nos que Deus considera que a mulher também tem grandes aptidões, podendo mesmo ser profeta e liderar o seu povo. Se Deus não discrimina, nós também não devemos discriminar.
  • Valor - "Mulher virtuosa quem a achará? O seu valor muito excede ao de rubis. O coração do seu marido está nela confiado; assim ele não necessitará de despojo." (Pro 31:10-11). Mais uma vez vemos o valor da mulher, que excede o de rubis, a que devemos confiar o nosso coração, e não podemos portanto objectivizá-la.
  • Dever de amar - "Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a Igreja, e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível. Assim devem os maridos amar as suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo." (Ef 5:25-28). Para a sociedade pagã pré-Cristã o casamento poderia ser apenas um contrato, mas para o Cristão é algo sagrado, e para algumas denominações é mesmo um sacramento (Católicos, Ortodoxos), ou seja, uma fonte da graça de Deus. Deus comanda que amemos as nossas mulheres (mais uma vez sendo impossível assim tratá-las como objectos), tal como amamos os nossos próprios corpos, tal como Cristo amou a Igreja! Cristo viveu para servir a Igreja! Cristo tornou-se Homem para salvar a Igreja! Cristo foi crucificado pela Igreja! Como é bom ver a moralidade Cristã na sua robustez. Se todos os homens vivessem assim, certamente que não haveria qualquer abuso de direitos e discriminação em relação às mulheres. 
(abaixo, imagem de Priscila, uma importante líder Cristã e amiga do Apóstolo São Paulo)

Os feministas seculares concordariam que entre mulheres e homens deve existir igualdade, que as mulheres têm valor e aptidão. O problema é quando perguntamos a estes feministas com que base eles acreditam em tais coisas. Se o materialismo é verdadeiro então não podemos apelar ao facto que homem e mulher possuem alma e a imagem de Deus, pois nem Deus nem alma são materiais. Recorrendo puramente a uma análise materialista do homem e da mulher, não é claro que haja razão para acreditar que são iguais (já que biologicamente são de facto diferentes!), e apelar ao facto de que são da mesma espécie não é suficiente pois considerar espécie ao invés de outra categoria taxonómica como reino (que incluiria todos os animais) parece arbitrário. E claro porque não considerar uma subcategoria taxonómica da espécie como raça para defender o racismo? 
E mesmo que achemos que existe igualdade entre mulheres e homens, porque temos o dever de os tratar sem discriminação arbitrária? Como mostrei no argumento moral, o materialismo não oferece qualquer base para verdades morais e especialmente obrigações morais como "devemos fazer X". É portanto impossível existir um feminismo secular, pois qualquer feminismo pressupõe certas verdades sobre a  Humanidade e princípios morais que não podem ser obtidos sem uma base ontológica e epistemológica numa forma de teísmo e em particular no Cristianismo. 
Concluímos assim que não só o Cristianismo oferece a melhor forma de feminismo, mas também a única possível. 








Os verdadeiros feministas – o falhanço das ideias seculares

Na sociedade actual, de tendências liberais, sistemas relativamente conservadores como o Cristianismo, onde se defende a instituição da família e a santidade do casamento, são acusados de oprimirem as mulheres, negando-lhes certos “direitos básicos” ou criando contra elas preconceitos sem justificação. Por outro lado, os chamados “feministas”, são vistos como os defensores do direito da mulher, rumo a uma sociedade mais livre de igualdade de género. Mas será que esta análise é correcta?
O feminismo é descrito como um movimento que “luta pela igualdade de sexos” e defesa “dos direitos da mulher”. Em primeiro lugar é preciso perguntar exactamente o que significa “igualdade de sexos”, sendo que é óbvio que homens e mulheres não são iguais, pelo menos em termos físicos. E também é verdade que homens e mulheres tendem a ter diferenças psicológicas também, tendo cada um certas vantagens em certas áreas e desvantagens noutras áreas. Devemos então entender o feminismo com sendo o combate à discriminação não justificada entre homens e mulheres. Mas não é todo o tipo de discriminação algo negativo? Obviamente que não: por exemplo se um certo conjunto de indivíduos está a concorrer para um certo emprego é de esperar que o empregador os discrimine baseando-se na sua aptidão para desempenhar a função do trabalho (algo justificado) mas não com base, por exemplo, na sua orientação sexual (algo injustificado). Entendendo o feminismo desta forma então eu proponho que os Cristãos são os mais feministas de toda a sociedade, e portanto vou concentrar a minha crítica não nos feministas (porque eu sou um deles), mas nos chamados feministas seculares, ou seja, aqueles que não se baseiam nas verdades da Fé para elaborar os seus princípios e muitas vezes até as contrariam.
Mas o que defendem então estes feministas seculares? Em primeiro lugar existem muitas iniciativas que os feministas seculares realizaram que foram muito benéficas para a sociedade, como por exemplo o direito das mulheres a votar, a ter um salário igual ao de um homem com as mesmas qualificações, ter direito a licença de maternidade ou protecção contra a violência doméstica. No entanto existem movimentos feminista que oferecem propostas que não só não contribuem de maneira nenhuma para os direitos da mulher, como também contribuem para a descriminação da mulher e para a sua perca de direitos. Os mais flagrantes exemplos são:

·         O aborto: Para muitos feministas seculares o aborto é quase tratado como o centro da sua campanha. Não é a escolha um direito da mulher? Para responder a esta questão precisamos de responder em primeiro lugar a outra questão: será o aborto algo moralmente permissível? Caso não seja, é a sua gravidade tal que devamos proibi-lo? O Cristão sempre tem mantido ao longo dos séculos que o aborto não é moralmente aceitável, sendo que é um atentado à vida. No momento da concepção não é apenas uma célula que se forma mas um ser humano que merece respeito e protecção. O aborto é, na realidade, o assassinato deste ser humano indefeso. Poderá encontrar neste blogue uma defesa mais completa da razão pela qual o aborto é errado. Sendo o aborto portanto um crime contra a vida de alguém indefeso, é paralelo a um homicídio e deve ser condenado pelo governo. Os feministas seculares não só desejam que o aborto seja legal, mas também que o próprio estado facilite a sua prática. Sendo então verdade que o aborto é um crime, como podemos dizer que legalizar e facilitar o aborto protege as mulheres ou lhes dá mais direitos? Seria legalizar o homicídio por parte de uma mulher algo que aumentaria os seus direitos ou a protegeria? Ou seria isso apenas uma maneira de facilitar a mulher a realizar crimes, contribuindo para a destruição não só da sua pessoa mas também da sociedade que a rodeia?

·         A liberalização do sexo: Nada proíbe o materialista de olhar para o sexo apenas como uma maneira de propagação da espécie e de obter prazer físico. Devido a este facto certas correntes feministas extremamente liberais defendem não só a destruição das regras morais tradicionais, que segundo eles oprimem a mulher, mas também chegam ao ponto de defender que trabalhos sexuais como a pornografia e a prostituição devem ser legais. Para eles, a família tradicional não deve ser a estrutura base da sociedade, pois os seus ideais marxistas e anarquistas visam a desconstrução da estrutura social. Assim certos princípios conservadores como o de guardar o sexo para casais realmente apaixonados não faz qualquer sentido e muitos menos guardar o sexo para o casamento... E desta forma a mulher, para se libertar, deve romper com o papel que a sociedade lhe reservou na família e portanto toda a forma de sexo é permitida. Assim, conceitos Bíblicos como imoralidade sexual não fazem qualquer sentido, pois o sexo não tem nenhuma componente moral, é apenas uma maneira de ter prazer físico e deve ser explorado livremente. Tal como é de esperar em qualquer tipo de (i)moralidade baseada em princípios materialistas, estas ideias radicais conduzem à objectificação do ser humano por parte do membro do género oposto (e em particular da mulher por parte do homem), que curiosamente é o centro dos problemas das mulheres na sociedade ocidental de hoje em dia. Ao permitir e até mesmo encorajar as mulheres a vestirem roupas provocantes, serem sexualmente desinibidas e até mesmo a praticar actos sexuais degradantes como orgias e sadomasoquismo a mulher passa a ser vista como um objecto e não como um ser humano que deve ser respeitado. O culminar de tal ideologia é chegar ao ponto de defender a pornografia e a legalização da prostituição, que são o expoente máximo da desumanização da mulher (e do homem!). Estas ideias são tão escandalosas e obviamente condenáveis que dentro do movimento feminista existiram várias vozes a condená-las, por exemplo MacKinon: “A pornografia, através da sua produção e uso, transforma o mundo num espaço pornográfico, […] construindo a realidade social do que é uma mulher […].” (2004). A discórdia neste tópico foi o centro das chamadas “guerras feministas pelo sexo” nos EUA, ao longo das décadas de 70 e 80.


Feministas protestam em "topless"


·         Lei da paridade: Embora este assunto não seja um problema grande, eu considero que a lei da paridade prejudica as mulheres, pois ao exigir que uma certa percentagem de pessoas a ocupar um certo cargo sejam mulheres, está indirectamente a admitir que as mulheres têm uma capacidade naturalmente inferior ao homens! O defensor da lei da paridade poderia objectar que embora mulheres e homens tenham as mesmas capacidades para certas funções, o processo de avaliação é enviesado e discrimina as mulheres. Mas se o problema está na avaliação então ataquemos o problema pela raiz e sejamos mais rigorosos em como escolhemos quem desempenha cada cargo, em vez de criarmos uma discriminação absurda. É precisamente pelo facto de eu acreditar que mulheres e homens têm capacidades semelhantes para muitas funções que eu não posso concordar com uma lei que coloca a mulher como sendo inferior.
Assim concluímos que estas propostas do feminismo secular, em vez de contribuírem para a igualdade de direitos por parte da mulher, aumentam a discriminação existente na sociedade, retiram dignidade à mulher e ainda contribuem para a destruição da sua moralidade e da sociedade que a rodeia. Como um defensor das mulheres e acima de tudo da Humanidade que foi criada por Deus, não posso de forma nenhuma concordar com tais propostas.
Leia neste artigo a razão pela qual os verdadeiros defensores das mulheres e dos seus direitos são os Cristãos, e que para além disso sem uma base teísta é impossível manter uma posição feminista robusta e coerente.







quinta-feira, 6 de novembro de 2014

O dia do Senhor

Na sociedade de hoje muitos se deixam levar pela ganância do dinheiro, suportando cargas horárias enormes e ficando sem tempo para a sua família, será este um estilo de vida saudável para o Homem e agradável aos olhos de Deus?

Ao ler as condições de certos empregos na área das financas depareime com pessoas que trabalhavam cerca de 80-100 horas por semana, onde não tinham fins de semana, particularmente nas áreas dos bancos de investimento. Uma colega disse-me que chegou a beber 6 red bulls num dia para conseguir trabalhar! É verdade que se ganha muito dinheiro, mas para quê? Como Jesus disse: "De que serve a um homem ganhar o mundo inteiro se perder a sua vida? (Mt 16:26). Lembremo-nos que esta vida é importante, mas todos os tesouros materiais que ganhamos nela irão passar (Mt 6:19-20) e que o nosso tesouro nos diz onde está o nosso coração (Mt 6:21) e portanto nao podemos servir a Deus e ao dinheiro (Lc 16:13).



Note-se em primeiro ligar que existem muitas pessoas no mundo que são obrigadas a trabalhar muitas horas porque é a única maneira que têm de pagar as suas despesas, principalmente pais e mães que se sacrificam pelos seus filhos. Tais pessoas não devem ser criticadas, pois na realidade estão a dar a sua vida em favor de outros, como Jesus fez (Mt 20:28). Podemos até encarar o seu trabalho como um sacrifício ao Senhor (Rom 12:1). No entanto até mesmo tais pessoas muito ocupadas devem poder guardar uma hora semanal para ir a igreja ou orar, porque o Senhor ouve o grito dos pobres (Sl 34:6).


No entanto existe outro grupo de pessoas, aqueles que perseguem trabalhos com cargas horárias enormes apenas com o desejo de ganhar muito dinheiro. Observe-se que ganhar muito dinheiro não é em si algo mau, desde que utilizemos este dinheiro para servir, o que pode ser difícil sendo que o dinheiro pode trazer ganância (Lc 21:1-4, Mt 19:24).


Deus não criou o Homem para ser um animal de trabalho, e isto é muito evidente no Antigo Testamento onde Deus cria o Sábado para o Homem descançar, tal como o próprio Deus descançou (Gn 2:3). Jesus no Novo Testamento diz-nos que devemos descançar no Sábado mas não ser escravos do Sábado, pois o o Sábado foi criado precisamente para não sermos escravos! E por isso Jesus cura no Sábado e diz-nos que é o Senhor do Sábado (Mc 2:27-28) porque Jesus é o cumprimento da Lei (Mt 5:17-18) e Ele mostra-nos que o verdadeiro propósito do Sábado (Ex 20:8-11) é ter tempo para nos alegrarmos no Senhor Deus (Sl 37:4) mas também servir o próximo, porque nisto alegraremos o Senhor, e isso faz a nossa oração pura e agradável a Deus (Is 1:11-19, Mt 5:23-24).  Isto acontece precisamente porque toda a Lei pode ser sumarizada nos dois grandes mandamentos (Gl 5:14, Mt 22:35-40, Rm 13:8-10) .

domingo, 19 de outubro de 2014

Será perigoso dizer que temos a verdade?

Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.
Jo 14:6
Esta  afirmação é um dos grandes pilares da Fé Cristã: Jesus é o caminho para o Pai. Não apenas um caminho, mas o caminho, pois não há outro caminho. Na nossa sociedade de hoje em dia tal pode parecer intolerante, arrogante, insensível ou até perigoso. Tal pode dissuadir muitos de seguirem Jesus, portanto pretendo mostrar que tais objecções falham.

Em primeiro lugar vamos supor que a afirmação de Jesus era intolerante, arrogante ou perigosa. Isso alteraria o seu valor de verdade? Este é o exemplo dum argumento ad hominem, em que tentamos falsificar as afirmações de alguém baseando-se em atacar o carácter dessa pessoa.



Devemos agora compreender um facto importante sobre a verdade: ela é sempre única e exclusiva. A verdade pode ser definida como correspondência à realidade: se uma afirmação coincide com a realidade então ela é verdadeira, caso contrário é falsa. Mas a realidade é apenas uma, não existem várias realidades ao mesmo tempo. Os mais imaginativos podem sentir-se persuadidos a afirmar que existe mais que uma realidade, que a realidade é subjectiva e não existe realidade objectiva. No entanto, examinando com cuidado tal ideia, rapidamente se irão aperceber que acabaram de fazer uma afirmação sobre a realidade objectiva, falsificando a sua própria afirmação! Se existe uma realidade objectiva então existe apenas uma verdade, que é precisamente a descrição do mundo que corresponde à realidade. Por exemplo, considere que tem um cesto de maçãs na sua cozinha, e este cesto tem exactamente 7 maçãs. Apenas será verdade que “o cesto contém 7 maçãs”, no entanto todas as afirmações “o cesto contém 1 maçã”, “o cesto contém 2 maçãs”, “o cesto contém 3 maçãs”, ..., “o cesto contém n maçãs”, para qualquer número natural n, são afirmações falsas (um número infinito de afirmações falsas!). Seria arrogante ou intolerante afirmar que existem exactamente 7 maçãs no cesto e que qualquer outro número está errado? Obviamente que não. A pessoa que afirma que é intolerante afirmar que apenas o Cristianismo está certo e que existem muitas estradas para Deus é também ela intolerante, segundo este critério, sendo que nega todas as religiões que afirmam exclusividade.
Mas não será Jesus arrogante e intolerante ao afirmar que só Ele é o caminho? Jesus não afirma que apenas ele é o caminho para se exibir, pois “o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir” (Mt 20:28). Jesus diz –nos isto para que possamos encontrar o caminho, pois “o Filho do Homem não veio para destruir as vidas dos homens, mas para salvá-las”. A verdade é que o Homem se encontra perdido e em decadência e precisa de Deus, o Homem está doente e Deus tem a cura. Suponha que tem uma certa doença e que há um certo médico que o vem visitar, que sabe exactamente qual é o tratamento para a doença, e que apenas este é eficaz. Poderia acusar o seu médico de intolerância ou arrogância se este lhe dissesse que apenas ele tem a cura? Ou desejaria que este médico lhe desse a cura? Quanto estaria disposto a pagar para salvar a sua vida? Pois bem, Deus oferece a cura gratuitamente, pois Jesus disse “"Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e meu fardo é leve." (Mt 11:28-30) e também: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba.” (Jo 3:37). Se pela nossa vida terrena e temporária tudo damos, quanto mais deveríamos dar pela vida eterna, pois “que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” (Mc 8:36).

Ao contrário de ser perigoso, intolerante, ou arrogante, a afirmação de Jesus é precisamente o contrário de tudo isso: é a afirmação mais amável que Ele poderia fazer, pois mostra-nos livremente o caminho para a Vida.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Pátria e Nação

Já desde o início da formação do nosso amado país que tem havido uma ligação entre a fé e a pátria.  Reza a lenda que quando o Rei D. Afonso Henriques derrotou os cinco Reis Mouros  no dia 25 de Julho de 1139, naquela que seria a batalha decisiva para o nascimento do Reino de Portugal, teve uma visão nos Céus onde viu o Senhor Jesus Cristo crucificado, e foi-lhe prometida profeticamente a vitória nesta batalha. Por esta razão decidiu colocar na bandeira de Portugal cinco escudos em cruz a representar os cinco Reis derrotados e em cada um cinco besantes representando as cinco chagas de Cristo, estes símbolos perduram até aos dias de hoje na nossa bandeira.


O escudo da bandeira Portuguesa


É claro que esta lenda é apenas isso, uma lenda, que apareceu pela primeira vez nos escritos de Fernão Lopes em 1419. No entanto não apareceu por acaso, apareceu porque em Portugal os portugueses Cristãos e Católicos, cheios de sentimento patriótico, sentiram Portugal chamado para grandes coisas, apareceu como uma expressão da união entre a fé a pátria.
A Igreja Católica teve grande influência na História de toda a Europa, e portanto também na nossa, fazendo a aliança entre a pátria e a fé ser cada vez maior.
Mas a ligação não é só antiga, especialmente para os Cristãos Católicos. No século XX o milagre de Fátima, independentemente de crermos nele ou não, marca a História,  não só de Portugal mas do Mundo: desde o discurso do Cardeal Cerejeira na abertura da Ponte de Salazar (conhecida hoje como Ponte 25 de Abril), à devoção do Papa João Paulo II, com mesmo alguns a dizer que Fátima foi responsável pela queda do Comunismo na Europa, regime cujos grandes defensores (Lenine, Estaline, Marx, etc.) eram extremamente anti-religiosos. Alguns poderiam mesmo dizer que Deus usou Fátima para combater os Seus inimigos.


Os pastorinhos de Fátima

O século XX ainda nos leva àquela que é uma figura odiada por muitos, o Dr. António de Oliveira Salazar, mas amada por outros, sendo que foi eleito o maior Português de Sempre no Programa da RTP “Grandes Portugueses”. Esta figura que marcou a nossa História, era um Católico fervoroso, sendo conhecido pelo seu lema “Deus, Pátria, Família”. O lema de Salazar é, na verdade, um bom princípio, no entanto Salazar parecia colocar a Pátria igual ou maior que Deus, muitas vezes sacrificando a liberdade de cada um em nome da Pátria, tornando assim a Pátria um ídolo que forçava o seu regime a desobedecer a alguns dos grandes ensinamentos de Jesus Cristo.
Depois de ter analisado brevemente alguns pontos importantes da História da nossa Fé e Pátria, devemos perguntarmo-nos o que podemos aprender com eles. Qual deve ser o papel da pátria no serviço da fé? Qual deve ser o papel da fé dentro da pátria?


Um dos grandes lemas de Salazar


Em primeiro lugar é preciso compreender que ser patriota não pode ser, para um Cristão, sinónimo de considerar a sua nação superior às outras, ou os seus cidadãos melhores e mais valiosos, pois já São Paulo perguntava “É porventura Deus somente dos judeus? E não o é também dos gentios? Também dos gentios, certamente.” (Rm 3:29), e dizia também Pedro : “E, abrindo Pedro a boca, disse: Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas; Mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e faz o que é justo.” (At 10:34-35).
No entanto não devemos desprezar o orgulho pelo nosso país, não o orgulho que é arrogante e opressivo, mas o orgulho humilde, o orgulho que defende as tradições e costumes valiosos da nação. O orgulho pelo país não deve ser o oposto da humildade, mas o oposto da vergonha. Ser patriota é não ter vergonha de se dizer que é Português, e é sacrificar os interesses próprios pelos interesses da Nação.
E aqui aparece a pergunta chave: “Quais são os interesses da Nação?”. Para o não crente a resposta pode ser poder, domínio, opressão, imperialismo, ou qualquer outra tentação vinda do Acusador. Mas não para o Cristão. Para o Cristão os interesses da Nação são que o seu povo e o seu legado se conformem àquilo que é encontrado em Jesus Cristo, uma Nação que assenta nos valores da paz, justiça, amor fraterno e serviço, pois aquele que quiser fazer-se grande entre nós deve ser o primeiro a servir (Mt 20:26).
É assim óbvio qual é a relação entre ser patriota e ser Cristão: ser patriota é querer o bem da Nação, e o bem da Nação é que se conforme à imagem de Deus, e aquele que se conforma à imagem de Deus é aquele que é Cristão.
É importante então não interpretar a Nação como um ídolo, tal como os fascistas como Hitler e Mussolini faziam, cometendo barbaridades em nome do seu ideal para o País e igualando engrandecer a Nação com subjugar as outras nações, o que paradoxalmente leva não ao engrandecimento da Nação, mas à sua corrupção, que mesmo que seja a maior no Reino dos Homens, será a menor no Reino de Deus.


Típica propaganda com traços de idolatria ao homem e à Nação, no regime Nazi do ditador Adolf Hitler, responsável pelo massacre de milhões de Judeus


Não significa isto que se deva esquecer o nosso legado e tradição, pois isso nunca seria patriotismo. O nosso legado e tradição, na medida em que não contradiga os ensinamentos divinos (e na realidade raramente contradiz, pois antes pelo contrário, reafirma-os), devem ser defendidos, e Deus nos ajudará.

Assim, o projecto patriótico não é impor o nosso Legado e Tradição aos outros, nem esquecê-los como os Anarquistas por vezes propõem, mas glorificar o nosso Legado e Tradição, da maneira mais nobre possível: colocando-o ao serviço dos outros, preservando-o e tirando o melhor possível deles, para que a Nação seja posta ao serviço de Deus, que é fiel (Dt 7:9), e então Deus se porá Ele ao serviço da Nação, pois sem dúvida irá guiar a Nação pelos caminhos da Justiça, Amor e Rectidão, pois ela será assim um instrumento do próprio projecto divino.



Um grande Português Cristão, o Padre António Vieira, no seu célebre "Sermão aos Peixes"

sábado, 31 de maio de 2014

A mensagem do Evangelho

Muitos de nós somos Cristãos ou conhecemos a Fé Cristã, mas qual é a mensagem central do Cristianismo? Qual é a grande verdade que Deus nos revela por meio de Jesus Cristo por meio do Evangelho? Qual é a grande mensagem que é diferente de todas as outras religiões? Quem pode dizer que compreendeu o Evangelho? Neste artigo tentarei expor aquela que é, na minha opinião, a mensagem central do Evangelho e do Cristianismo, a que tudo o resto é subordinado.


  1. Deus cria perfeito - Como diz o livro dos Génesis: “No Início, Deus criou os Céus e a Terra” (Gn 1:1). Note-se que “os Céus e a Terra” é um idioma no hebraico que significaria o que entendemos hoje pela expressão “o Universo”, ou seja toda a realidade física. Também encontramos Deus como a fonte de toda a existência ao lermos no Evangelho: “Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.” (Jo 1:3). Deus então cria o Homem à sua imagem e coloca o Homem nesta criação numa posição especial e abençoada (Gn 1:27-30). Esta criação era fundamentalmente boa (Gn 1:31).
  2. O Homem decide revolar-se contra Deus – Embora Deus tenha avisado o Homem de quais são as consequências do pecado e da rebelião (Gn 3:3), o Homem decide desobedecer (Gn 3:6), cedendo à tentação, para se tornar como Deus (Gn 3:5). Neste acto o Homem torna-se corrompido e o pecado toma conta do seu ser, tornando-se morto no pecado (Ef 2:1) e culpado perante Deus , como diz São Paulo: “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3:23).
  3. Deus decide redimir o Homem – Num grande acto de misericórdia e amor, Deus decide ser Ele fazer o Sacrifico infinito que cada um de nós teria de fazer, mas que nunca conseguiríamos. Como diz São João: "Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigénito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.”. Tomando o nosso pecado sobre Si mesmo, Deus esvaziou-se por nós (Fp 2:7), para nos redimir, como diz São Pedro: “Ele mesmo levou em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, a fim de que morrêssemos para os pecados e vivêssemos para a justiça; por suas feridas vocês foram curados.” (I Pe 2:24)  e por isso São Paulo diz “Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito.” (Rm 8:1). Como o próprio Jesus disse “Este é o cálice o meu sangue, que será derramado por vós e por todos, para remissão dos pecados”. Daí chamarmos a Jesus o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”, fazendo clara referência aos sacrifícios do Antigo Testamento. Deus mostra que aceita este Sacrifico através da Ressurreição de Jesus Cristo, vindicando-o (At 2).
  4. Como receber a oferta de Deus? – Através da Fé o Homem é redimido em Jesus Cristo, depositando a nossa confiança n’Ele e acreditando na sua Ressurreição. O Apóstolo diz : “Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.”(Rm 10:9), pois na mesma carta já nos tinha declarado: “Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus. Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus”  (Rm 3:24-25) torna-se filho de Deus (Ef 1:5). A nossa Salvação só é possível graças à oferta livre de Deus e à sua graça (Ef 2:8).




Assim vemos a grande mensagem do Evangelho: Deus criou o Homem à sua imagem, o Homem desobedeceu a Deus e tornou-se corrompido pelo pecado. O único capaz de salvar o Homem do pecado é Deus, por isso Deus, no seu grande amor e misericórdia, torna-se Homem faz o Sacrifico em nosso nome, que nós não conseguiríamos fazer. Nós tomamos parte neste trabalho redentor através da Fé, e pela Graça de Deus então atingimos a Salvação, que é  a gratuita de Deus.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

O argumento contra a Omnipotência

Certamente que muitos de nós já ouvimos versões deste argumento comum aos novatos na discussão da grande questão que é a existência de Deus. Eu mesmo fiquei sem resposta a primeira vez que tal argumento me foi apresentado por um colega na Universidade! No entanto após fazer uma pequena pesquisa percebi que o argumento era na realidade extremamente fraco e baseado numa grande confusão sobre o conceito de omnipotência.

Este argumento pretende provar que Deus não existe mostrando que existe uma contradição lógica no conceito de Deus, e é formulado da seguinte maneira:

  1. Se Deus existe, então Ele é omnipotente.
  2. Se Deus é omnipotente, então Ele pode criar uma pedra tão pesada que nem mesmo Ele a pode erguer.
  3. Se Deus criar tal pedra, então ele não poderá erguê-la, e portanto não será omnipotente.
  4. Deus não é omnipotente.
Conclusão: Deus não existe.

Para negarmos este argumento temos de disputar uma das premissas, e é exactamente isso que vamos fazer, disputando a premissa 2 e/ou 3, mas antes disso convém definir o que significa omnipotência, pois aí reside o problema deste argumento. 

É um consenso entre teólogos e leigos que Deus é omnipotente, mas o que é que isso significa exactamente? Uma maneira ingénua de definir omnipotência é "ter o poder de fazer literalmente tudo". O problema desta definição é que é incoerente e nem sequer é apoiada pela Bíblia, que afirma que Deus, por exemplo, não pode mentir (Tito 1:2). 
Absurdos lógicos como "criar um solteiro casado" ou criar um "quadrado circular" são simplesmente combinações de palavras sem sentido e a omnipotência de Deus não é comprometida por não poder fazer tais absurdos. A definição de omnipotência correcta é simplesmente "poder fazer tudo o que é logicamente possível (coerente)", ou seja, não existe nenhuma acção que Deus não possa fazer por não ter poder suficiente, mas que se fosse mais poderoso poderia fazer.
Note-se que o conceito de omnipotência é a representação do expoente máximo da propriedade "força" ou "poder", portanto é perfeitamente de esperar que a definição correcta para este termo seja precisamente a que dei acima (nenhuma acção lhe é impossível por falta de poder). 



Tal como C.S. Lewis escreveu:


“Não é limitativo do Seu poder. Se dissermos que Deus pode dar livre arbítrio a uma criatura, ao mesmo tempo que lho nega, não se conseguiu dizer nada acerca de Deus: um conjunto de palavras sem significado não passa a adquiri-lo apenas porque se juntou como prefixo «Deus consegue»


Cs Lewis -The Problem of Pain

   Se a premissa 2 for falsa, então o argumento cai por terra. Mas se admitirmos que a premissa 2 é verdadeira (por uma questão de argumentação), então segue-se que a premissa 3 é falsa, pois erguer uma pedra que por definição não pode ser erguida é logicamente absurdo, não mais que criar um solteiro casado. Em suma, de qualquer maneira, uma das premissas do argumento é falsa e portanto o argumento é refutado.

sábado, 24 de maio de 2014

Ciência e Fé, conflito ou coesão?

Não há um conflito profundo entre Ciência e Deus  


   Durante os últimos dois séculos temos vindo a experienciar um certo afastamento entre Ciência e Deus que tem levado várias pessoas a achar que a abdicação da Ciência e a Irracionalidade são preços a pagar para acreditar em Deus. Felizmente sabemos que não é assim. Por que meios? Em primeiro lugar por Revelação, já que na própria Bíblia temos várias respostas a esta pergunta, e como Cristãos este deve ser o nosso primeiro recurso a explorar.


“Se nalgum de vocês falta sabedoria, então que a peça a Deus, que a todos dá sem censura, e ser-lhe-á dada.” – Tiago

   A omnisciência de Deus leva-nos a perceber que é ao aproximarmo-nos de Deus que aumentamos a nossa sabedoria, não ao nos afastarmos.
Razões para achar que a Religião e a Ciência podem coexistir e cooperar:

  1.         A experiência mostra-nos que as Sociedades mais desenvolvidas do Mundo são religiosas, os grandes cientistas do Renascimento eram religiosos. Copérnico eram um cónego e Newton um fervoroso Cristão, que entendia a Ciência como uma maneira de conhecer melhor a obra de Deus.
  2.          A Religião oferece à Ciência as bases para operar. A Ciência necessita de certos pressupostos para existir, pressupostos esses que a visão Materialista do Mundo não oferece. Exemplos são pensar que as nossas faculdades cognitivas são confiáveis, que as Leis da Lógica funcionam e reflectem a realidade, ou que o Mundo pode ser matematicamente inteligível. Sem estes pressupostos a Ciência nem existiria…
  3.       A Ciência permite verificar e falsificar algumas afirmações do campo religioso. Por exemplo, a Ciência facilmente falsifica a crença mitológica grega de que o mundo estava sobre os ombros de Altas. Por outro lado, no último século a Ciência verificou a crença religiosa de que o Universo teve um começo, através da Teoria do Big Bang. Para além disso a Ciência oferece suporte para algumas das premissas chave de argumentos filosóficos a favor da existência de Deus.
  4. .     Há certas questões metafísicas que surgem em teorias científicas às quais a ciência não pode responder, mas que a religião pode. Por exemplo a ciência cosmológica não consegue responder à pergunta filosófica: “Porque existe algo em vez de nada?”, que facilmente pode ser respondida pela Religião com base na informação obtida por Revelação.
  5. .      A Ciência pode ser útil para analisar cuidadosamente alguns fenómenos religiosos e fornecer maneiras de nos aproximarmos mais da verdade e conhecer melhor Deus. Por exemplo, a ciência permite analisar os documentos históricos que existem sobre a vida de Jesus e dar-nos informação sobre que fontes de informação são fiáveis. A ciência também nos ajuda a verificar a autenticidade de determinados artefactos religiosos, por exemplo com datação por carbono-14. Para além disso também existe uma equipa de médicos que se dedica a verificar se certos acontecimentos são milagrosos ou foram apenas coincidências, e assim é possível fornecer informação útil ao Vaticano sobre este assunto com implicações importantes na área das Beatificações e Canonizações.

Newton, o pai da física, era um admirador da Bíblia e considerava o estudo da Ciência como uma maneira de apreciar as maravilhas do Criador

 Há um conflito entre a Ciência e o Ateísmo


  Poderia à primeira vista parecer estranho que tal coisa fosse verdade, já que a toda a hora os ateus baseiam os seus ataques à Fé Cristã em estudos científicos. O problema é que, se algumas teorias científicas são verdadeiras, então o ateísmo auto refuta-se. Se realmente o ateísmo estivesse certo então poderíamos dizer que os nosso pensamentos, acções, e até mesmo estudos eram apenas resultado de processos não-guiados, nos quais seríamos apenas máquinas propagadoras de ADN e prosperaríamos apenas porque o processo é auto-sustentável. O problema é que tal processo nunca nos garantiria que as nossas crenças seriam verdadeiras! Se o materialismo for verdadeiro, então as nossas equações e teorias que formulamos no estudo científico são apenas desenhos que fazemos num papel resultantes do acaso, porquê então pensar que têm algum significado? Porque razão haveríamos de acreditar que reflectem a realidade? Não haveria nenhuma, nem mesmo para acreditar nos próprios princípios materialistas em que basearíamos toda a nossa filosofia de vida… Esta ideia foi formulada por C.S. Lewis e ele raciocinava da seguinte maneira:


“Suponha-se que não há uma mente criadora por detrás do Universo. Nesse caso, ninguém desenhou o meu cérbero para pensar. O que acontece é que quando os átomos do meu cérbero interagem de certa maneira por razões químicas ou físicas isso dá-me uma sensação do que chamo pensamento. Mas, se isso é verdade, como posso eu confiar nele? (…) Mas se não posso confiar nas minhas próprias faculdades mentais, então não posso confiar nas razões que me levariam a ser um ateu, e portanto não teria razões para ser ateu. A não ser que acredite em Deus, eu não posso acreditar na fiabilidade do pensamento, logo não posso usá-lo para dizer desacreditar Deus.”

Conclui-se assim que o Teísmo e a Ciência têm bastantes pontos de coincidência e podem servir-se mutuamente numa relação de simbiose.