quarta-feira, 4 de junho de 2014

Pátria e Nação

Já desde o início da formação do nosso amado país que tem havido uma ligação entre a fé e a pátria.  Reza a lenda que quando o Rei D. Afonso Henriques derrotou os cinco Reis Mouros  no dia 25 de Julho de 1139, naquela que seria a batalha decisiva para o nascimento do Reino de Portugal, teve uma visão nos Céus onde viu o Senhor Jesus Cristo crucificado, e foi-lhe prometida profeticamente a vitória nesta batalha. Por esta razão decidiu colocar na bandeira de Portugal cinco escudos em cruz a representar os cinco Reis derrotados e em cada um cinco besantes representando as cinco chagas de Cristo, estes símbolos perduram até aos dias de hoje na nossa bandeira.


O escudo da bandeira Portuguesa


É claro que esta lenda é apenas isso, uma lenda, que apareceu pela primeira vez nos escritos de Fernão Lopes em 1419. No entanto não apareceu por acaso, apareceu porque em Portugal os portugueses Cristãos e Católicos, cheios de sentimento patriótico, sentiram Portugal chamado para grandes coisas, apareceu como uma expressão da união entre a fé a pátria.
A Igreja Católica teve grande influência na História de toda a Europa, e portanto também na nossa, fazendo a aliança entre a pátria e a fé ser cada vez maior.
Mas a ligação não é só antiga, especialmente para os Cristãos Católicos. No século XX o milagre de Fátima, independentemente de crermos nele ou não, marca a História,  não só de Portugal mas do Mundo: desde o discurso do Cardeal Cerejeira na abertura da Ponte de Salazar (conhecida hoje como Ponte 25 de Abril), à devoção do Papa João Paulo II, com mesmo alguns a dizer que Fátima foi responsável pela queda do Comunismo na Europa, regime cujos grandes defensores (Lenine, Estaline, Marx, etc.) eram extremamente anti-religiosos. Alguns poderiam mesmo dizer que Deus usou Fátima para combater os Seus inimigos.


Os pastorinhos de Fátima

O século XX ainda nos leva àquela que é uma figura odiada por muitos, o Dr. António de Oliveira Salazar, mas amada por outros, sendo que foi eleito o maior Português de Sempre no Programa da RTP “Grandes Portugueses”. Esta figura que marcou a nossa História, era um Católico fervoroso, sendo conhecido pelo seu lema “Deus, Pátria, Família”. O lema de Salazar é, na verdade, um bom princípio, no entanto Salazar parecia colocar a Pátria igual ou maior que Deus, muitas vezes sacrificando a liberdade de cada um em nome da Pátria, tornando assim a Pátria um ídolo que forçava o seu regime a desobedecer a alguns dos grandes ensinamentos de Jesus Cristo.
Depois de ter analisado brevemente alguns pontos importantes da História da nossa Fé e Pátria, devemos perguntarmo-nos o que podemos aprender com eles. Qual deve ser o papel da pátria no serviço da fé? Qual deve ser o papel da fé dentro da pátria?


Um dos grandes lemas de Salazar


Em primeiro lugar é preciso compreender que ser patriota não pode ser, para um Cristão, sinónimo de considerar a sua nação superior às outras, ou os seus cidadãos melhores e mais valiosos, pois já São Paulo perguntava “É porventura Deus somente dos judeus? E não o é também dos gentios? Também dos gentios, certamente.” (Rm 3:29), e dizia também Pedro : “E, abrindo Pedro a boca, disse: Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas; Mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e faz o que é justo.” (At 10:34-35).
No entanto não devemos desprezar o orgulho pelo nosso país, não o orgulho que é arrogante e opressivo, mas o orgulho humilde, o orgulho que defende as tradições e costumes valiosos da nação. O orgulho pelo país não deve ser o oposto da humildade, mas o oposto da vergonha. Ser patriota é não ter vergonha de se dizer que é Português, e é sacrificar os interesses próprios pelos interesses da Nação.
E aqui aparece a pergunta chave: “Quais são os interesses da Nação?”. Para o não crente a resposta pode ser poder, domínio, opressão, imperialismo, ou qualquer outra tentação vinda do Acusador. Mas não para o Cristão. Para o Cristão os interesses da Nação são que o seu povo e o seu legado se conformem àquilo que é encontrado em Jesus Cristo, uma Nação que assenta nos valores da paz, justiça, amor fraterno e serviço, pois aquele que quiser fazer-se grande entre nós deve ser o primeiro a servir (Mt 20:26).
É assim óbvio qual é a relação entre ser patriota e ser Cristão: ser patriota é querer o bem da Nação, e o bem da Nação é que se conforme à imagem de Deus, e aquele que se conforma à imagem de Deus é aquele que é Cristão.
É importante então não interpretar a Nação como um ídolo, tal como os fascistas como Hitler e Mussolini faziam, cometendo barbaridades em nome do seu ideal para o País e igualando engrandecer a Nação com subjugar as outras nações, o que paradoxalmente leva não ao engrandecimento da Nação, mas à sua corrupção, que mesmo que seja a maior no Reino dos Homens, será a menor no Reino de Deus.


Típica propaganda com traços de idolatria ao homem e à Nação, no regime Nazi do ditador Adolf Hitler, responsável pelo massacre de milhões de Judeus


Não significa isto que se deva esquecer o nosso legado e tradição, pois isso nunca seria patriotismo. O nosso legado e tradição, na medida em que não contradiga os ensinamentos divinos (e na realidade raramente contradiz, pois antes pelo contrário, reafirma-os), devem ser defendidos, e Deus nos ajudará.

Assim, o projecto patriótico não é impor o nosso Legado e Tradição aos outros, nem esquecê-los como os Anarquistas por vezes propõem, mas glorificar o nosso Legado e Tradição, da maneira mais nobre possível: colocando-o ao serviço dos outros, preservando-o e tirando o melhor possível deles, para que a Nação seja posta ao serviço de Deus, que é fiel (Dt 7:9), e então Deus se porá Ele ao serviço da Nação, pois sem dúvida irá guiar a Nação pelos caminhos da Justiça, Amor e Rectidão, pois ela será assim um instrumento do próprio projecto divino.



Um grande Português Cristão, o Padre António Vieira, no seu célebre "Sermão aos Peixes"