sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Reflexão 25 de Dezembro - Feliz Natal


Caros amigos, hoje celebramos o Natal, a Incarnação de Deus em Jesus Cristo, o início do maior ato de amor da história da humanidade. Quero hoje apenas olhar para a seguinte passagem do Evangelho segundo Lucas (Lc 2:8-11):
Havia pastores que estavam nos campos próximos e durante a noite tomavam conta dos seus rebanhos. E aconteceu que um anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor resplandeceu ao redor deles; e ficaram aterrorizados. Mas o anjo lhes disse: "Não temais. Trago-vos boas-novas de grande alegria, que são para todo o povo: Hoje, na cidade de David, nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor.
 Nesta passagem vemos vários elementos da mensagem de Deus:


  • Não temais - Deus está connosco e não devemos temer a sua presença. É bom ter temor de Deus, mas não temer a presença de Deus no nosso coração. Confrontados com as nossas imperfeições e pecados, tememos a presença de Deus pois esta irá expor essas mesmas faltas. No entanto o Senhor está do nosso lado, Ele deseja a nossa Salvação, e tornou-se homem mesmo por isso. Se chamarmos o Senhor ao nosso coração, por muitos pecados que tenhamos estes serão perdoados e a paz será nossa. Pois Deus é amor (1 Jo 4:8) e o perfeito amor expulsa o medo (1 Jo 5:18).
  • Trago-vos boas novas de grande alegria- A mensagem Cristã é muitas vezes apresentada como bons conselhos e não boas notícias: fazei isto e isto e irás para o Céu. É verdade que a mensagem de Deus inclui muitos conselhos, no entanto a mensagem do anjo foi de boas-notícias: eis que nasce Jesus, eis que aqui está o que foi prometido, eis que Deus se prepara para consumar o seu plano de Salvação de toda a Criação. Como resultado do que aconteceu, o mundo tornou-se um lugar diferente.

  • Que são para todo o povo - A oferta de Deus é Universal, é para todos, tal como vemos no verso mais famoso da Bíblia, Jo 3:16 - "Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigénito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.". Nós associamos o Natal aos jantares de família, à boa comida, ao quentinho da lareira, ou até a um certo ritual religioso como ir à missa do galo. Este Natal do mundo tem coisas boas e que podem ser incluídas no nosso Natal, mas apenas como aspetos secundários, pois essas não são a essência do Natal Cristão. Não poderiam ser, pois se fossem esta Escritura seria falsa: há muita gente no mundo que vive na solidão e não tem família para passar o Natal, outros que não têm comida pois vivem na pobreza, e outros não têm a liberdade de ir à igreja no Natal, para estes o Natal do mundo não serve. No entanto não há nenhuma pessoa neste mundo, desde o mais pequeno ao maior, à qual Jesus não convide para tomar parte na sua vida e entrar no seu coração. Não há ninguém que não precise de um Salvador, e à qual esta boa nova não tenha sido dirigida. O Natal Cristão é para todos.
  • Nasceu Jesus, o Salvador - Porque é que nos nasceu um Salvador? Porque precisamos de ser salvos. Do quê? Pergunta o nosso mundo moderno convicto de si mesmo e cheio do vazio de Deus. Precisamos de ser salvos de nós próprios, dos nossos pecados, do nosso ódio, da nossa luxúria, que no fim resulta na separação de Deus, resulta numa morte da alma, que vive para toda a eternidade. Mas Jesus não quer tal destino para ninguém, Jesus ama-te tanto que preferiu tornar-se um homem e morrer numa cruz do que passar o resto da eternidade sem ti. Dizem que se formos todos especiais então nenhum de nós é, mas eu discordo. Este é o sentido em que tu és especial: mesmo que só tu existisses no mundo, Ele viria para ti. 

O meu apelo é este: se ainda não o fizeste, neste Natal, deixa que Jesus não nasça só na manjedoura mas também lá bem dentro do teu coração. Um feliz Natal.

domingo, 20 de dezembro de 2015

20 de Dezembro - Deus mostra-nos a sua face

Na última reflexão semanal antes do Natal vamos examinar alguns textos que anunciam não só a vinda de Jesus como Rei, mas também como aquele que cumpre a vontade de Deus e permite que vejamos a sua face, pois esse é o propósito de Deus. Vemos brevemente o papel de Maria nesta história com oportunidade para contemplar aspetos da sua santidade.

Primeira Leitura - Mq 5:1-4
Reúna suas tropas, ó cidade das tropas, pois há um cerco contra nós. O líder de Israel será ferido na face, com uma vara. Mas tu, Belém-Efrata, embora pequena entre os clãs de Judá, de ti virá para mim aquele que será o governante sobre Israel. 
Suas origens estão no passado distante, em tempos antigos. Por isso os israelitas serão abandonados até que aquela que está em trabalho de parto dê à luz. Então o restante dos irmãos do governante voltará para unir-se aos israelitas. Ele se estabelecerá e os pastoreará na força do Senhor, na majestade do nome do Senhor, o seu Deus. E eles viverão em segurança, pois a grandeza dele alcançará os confins da terra.
O profeta Miqueias, que viveu por volta dos séculos VII ou VIII a.C., experienciando portanto a invasão de Judá em 701 pela Assíria. Ele aqui anuncia a vinda do Messias, daquele que libertará o povo, do grande Rei que governará Israel, e este é Jesus, nascido em Belém. O Natal é um tempo importante porque também nos lembra que Deus cumpre as suas promessas. Há diversas profecias no Antigo Testamento que foram cumpridas no nascimento, vida e morte de Jesus, e não devemos subestimar estas profecias, nem aquelas que ainda não se cumpriram pois se referem ao futuro, já que Deus é fiel à sua palavra. 
Estas palavras de Miqueias hoje confirmam para nós o que sabemos sobre Jesus: que todos aqueles que n'Ele confiam estão 'em segurança', e que a sua grandeza alcança os confins da Terra. Nós Cristão, somos co-trabalhadores com Deus, e devemos trabalhar par que o Evangelho seja pregado em todas as Nações, tal como Jesus nos comandou (Mt 28:18-20).

Salmo - Sl 80
Faz resplandecer sobre nós o teu rosto, para que sejamos salvos.
Neste Salmo o orador lembra-se de tudo o que aconteceu ao povo de Israel, e roga a Deus para que os restaure e lhes mostre o seu rosto. Porque é tão importante ver o rosto de Deus? Porque conhecer a Deus (não saber coisas sobre Deus) é a essência da Vida Eterna. A Salvação é, no fundo, a passagem da morte para a vida, a passagem da vida que decai para aquela que é eterna e não decai. A Vida Eterna, no sentido Bíblico, não é meramente existir para sempre, mas sim viver para sempre da melhor forma. Por isso é que Jesus nos disse que a Vida Eterna é conhecer a Deus (Jo 17:3). O Natal é portanto esta grande revelação de Deus, mostrando a sua face aos homens tornando-se Ele mesmo Homem e vivendo connosco. E depois, graças à sua morte, liberta-nos do pecado para que possamos realmente conhecer a Deus para sempre. Pois Deus quer conhecer e ser conhecido, quer amar e ser amado, quer glorificar e ser glorificado.

Segunda Leitura (Hb 10:5-10)
Por isso, quando Cristo veio ao mundo, disse:
"Sacrifício e oferta não quiseste, mas um corpo me preparaste; de holocaustos e ofertas pelo pecado não te agradaste. Então eu disse: 'Aqui estou, no livro está escrito a meu respeito; vim para fazer a tua vontade, ó Deus'". 
 Primeiro ele disse: "Sacrifícios, ofertas, holocaustos e ofertas pelo pecado não quiseste nem deles te agradaste" (os quais eram feitos conforme a Lei). Então acrescentou: "Aqui estou; vim para fazer a tua vontade". Ele cancela o primeiro para estabelecer o segundo. Pelo cumprimento dessa vontade fomos santificados, por meio do sacrifício do corpo de Jesus Cristo, oferecido uma vez por todas.
Vemos aqui uma espécie de diálogo entre Jesus e o Pai, explicado pelo escritor da carta aos Hebreus (que não sabemos ao certo quem foi). Os sacrifícios que eram oferecidos no Antigo Testamento nunca foram o ideal de Deus, pois eles não podem pagar pelo pecado. Várias vezes na Bíblia Deus diz que não são os sacrifícios animais que Ele deseja por parte do Homem (por exemplo Is 1:11). A razão pela qual estes sacrifícios foram instituídos sai fora do âmbito desta publicação. 
Jesus vem portanto fazer a vontade de Deus: Ele vem tornar possível o perdão do Homem, bem como a sua Santificação, para que a Comunhão com Deus e a renovação de toda a Criação seja possível para sempre, e assim o propósito de Deus pode ser cumprido. Jesus é o derradeiro sacrifício, e nunca devemos tentar acrescentar ao que Ele fez: nenhuma das nossas penitências e ofertas paga pelos nossos pecados, e por eles nunca devemos tentar pagar. Se um homem generoso me oferecer um grande conjunto de propriedades e eu lhe oferecer um euro por elas, é uma ofensa. Eu posso oferecer-lhe algo em gratidão, mas nunca pagar por aquilo que de graça recebi. E de graça recebi porque nunca pelo que recebi poderia eu pagar. 
Como nota adiciona, é por isso que denominações que "oferecem sacrifícios a Deus" nas suas celebrações, são por vezes alvo de controvérsia. Isto acontece com a Igreja Católica, que afirma que em todas as missas, o sacrifico de Jesus é novamente apresentado a Deus, e que realmente paga pelos pecados, no entanto com a salvaguarda que o sacrifício de Jesus e o que acontece na missa são um e um só sacrifício. O estudo da teologia da apresentação de sacrifícios a Deus, olhando para o que cada denominação pensa, o que pensaram os patriarcas e o que dizem as Escrituras é complexo e fica portanto fora do âmbito desta publicação.

Evangelho - Lc 1:39-45
Naqueles dias, Maria preparou-se e foi depressa para uma cidade da região montanhosa da Judeia, onde entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o bebé agitou-se em seu ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Em alta voz exclamou: "Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o filho que tu darás à luz! Mas por que sou tão agraciada, ao ponto de me visitar a mãe do meu Senhor? Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, o bebé que está em meu ventre agitou-se de alegria. Feliz é aquela que creu que se cumprirá aquilo que o Senhor lhe disse!"

Este texto permite a reflexão acerca da santidade de Maria. Maria é santa porque nela viveu Deus mesmo, no seu ventre esteve aquele que havia de morrer pelos pecados de todo o mundo. Daí Maria ser bendita entre as mulheres. Na verdade,

é a única mulher na história que foi mãe de Deus. Mas lembre-mo-nos também que Maria é humana como nós, e precisava da Salvação como nós. Digo isto porque muitas vezes certas pessoas falam de Maria como se ela fosse divina e tivesse poderes em si mesma. É controverso se os Santos depois da sua morte intercedem pelos homens e ouvem as nossas orações, no entanto, mesmo que o façam, certamente que todos os milagres que resultem dessa mesma intercessão são de Deus, da mesma maneira que quando pedimos a um amigo ainda neste mundo para orar por nós e um certo milagre acontece esse milagre é de Deus, e não dele. Desejo que a Virgem seja hoje para nós um exemplo, pois ela obedeceu a Deus e creu, ou seja, confiou-Lhe a sua vida. E por isso disse ao anjo: "Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra." (Lc 1:38).


terça-feira, 15 de dezembro de 2015

13 de Dezembro - Os Céus vêm à Terra

Primeira Leitura - Sf 3:14-18

Canta, ó cidade de Sião; exulta, ó Israel! Alegre-se, regozije-se de todo o coração, ó cidade de Jerusalém! O Senhor anulou a sentença contra ti, ele fez retroceder os teus inimigos.

O Senhor, o Rei de Israel, está em seu meio; nunca mais você temerá perigo algum. Naquele dia, dirão a Jerusalém: "Não temas, ó Sião; não deixe suas mãos enfraquecerem. O Senhor, o seu Deus, está em teu meio, poderoso para salvar.
Ele regozijar-se-á em ti; com o seu amor te renovará, ele se regozijará em ti com brados de alegria".
"Eu ajuntarei os que choram pelas festas fixas, os que se afastaram de vós, para que isso não mais pese como ­vergonha para vós."
Lemos aqui a profecia de Sofonias, que viveu num tempo em que Judá era cobiçada pelos poderes estrangeiros, o Egito e a Assíria. A grande promessa de Deus não é que vai destruir a Terra e levar toda a gente para o Céu mas sim que o Céu descerá sobre a Terra, Deus promete inundar o seu povo com a sua presença salvadora. Já parámos para pensar que Deus se regozija em nós, e com brados de alegria? Nós um ser tão pequeno e pecador, tão amados por um ser tão grande e santo. Mas é mesmo por Ele ser grande e Santo que ele nos ama, pois a grandeza de Deus manifesta-se na sua proximidade connosco. 

Responsório - Is 12:2-6
Gritem bem alto e cantem de alegria, habitantes de Sião, pois grande é o Santo de Israel no vosso meio.
Mais uma vez aqui vemos este tema repetido, Deus vem à Terrra. Mais uma vez quero frisar, e agora nas palavras do teólogo e bispo anglicano NT Wright:
“A Ressureição de Jesus é o princípio do novo plano de Deus não para levar as pessoas para fora da Terra mas sim para colonizar a terra com a vida do Céu."
em Surprised by Hope: Rethinking Heaven, the Resurrection, and the Mission of the Church 

 Se lermos a passagem toda devemos reparar que Isaías a "anunciar entre as Nações" os feitos de Deus. Porquê, não só para glorificar o nome de Deus mas também porque os feitos de Deus são a boa nova para todas as nações.

Segunda Leitura - Fl 4:4-7
Alegrem-se sempre no Senhor. Novamente direi: Alegrem-se! Seja a amabilidade de vocês conhecida por todos. Perto está o Senhor. Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus.
Muitas vezes temos a ideia dos Cristãos como tristes que estão sempre a pensar nos pecados que cometeram e a fazer penitências, ou então a lamentar-se por tudo o que na vida não podem fazer livremente e sem restrições (sexo, álcool, drogas, etc). Mas esta imagem do Cristão não é a imagem Bíblica. Talvez este problema já existisse nos tempos de São Paulo, pois vemos como ele repete para nos alegrarmos. Mas não é só para nos alegrarmos, pois podemos não coisas na nossa vida com que nos alegrar: alguns de nós podem estar doentes ou ter familiares doentes, outros com dificuldades financeiras ou outros com problemas sociais. São Paulo exorta-nos a alegrar-mo-nos não em abstrato, mas em concreto no Senhor. Pois as dificuldades da vida podem bater a porta de qualquer um e não sabemos quem está sem elas, mas qualquer Cristão se pode alegrar no Senhor, pois o Senhor não abandona nenhum daqueles que deposita em si a sua confiança, e com Ele vem a Sua paz, que como o apóstolo diz, "supera todo o entendimento".


Evangelho - Lc 3:10-18
"O que devemos fazer então?", perguntavam as multidões. João respondia: "Quem tem duas túnicas dê uma a quem não tem nenhuma; e quem tem comida faça o mesmo". Alguns publicanos também vieram para serem batizados. Eles perguntaram: "Mestre, o que devemos fazer?" Ele respondeu: "Não cobrem nada além do que foi estipulado". Então alguns soldados lhe perguntaram: "E nós, o que devemos fazer?" Ele respondeu: "Não pratiquem extorsão nem acusem ninguém falsamente; contentem-se com o seu salário". O povo estava em grande expectativa, questionando em seu coração se acaso João não seria o Cristo. João respondeu a todos: "Eu os batizo com água. Mas virá alguém mais poderoso do que eu, tanto que não sou digno nem de desamarrar as correias das suas sandálias. Ele os batizará com o Espírito Santo e com fogo. Ele traz a pá em sua mão, a fim de limpar sua eira e juntar o trigo em seu celeiro; mas queimará a palha com fogo que nunca se apaga". E com muitas outras palavras João exortava o povo e lhe pregava as boas-novas.
João foi aquele que anunciou a vinda de Jesus, ou como o texto diz, "as boas novas". João dava conselhos, respondendo à questão "o que devemos fazer". Um pormenor que vemos aqui é que João não ordenou aos soldados para deixarem de ser soldados, mostrando que por vezes a força é necessária para manter a ordem e em certos ofícios, ou talvez para salvar alguém de perigo, mas claro sem nunca nos esquecermos das palavras de Jesus que falam em dar a outra e amar o próximo como a nós mesmos. Mas o Cristianismo, embora os tenha, não é uma religião de bons conselhos, mas de boas notícias. Deus não nos diz o que devemos de fazer para chegar ao Céu, mas Ele faz por nós, e nós devemos apenas receber a sua oferta. Jesus dá-nos o batismo do Espírito Santo, que nos dá verdadeiro poder sobre a Criação para sermos os trabalhadores de Deus no mundo e executarmos a Sua vontade. Chegará o dia em que Deus mandará ceifar a Sua ceara, e nesse dia separá o trigo do joio, aqueles que receberam a Sua oferta e querem viver para sempre na Sua companhia e aqueles que, rejeitando a oferta de Deus, se separam d'Ele. E você, onde quer estar? No celeiro de Deus? O trabalho já está feito e pronto para ser recebido por si, e se o receber pode conhecer Deus pessoalmente, como um filho conhece um pai e um amigo conhece um amigo. Jesus vem aí, e Ele está de braços abertos para o receber.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

6 de Dezembro - O Advento

Hoje, em vez de termos uma reflexão semanal com os textos calendarizados como de costume, devo lembrar que estamos já no advento e perto do Natal, que é a data em que nós celebramos a Incarnação do Senhor, uma tradição que já está entranhada na nossa sociedade. O que é então este mistério da Incarnação?

Em primeiro lugar devemos falar sobre a palavra "mistério". Esta palavra muitas vezes no sentido de estarmos a falar sobre algo que não se pode compreender de maneira nenhuma, no entanto não é este o sentido em que a palavra deve ser compreendida. Um mistério de Deus é algo que na realidade nós Cristãos devemos compreender, pois é-nos revelado por Deus. Portanto um mistério é algo que compreendemos através da Revelação Divina e que não podemos compreender sem essa Revelação. Podemos ver isto em várias passagens da Bíblia como Col 2:1-3; Ef 3:2-6; Col 1:26-27 ou Mt 13:11-13). Há porém mistérios que Deus pode ainda não ter revelado e não compreendemos na totalidade, no entanto é possível compreender certos mistérios de Deus parcialmente através da capacidade racional que nos foi dada por Deus, e que devemos utilizar para o amar e glorificar, bem como para servir os outros, pois devemos também amar a Deus com "toda a nossa mente" (Lc 10:13).

Parece complicado decifrar o mistério da Incarnação, como pode Deus tornar-se homem? Os Patriarcas da Igreja debateram sobre este assunto. No seu primeiro Concílio, guiados pelo Espírito Santo para unir a Igreja, escreveram no Credo de Niceia acerca de Jesus: "Deus verdadeiro de Deus verdadeiro", afirmando a essência divina de Jesus. No Concílio de Calcedónia, mais explicitamente lemos "verdadeiramente Deus e verdadeiramente Homem". Mas é isto possível? Devemos clarificar o que queremos dizer quando dizemos que Jesus é Homem e Deus para não cair em confusão. 

Não estamos a dizer que Jesus tem uma natureza Humana e Divina ao mesmo tempo, nem estamos a dizer que há em Jesus duas pessoas, um humano e um divino, nem que Jesus é a pessoa de Deus Pai e também Humano, nem mesmo que é metade Deus e metade Humano. Estamos a dizer que a pessoa de Jesus tem duas naturezas, uma humana e outra divina. Sabemos que há um só Deus, no entanto este Deus não é um ser unipessoal como eu ou você mas sim um ser tripessoal, e uma dessas pessoas é Jesus. A natureza de algo mostra o que esse algo é, e a pessoa de algo mostra quem esse algo é. Portanto se perguntarmos quem é a segunda pessoa da Trindade, a resposta é a pessoa de Jesus. Se perguntarmos o que é a segunda pessoa da trindade, a resposta é Deus (natureza divina) e Homem (natureza Humana). 

Mas agora que já passámos os problemas filosóficos devemos voltar a Teologia e perguntar: porque é que Jesus veio ao mundo? Muitos diriam: para dar um exemplo moral de vida, outros talvez diriam que foi para nos mostrar milagres e nos fazer acreditar, outros que foi para nos ensinar doutrinas importantes. Jesus fez realmente todas estas coisas importantes, mas não foi por isso que Ele veio. Para nos ensinar doutrina e mostrar milagres Deus poderia ter feito sinais nos Céus ou enviado um dos seus profetas, ou até mesmo um anjo. Mas o que Jesus fez na sua vinda a Terra nenhum sinal no Céu, ou anjo, ou profeta poderia fazer. Jesus não veio para nos ensinar, nem para fazer milagres, nem para nos dar um exemplo, embora Ele também tenha feito todas essas coisas, Ele veio para morrer (Jo 12:27). Mas porquê? A resposta está em João 3:16:
Deus deseja tanto viver connosco para sempre e mostrar-nos quem Ele é, que foi capaz de nascer numa manjedoura, numa família pobre, num tempo de pouca qualidade de vida e com o ofício de carpinteiro para depois morrer de uma das formas mais brutais e humilhantes já inventadas por todo o mundo, incluindo aqueles que o estavam a pregar na cruz, e depois de tudo isto exclamou: 
"Perdoa-lhes Pai, porque não sabem o que fazem"
Este é o Deus dos Cristãos, e é por isso que nós o amamos tanto, porque Ele nos amou primeiro (1 Jo 4:19). Graças à Incarnação de Jesus podemos conhecer a Deus, ter os nossos pecados perdoados. Satanás apresente o pecado como benção, mas só vem para matar e destruir mas Jesus vem para termos vida, e a termos abundância (Jo 10:10). A Incarnação é o primeiro passo do plano de Deus para cada um de nós, é o primeiro passo da mais bela história já contada e vivida na Terra. Imagine todas aquelas pessoas que você ama, se não fosse a Incarnação de Jesus não haveria esperança para eles nem para si, mas apenas uma eternidade sem Deus. Assim, há esperança, dê Graças a Deus e espalhe a Boa Nova.

O que interessa no Natal não são as prendas, nem os doces, nem a árvore, nem o jantar em família, nem os presépios, nem mesmo a missa do galo! O que interessa no Natal é Jesus, e é para celebrar a sua vinda que nos devemos preparar neste tempo de Advento!

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

29 de Novembro - Procurai estar de pé diante do Filho do Homem

Nas leituras de hoje falamos das promessas de Deus e de alguns dos eventos que vão preceder o seu cumprimento.

Primeira Leitura - Jr 33:14-16
Dias virão", declara o Senhor, "em que cumprirei a promessa que fiz à comunidade de Israel e à comunidade de Judá. Naqueles dias e naquela época farei brotar um Renovo justo da linhagem de Davi; ele fará o que é justo e certo na terra. Naqueles dias, Judá será salva e Jerusalém viverá em segurança, e este é o nome pelo qual ela será chamada: O Senhor é a Nossa Justiça.
A maneira como S. Paulo pregava o Evangelho não era da maneira como ele é pregado hoje em dia. Nos dias dos apóstolos, as pessoas acreditavam na existência de um Deus, e as pessoas de Israel em particular acreditavam que o que chamamos hoje de "Antigo Testamento" era a palavra de Deus e tinha autoridade. Como sabemos, no AT encontram-se os livros dos profetas, como por exemplo Jeremias que aqui lemos hoje, que continham promessas ou profecias sobre o futuro. Então Paulo tentava demonstrar aos judeus que Jesus era aquele que cumpria as promessas feitas anteriormente (repare-se na repetição da expressão "de acordo com as escrituras" em  Cor 15:3-5). 
Neste passagem de Jeremias vemos precisamente uma promessa: o povo de Deus será salvo, mas como? Não pelos seus trabalhos ou mérito, mas pelo trabalho do Messias, por isso é que depois dizemos "O Senhor é a Nossa Justiça".

Salmo - Sl 25
A ti, Senhor, elevo a minha alma.
O que significa elevar a nossa alma ao Senhor? A palavra alma, em hebraico nefesh, é o sopro que dá vida aos nossos corpos, num certo sentido, o que nos faz vivos (não exatamente o mesmo que espírito, que em hebraico se diz ruach). Elevar a nossa alma ao Senhor, é portanto focar a nossa força de viver na Sua Glória e satisfazermo-nos nela. É conhecer a Deus pessoalmente, o que é claramente uma experiência inesquecível. Não é só isto, mas também colocar a nossa confiança na Sua Justiça e no Seu Amor, pois Ele salvou-nos do pecado e ama cada de um de nós.

Segunda Leitura - 1 Ts 3:12-13;4:1-2
Quanto ao mais, irmãos, já os instruímos acerca de como viver a fim de agradar a Deus e, de facto, assim vocês estão procedendo. Agora pedimos e exortamo-vos no Senhor Jesus que cresçam nisso cada vez mais. Pois conhecem os mandamentos que vos demos pela autoridade do Senhor Jesus. Que o Senhor faça crescer e transbordar o amor que vós tendes uns para com os outros e para com todos, a exemplo do nosso amor por vós. Que ele fortaleça o vosso coração para serem irrepreensíveis em santidade diante de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus com todos os seus santos.
Os mandamentos da Bíblia não vêm simplesmente das autoridades religiosas, mas sim da autoridade de Deus, de Jesus. 
Os mandamentos que Deus colocou na Sua palavra não são simplesmente proibições arbitrárias para ter um pretexto para nos condenar, mas algo com o propósito de nos ensinar a viver, de colocar o nosso coração mais perto do coração de Deus (Mt 19:16-17;Lc 18:18-20;Mc 10:17-19;Dt 11:8-9). E cumprir a Lei de Deus tem poder! Nenhum mero homem consegue cumprir toda a Lei, no entanto o Messias, Jesus Cristo, fê-lo e dá-nos todos os benefícios que isso mesmo trás. Para além disso o Espírito Santo que vive em nós permite-nos vencer o pecado e seguir a Lei de Deus, ficando assim mais próximos de'Ele. Embora a Lei por si não dê a vida e Salvação, que vem de Jesus Cristo e pela Fé, a Lei é muito importante porque ajuda a moldar os nossos corações.
Mas porque é que nós é que sabemos quais são estas leis? Não será arrogante afirmar que temos as leis absolutas da moralidade e do bem? Seria arrogante se pregássemos estas leis pela nossa própria autoridade, no entanto nem os apóstolos se atreviam a fazer tal coisa, como lemos, não é pela autoridade do Papa, nem do pastor, nem do padre, nem do bispo, nem do ancião, mas sim do Senhor Jesus.

Evangelho - Lc 21:25-36
Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na terra, as nações estarão em angústia e perplexidade com o bramido e a agitação do mar. Os homens desmaiarão de terror, apreensivos com o que estará sobrevindo ao mundo; e os poderes celestes serão abalados. Então se verá o Filho do homem vindo numa nuvem com poder e grande glória. Quando começarem a acontecer estas coisas, levantem-se e ergam a cabeça, porque estará próxima a redenção de vocês. Ele lhes contou esta parábola: Observem a figueira e todas as árvores. Quando elas brotam, vocês mesmos percebem e sabem que o verão está próximo. Assim também, quando virem estas coisas acontecendo, saibam que o Reino de Deus está próximo. Eu asseguro a vocês que não passará esta geração até que todas essas coisas aconteçam. Os céus e a terra passarão, mas as minhas palavras jamais passarão. Tenham cuidado, para não sobrecarregar o coração de vocês de libertinagem, bebedeira e ansiedades da vida, e aquele dia venha sobre vocês inesperadamente. Porque ele virá sobre todos os que vivem na face de toda a terra. Estejam sempre atentos e orem para que vocês possam escapar de tudo o que está para acontecer e estar em pé diante do Filho do homem.
Aqui vemos que todos devemos estar vigilantes, não devemos "desleixar-nos na Fé". Se um atleta deixar de treinar o seu corpo, ao longo do tempo ele perderá capacidades e quando chegar a hora da prova irá falhar. Assim é com o nosso espírito: se deixarmos de ler a palavra de Deus, de rezar, de confessar os nossos pecados e de praticar o bem, o nosso espírito começa a ficar doente e o pecado começa a entrar de novo na nossa vida. Jesus é claro nesta passagem que todos nós, crentes e não crentes devemos estar vigilantes para que possamos estar "em pé diante do Filho do Homem". No entanto não devemos temer este dia, pois se estamos com Jesus, este é o dia da nossa redenção, o dia em que o nosso melhor amigo vem para ficar connosco para sempre.
Esta passagem tem, no entanto, algo que também devemos observar, o que quis Jesus dizer com: "Eu asseguro a vocês que não passará esta geração até que todas essas coisas aconteçam."? Não pretendo nesta publicação resolver completamente este problema, que parece fazer de Jesus um falso profeta ao afirmar que o mundo ia acabar antes do ano 70 d.C.. Vou apenas apresentar algumas possíveis interpretações desta passagem:


  • Preterista: todos estes acontecimentos ocorreram na destruição do tempo em 70 d.C. (40 anos é uma geração, sendo que Jesus pregou entre 30 e 33, a sua profecia estaria correta). A linguagem é uma metáfora para este grande evento catastrófico. 
  • Geração do Futuro: A geração de que Jesus fala nesta passagem não é a geração das pessoas com quem ele está a falar naquele momento, mas sim a geração que experienciará todos aqueles sinais, ou seja, quando os sinais do fim começarem, o fim estará muito próximo.
  • Geração dos Judeus: A palavra geração, do grego γενεα (genea), também pode significar família ou raça. Logo o que Jesus pode estar aqui a dizer é que a raça dos judeus não se vai extinguir até ao fim dos tempos. Embora tenha estado perto de acontecer, a raça dos Judeus ainda existe nos dias de hoje, e portanto a profecia de Jesus ainda não foi falsificada. Ler mais aqui.


Pode consultar a abordagem de William Lane Craig aqui.


terça-feira, 1 de dezembro de 2015

22 de Novembro - Cristo Rei

Primeira Leitura (Dn 7:13-14)
"Em minha visão à noite, vi alguém semelhante a um filho de homem, vindo com as nuvens dos céus. Ele se aproximou do ancião e foi conduzido à sua presença. Ele recebeu autoridade, glória e o reino; todos os po­vos, nações e homens de todas as línguas o adoraram. Seu domínio é um domínio eterno que não acabará, e seu reino jamais será destruído.
Qualquer pessoa que já leu o Novo Testamento está familiarizado com a expressão "Filho do Homem", mas esta expressão significa muito mais do que aparenta. À primeira vista, parece que Jesus se chama a si mesmo o "Filho do Homem" para mostrar a sua natureza humana. No entanto esta passagem do livro de Daniel mostra o contrário: o Filho do Homem é uma figura divina, que recebe autoridade e o seu reino é para sempre. Podemos ver Jesus a confirmar isto quando diz que estará sentado à direita de Deus (Mc 14:62). Nas imagens do antigo testamento, nunca vemos um mero homem sentar-se à direita de Deus, pois isto significa dividir com Deus a posição de Rei do Universo. Por isso é que Jesus ao se chamar o Filho do Homem mostra não só a sua divindade, mas também a sua autoridade como Rei do Universo.

Salmo - Sl 93
O Senhor reina! Vestiu-se de majestade.
O salmo diz precisamente isso: o Senhor é o Rei do Universo, vestiu-se de majestade, e mais se vestirá quando voltar à Terra na sua Glória. 

Segunda Leitura (Ap 1:5-8)
João, às sete igrejas da província da Ásia: A vocês, graça e paz da parte daquele que é, que era e que há de vir, dos sete espíritos que estão diante do seu trono e de Jesus Cristo, que é a testemunha fiel, o primogénito dentre os mortos e o soberano dos Reis da terra. Ele nos ama e nos libertou dos nossos pecados por meio do seu sangue, e nos constituiu reino e sacerdotes para servir a seu Deus e Pai. A ele sejam glória e poder para todo o sempre! Amém. Eis que ele vem com as nuvens, e todo olho o verá, até mesmo aqueles que o trespassaram; e todos os povos da terra se lamentarão por causa dele. Assim será! Amém. "Eu sou o Alfa e o Ómega", diz o Senhor Deus, "o que é, o que era e o que há de vir, o Todo-poderoso".
João revela-nos aqui mais uma vez a nobreza de Jesus, o Rei. Mas como é que este Rei escolheu vir à Terra? Não foi em vestes magníficas nem com poder sobre os homens, mas nasceu numa manjedoura, foi  um pobre carpinteiro toda a vida, viveu num tempo em que não havia grandes condições de higiene e qualidade de vida era baixa e sofreu uma morte através de um dos meios mais diabólicos e humilhantes inventados pelo homem: a crucificação. Mas porquê? Por causa de ti, de mim, e não só por nós mas por todo o mundo (1 Jo 2:2). O Reino de Jesus é o Reino dos Céus, e é do Céu que somos cidadãos (Fl 3:20).




Evangelho (Jo 18:33-37)
Pilatos então voltou para o Pretório, chamou Jesus e lhe perguntou: "Você é o rei dos judeus?" Perguntou-lhe Jesus: "Essa pergunta é tua, ou outros te falaram a meu respeito?" Respondeu Pilatos: "Acaso sou judeu? Foram o seu povo e os chefes dos sacerdotes que o entregaram a mim. Que foi que você fez?" Disse Jesus: "O meu Reino não é deste mundo. Se fosse, os meus servos lutariam para impedir que os judeus me prendessem. Mas agora o meu Reino não é daqui". "Então, você é rei!", disse Pilatos. Jesus respondeu: "Tu dizes que sou rei. De facto, por esta razão nasci e para isto vim ao mundo: para testemunhar da verdade. Todos os que são da verdade me ouvem".
Pilatos pensava que Jesus poderia ser uma ameaça política ao seu reino terreno, mas Jesus é um cidadão do Céu, e o que Ele deseja não é ganhar território mas sim corações e almas. O trabalho de Deus é glorificar-se na sua relação com o Homem, e isso não passava por estabelecer um Reino físico em Israel, libertando Israel da escravidão dos Romanos, mas sim estabelecer o Reino de Deus no coração de cada um de nós, libertando-nos da escravidão de Satanás, que tem poder sobre nós sempre que fechamos os nosso corações a Deus. É por isso que Jesus diz "O Reino de Deus está no meio de vós" (Lc 17:20-21). O Cristo veio ao mundo para testemunhar esta grande verdade, e nós que somos os seus discípulos, os Cristãos, os pequenos Cristos, que carregam o Seu nome, temos o dever de ser também testemunhas d'Ele. 

domingo, 22 de novembro de 2015

15 de Novembro - O Fim dos Tempos

Primeira Leitura (Dn 12:1-3)
"Naquela ocasião Miguel, o grande príncipe que protege o seu povo, se levantará. Haverá um tempo de angústia como nunca houve desde o início das nações até então. Mas naquela ocasião o seu povo, todo aquele cujo nome está escrito no livro, será liberto. Multidões que dormem no pó da terra acordarão: uns para a vida eterna, outros para a vergonha, para o desprezo eterno. Aqueles que são sábios reluzirão como o fulgor do céu, e aqueles que conduzem muitos à justiça serão como as estrelas, para todo o sempre.
Daniel, o profeta, estava no exílio na Babilónia. Rodeado de pagãos, mas ele adorava o Senhor, Deus de Israel, e mesmo frente a perseguição e ameaças de morte. Vemos uma passagem apocalíptica, que expressão que normalmente é associada ao fim do mundo. No entanto, a palavra em grego (Αποκάλυψη), quer dizer algo como "revelação". Podemos dizer que aqui Daniel tem uma revelação, que neste caso é acerca do fim dos tempos e do juízo final. Muitos de nós, ao lermos estas passagens, tememos. Porquê? Talvez porque achamos que podemos ser castigados, talvez porque olhamos para a nossa vida e podemos não ser considerados 'sábios' ou 'aqueles que conduzem à justiça', talvez porque identificamos na nossa vida coisas que fizémos sobre as quais temos vergonha e reconhecemos que estão erradas, atitudes que não poderiam ser permitidas num paraíso, atitudes que falharam o objetivo que o Criador tinha para nós, que o deixariam desapontado e talvez até mesmo revoltado, a isso a Igreja chama de pecado. Ouvimos falar em justiça e ouvimos falar do Céu, e pensamos que talvez não somos bons o suficiente para lá entrar, um sítio tão Santo com um Deus tão Santo e nós com tantas coisas erradas, coisas que às vezes parecem demasiado más para serem perdoadas. Não só isto mas percebemos que temos uma tendência persistente para desejar estas coisas. A isto a Igreja  chama a Queda do Homem. 

O que devemos fazer é muitas penitências e muitas boas ações, pois assim podemos compensar as coisas que fizemos mal e no dia do juízo, perante Deus, ser considerados justos com base nestas coisas, certo? Mas será que conseguimos? Será que é possível com penitências apagar um mal que já foi feito, e será que com boas obras podemos ser Santos? Mais importante, será que com penitências e boas obras, só por nós, conseguimos tornar os nossos corações possíveis de habitar o Céu, eliminando as consequências da Queda do Homem? Eu acho que existe um caminho melhor, que é as Escrituras nos apresentam a seguir:

Segunda Leitura (Hb 10:11-18)
Dia após dia, todo sacerdote apresenta-se e exerce os seus deveres religiosos; repetidamente oferece os mesmos sacrifícios, que nunca podem remover os pecados. Mas, quando esse sacerdote acabou de oferecer, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à direita de Deus. Daí em diante, ele está esperando até que os seus inimigos sejam como estrado dos seus pés; porque, por meio de um único sacrifício, ele aperfeiçoou para sempre os que estão sendo santificados. O Espírito Santo também nos testifica a esse respeito. Primeiro ele diz: "Esta é a aliança que farei com eles, depois daqueles dias, diz o Senhor. Porei as minhas leis em seu coração e as escreverei em sua mente"; e acrescenta: "Dos seus pecados e iniquidades não me lembrarei mais". Onde esses pecados foram perdoados, não há mais necessidade de sacrifício por eles.
Afinal, oferecer sacrifícios do homem não é suficiente para remover os pecados, mesmo que seja o Sumo Sacerdote a oferecê-los. É preciso algo maior, algo infinito capaz de remover a consequência da ofensa perante um Deus Santo... perante um Pai Amoroso... Porque nós não somos os únicos que ficamos preocupados com o problema do nosso pecado, Deus, que nos ama, e quer viver a Eternidade connosco, preocupa-se ainda mais. O pecado é um problema sério. Querem ver o quão seriamente Deus leva o pecado? Olhem para a cruz! Jesus, o Filho Inocente, oferece-se pelos nosso pecados, removendo de nós a culpa que existia, o medo. A isto chama-se expiação. Assim, podemos chegar perante Ele no dia do juízo e não temer, não porque depositamos a nossa confiança nas nossas obras, mas a depositamos n'Aquele que morreu pelos nossos pecados, e esse nunca pecou e o seu sacrifício foi suficiente, de uma vez por todas! A isto chama-se justificação.
Porque Deus trabalha para a renovação da sua Criação que Ele tanto ama. E como pode a sua Criação agora corrompida viver em comunhão com Ele para sempre? E como pode ele torná-la perfeita sem destruir o pecado? Assim, esta é a solução de Deus: oferece o Seu Filho para destruir o pecado. Mas atrevo-me a dizer que isso não e o propósito de Deus, isso é apenas um meio para atingir o verdadeiro propósito de Deus: manifestar a Sua Glória. E como é que Deus manifesta a Sua Glória? Mostrando o seu atributo de Amor numa relação de comunhão com o Homem, e para isto Ele tem de ser santificado. Pois eis que o Homem tem de ter os seus pecados perdoados para viver para sempre com o seu Pai. E assim se cumpre a promessa de Deus: "Porei as minhas leis em seu coração e as escreverei em sua mente (...) "Dos seus pecados e iniquidades não me lembrarei mais" (Jr 31:33-34).

Neste momento faz todo o sentido introduzir o Salmo:
Salmo - Sl 16 
Protege-me, ó Deus, pois em ti me refugio.
Deus é verdadeiramente o nosso refúgio, pois graças a Ele estamos livres do pecado.

Evangelho (Mc 13:24-32)
Mas, naqueles dias, após aquela tribulação, 'o sol escurecerá e a lua não dará a sua luz; as estrelas cairão do céu e os poderes celestes serão abalados'. "Então verão o Filho do homem vindo nas nuvens com grande poder e glória. E ele enviará os seus anjos e reunirá os seus eleitos dos quatro ventos, dos confins da terra até os confins do céu. "Aprendam a lição da figueira: Quando seus ramos se renovam e suas folhas começam a brotar, vocês sabem que o verão está próximo. Assim também, quando virem estas coisas acontecendo, saibam que ele está próximo, às portas. Eu asseguro a vocês que não passará esta geração até que todas estas coisas aconteçam. Os céus e a terra passarão, mas as minhas palavras jamais passarão. Quanto ao dia e à hora ninguém sabe, nem os anjos no céu, nem o Filho, senão somente o Pai.
Aqui vemos Jesus, tal como Daniel, a falar do fim dos tempos. E agora pergunto: devemos temer o fim dos tempos? Mas qual o significado do fim dos tempos? O significado do fim dos tempos é a consumação do plano de Deus, é quando ele vem ceifar o que já foi semeado e deu bom fruto. É quando Deus se prepara para concluir o seu programa de restauração da Criação, é quando Deus se prepara para manifestar a Sua Glória. Se caminharmos com Ele, não devemos portanto temer, pois o fim dos tempos é a consumação da Boa Nova anunciada. Devemos é sempre estar vigilantes para ter a certeza que caminhamos com o Senhor quando Ele voltar, pois o dia e a hora nem os anjos do Céu sabem. Deus quer realmente renovar a sua Criação, para manifestar a sua Glória  numa relação de Amor e Comunhão com o Homem. Pois Deus ama para manifestar a Sua Glória e manifesta a sua Glória porque ama. Mas e se nós não amarmos Deus? Se nós não formos redimidos? Se os nossos pecados não forem perdoados, não podemos ser regenerados, e se não formos regenerados não podemos ser santificados, e assim não podemos entrar na nova Criação. Temos de ser portanto deixados de fora, vivendo sem Deus e apenas connosco e com os nosso pecados que ainda permanecem, que nos irão atormentar eternamente. Este é o castigo de Deus. Esta é a Ressurreição da vergonha e do desprezo eterno que Daniel falava. A isto a Igreja chama inferno. E não estou aqui a criar a cultura do medo, a dizer as pessoas que se tornem Cristãos por medo do inferno, mas faço esta pergunta: se durante a vida alguém foge de Deus e não quer a sua presença, se prefere o pecado ao perdão e a criatura ao Criador, porque razão essa pessoa deveria esperar que na próxima vida isso mudasse? Parece até bizarro achar que as pessoas que toda uma vida fogem de Deus se devem poder queixar porque não passam a eternidade com Ele. Cada um terá o destino que traçou, e ninguém poderá dizer a Jesus, enquanto contempla as chagas das suas mãos e as feridas do seu lado: "não tentaste que chegue, não me amaste o suficiente". 

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

8 de Novembro - A oferta dos homens e de Deus

Primeira Leitura - 1 Rs 17:10-16
E ele [Elias] foi. Quando chegou à porta da cidade, encontrou uma viúva que estava colhendo gravetos. Ele a chamou e perguntou: "Pode me trazer um pouco d'água numa jarra para eu beber?" Enquanto ela ia buscar água, ele gritou: "Por favor, traga também um pedaço de pão". Mas ela respondeu: "Juro pelo nome do Senhor, o teu Deus, que não tenho nenhum pedaço de pão; só um punhado de farinha num jarro e um pouco de azeite numa botija. Estou colhendo uns dois gravetos para levar para casa e preparar uma refeição para mim e para o meu filho, para que a comamos e depois morramos." Elias, porém, lhe disse: "Não tenha medo. Vá para casa e faça o que eu disse. Mas primeiro faça um pequeno bolo com o que você tem e traga para mim, e depois faça algo para você e para o seu filho. Pois assim diz o Senhor, o Deus de Israel: 'A farinha na vasilha não se acabará e o azeite na botija não se secará até o dia em que o Senhor fizer chover sobre a terra' ". Ela foi e fez conforme Elias lhe dissera. E aconteceu que a comida durou muito tempo, para Elias e para a mulher e sua família. Pois a farinha na vasilha não se acabou e o azeite na botija não se secou, conforme a palavra do Senhor proferida por Elias.
Havia uma grande seca na terra, pois o povo tinha abandonado Deus e prestado culto a Baal, e Elias foi enviado por Deus para longe e Deus prometeu sustento para ele, nomeadamente através desta viúva. Podemos em primeiro lugar, ver como esta viúva é generosa: mesmo tendo pouco ela faz a sua Elias. Depois vemos também como Deus muitas vezes providencia as coisas terrenas para nós quando precisamos delas para alcançar os seus planos, tal como Jesus referencia em Mt 6:31-34.

Salmo - Sl 146
Louve, ó minha alma, o Senhor.
O Senhor Deus é Aquele que nos criou, que nos deu existência, também é Ele contra quem nós muitas vezes pecámos, e que ainda assim nos perdoou, e a grande custo, ao custo do seu próprio sofrimento numa cruz. Mas na Sua vinda à Terra Ele não apenas morreu, como também nos ensinou como viver uns com os outros, nos abriu os olhos para as escrituras e nos deu um novo mandamento: "amai-vos uns aos outros como eu vos amei", e para além disso veio como servo e não como mestre, apesar de ser Ele Deus. Quando o seu corpo deixou fisicamente a Terra, assegurou-nos de que iria enviar o confortador, que é o seu Espírito Santo para nos guiar, e também que estaria sempre connosco até ao final dos tempos, nomeadamente na Comunhão do pão e do vinho. Para além disto, podemos chamar-lhe Pai e sobre nós também deu o poder sobre este mundo, para que façamos coisas maiores do que as que Ele fez como homem, não só coisas invisíveis mas também visíveis, como curar os doentes. Finalmente, sabemos que a sua essência é o Amor, que não morreu só pelos nossos pecados mas de todo o mundo, e ama toda a Humanidade com um grande amor, sempre à espera daquela ovelha perdida que há-de ser encontrada. É por isto que a nossa alma deve louvar o Senhor.




Segunda Leitura (Hb 9:24-28)
Pois Cristo não entrou em santuário feito por homens, uma simples representação do verdadeiro; ele entrou nos céus, para agora se apresentar diante de Deus em nosso favor; não, porém, para se oferecer repetidas vezes, à semelhança do sumo sacerdote que entra no Lugar Santíssimo todos os anos, com sangue alheio. Se assim fosse, Cristo precisaria sofrer muitas vezes, desde o começo do mundo. Mas agora ele apareceu uma vez por todas no fim dos tempos, para aniquilar o pecado mediante o sacrifício de si mesmo. Da mesma forma, como o homem está destinado a morrer uma só vez e depois disso enfrentar o juízo, assim também Cristo foi oferecido em sacrifício uma única vez, para tirar os pecados de muitos; e aparecerá segunda vez, não para tirar o pecado, mas para trazer salvação aos que o aguardam.
Nos tempos do antigo testamento todos os anos o sumo sacerdote fazia uma oferta a Deus para que os pecados do povo pudessem ser expiados. Este sacrifício era imperfeito, e na realidade o sumo sacerdote nunca poderia pagar pelos pecados do povo, já que ele tinha os seus próprios pecados para se preocupar, para além disso ele era apenas um ser finito. Para oferecer expiação pelos pecados do povo (do mundo, neste caso), é preciso alguém que seja infinito e sem pecado para oferecer esta expiação. Isto mostra que o sacrifício de Cristo era necessário para a redenção.
Mas o sacrifício não só era necessário, mas também foi suficiente. Por isso não precisamos de estar a pagar a Deus pelos nossos pecados com penitências e sacrifícios. Podemos fazer penitências como um exercício espiritual e oferecer sacrifícios (não de sangue, mas por exemplo dar esmolas) em ação de graças, mas sendo que o sacrifício de Jesus foi suficiente para a remissão dos pecados, os nosso sacrifícios nunca devem ser feitos com o intuito de possibilitar o perdão dos nosso pecados.
Por fim, vemos que o sacrifício de Cristo não só nos dá o perdão, bem como nos regenera e dá a Salvação, podendo assim ser Filhos de Deus. O que devemos fazer é aproximar-se d'Ele em humildade, pedir perdão e reclamar a herança que Ele nos deixou.

Evangelho - Mc 12:38-44
Ao ensinar, Jesus dizia: "Cuidado com os mestres da lei. Eles fazem questão de andar com roupas especiais, de receber saudações nas praças e de ocupar os lugares mais importantes nas sinagogas e os lugares de honra nos banquetes. Eles devoram as casas das viúvas, e, para disfarçar, fazem longas orações. Esses receberão condenação mais severa!". Jesus sentou-se em frente do lugar onde eram colocadas as contribuições e observava a multidão colocando o dinheiro nas caixas de ofertas. Muitos ricos lançavam ali grandes quantias. Então, uma viúva pobre chegou-se e colocou duas pequeninas moedas de cobre, de muito pouco valor. Chamando a si os seus discípulos, Jesus declarou: "Afirmo que esta viúva pobre colocou na caixa de ofertas mais do que todos os outros. Todos deram do que lhes sobrava; mas ela, da sua pobreza, deu tudo o que possuía para viver".
Começo por observar que aqui revemos a passagem da viúva que o livro dos Reis nos mostrou: tal como a viúva que deu a Elias do pouco que tinha, também esta deu, da sua pobreza, tudo o que tinha. O Cristão também é chamado a dar, tal como esta viúva. E não só em dinheiro, mas também em alma, a Deus. Pois Jesus chama cada um de nós, a, da sua pobreza em espírito, dar tudo o que tem a Deus.
Tantas vezes ouvimos as pessoas dizer: "vai a Igreja e ainda é pior do que os que não vão", ou a criticar as diversas atrocidades e hipocrisias que aconteceram na história da Religião organizada, cujos protagonistas se chamavam Cristãos. E algumas destas pessoas afastam-se da Igreja por esta razão, no entanto talvez estas pessoas devessem saber que Jesus, no seu tempo, fez as mesmas críticas e hoje também as faria. Nos dias de hoje talvez não fosse aos mestres da lei, mas talvez a alguns membros do clero, ou até mesmo das instituições governamentais. Vivem para as aparências apenas para receber a glória dos homens, mas sabemos que tais já receberam a sua recompensa (Mt 6:1-6). Jesus não quer hipócritas, mas sim pessoas que realmente o representam aqui, e representar Deus na Terra é uma grande tarefa. Tarefa essa que nós Cristãos, fomos incumbidos de carregar pelo nosso Rei, Jesus. Que cumpramos bem a nossa missão, para que não nos arrisquemos a que depois poemas como o seguinte possam ter fundo de razão:
No tempo em que os homens rudes imperavam
Os bandidos nas cruzes penduravam
Hoje que vivemos na época das luzes
No peito dos bandidos penduram cruzes

Álvaro de Campos

domingo, 8 de novembro de 2015

1 de Novembro - Quem são os Santos?

Hoje, como sabem, é feriado, dia de todos os Santos. O tema desta reflexão será precisamente o que as escrituras de hoje nos dizem sobre os Santos.

A Primeira Leitura de acordo com o calendário que estamos a seguir seria Ap 7:2-4 e 9-14, no entanto penso que começar por outra leitura do Apocalipse é mais importante:

Primeira Leitura - Ap 22:8-9
Eu, João, sou aquele que ouviu e viu estas coisas. Tendo-as ouvido e visto, caí aos pés do anjo que me mostrou tudo aquilo, para adorá-lo. Mas ele me disse: "Não faça isso! Sou servo como você e seus irmãos, os profetas, e como os que guardam as palavras deste livro. Adore a Deus!"

Infelizmente vemos muitas vezes Cristãos a caírem no erro de João e adorarem os Santos ou Anjos como Deus. Embora diferentes em santidade, em poder ou em natureza, os anjos e santos são "servos como nós" e não devem ser alvo da nossa adoração, pois assim caímos no erro da idolatria, ou seja adorar algo que não a Deus, pois Deus é o único que é digo de ser adorado. Embora a Igreja Católica seja onde muitas vezes estes abusos acontecem, a sua doutrina oficial não defende que se adorem os santos, mas que se pode pedir aos mesmos que intercedam por nós perante Deus, leia mais sobre isto aqui.






Salmo - Sl 24
Quem poderá subir o monte do Senhor? Quem poderá entrar no seu Santo Lugar?
Aquele que tem as mãos limpas e o coração puro, que não recorre aos ídolos nem jura por deuses falsos.

Ele receberá bênçãos do Senhor, e Deus, o seu Salvador, lhe fará justiça.
São assim aqueles que o buscam, que buscam a tua face, ó Deus de Jacó.
Costumo citar apenas um verso do salmo, mas desta vez achei importante citar mais, sendo que este salmo nos ensina verdades muito importantes. Nós, como Filhos de Deus, temos o privilégio de subir ao seu monte e entrar no seu Santo Lugar, mas será que já parámos para pensar como isto é possível? Deus é Santo e perfeito e nós não somos. Não tanto a pensar no facto de Deus poder não nos querer deixar entrar na sua presença, mas o próprio acontecimento parece impossível, tão impossível como um cubo de gelo estar dentro de um vulcão sem derreter. Parece que para entrarmos na presença de Deus devíamos também nós ser precisamente Santos. Quem pode então entrar na presença de Deus? "
Aquele que tem as mãos limpas e o coração puro, que não recorre aos ídolos nem jura por deuses falsos.". Eu confesso que eu no meu estado natural não sou assim, eu já sujei as minhas mãos com injustiça e violência, já tive no meu coração ódio e luxúria e já adorei ídolos como o dinheiro ou a glória dos homens, e no entanto aqui estou eu na presença de Deus, eu e milhões de Cristãos pelo mundo fora. Como é isto possível? Graças à morte de Jesus aqueles que quiserem subir ao monte Santo de Deus vão receber o perdão pelos seus pecados, ficando com as suas mãos limpas e pelo Espírito Santo vão ser regenerados e serão de coração puro. Por isso é que podemos dizer que "
São assim aqueles que o buscam, que buscam a tua face, ó Deus de Jacó.", pois sabemos que todos aqueles que buscam Deus de coração o vão encontrar (Jr 29:13). 
Muitas pessoas têm a ideia errada de que Deus procura os Santos para serem seus filhos, mas a verdade é que Deus procura os pecadores (que são todos) e graças ao trabalho de Deus neles estes tornam-se Santos. 

Segunda Leitura - 1 Jo 3:1-3
Vejam como é grande o amor que o Pai nos concedeu: sermos chamados filhos de Deus, o que de fato somos! Por isso o mundo não nos conhece, porque não o conheceu. Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser, mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é. Todo aquele que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, assim como ele é puro.
Em primeiro lugar devemos observar que somos filhos de Deus, mas que isto nos é concedido e não nasce connosco. É verdade que todos somos "filhos de Deus" no sentido de termos sido criados por Deus e todos somos filhos de Deus no sentido em que Deus nos ama. Mas nem todos somos filhos de Deus no sentido de termos uma relação de filho para Pai com Deus, e isso é óbvio observando o facto de que muitas pessoas não conhecem Deus. Deus quer ser o Pai de todos nós, e é o Pai de todos nós num certo sentido, no entanto, infelizmente e por nossa culpa, não tem a relação de Pai para filho com todos nós.
Como filhos de Deus podemos pedir a Deus, o nosso Pai, tal como Jesus diz (Lc 11:9-13):
"Por isso digo: Peçam, e será dado; busquem, e encontrarão; batam, e a porta será aberta. Pois todo o que pede, recebe; o que busca, encontra; e àquele que bate, a porta será aberta. Qual pai, do meio de vocês, se o filho pedir um peixe, em lugar disso lhe dará uma cobra? Ou, se pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai que está nos céus dará o Espírito Santo a quem o pedir!?"


E a oração do Senhor (conhecida como o Pai Nosso) reflete isto mesmo, pois está cheia de petições do início ao fim, pois Deus é uma pessoa e é Pai, e todo aquele que é Pai e ama se alegra em dar aos seus filhos. Portanto todos nós os Cristãos temos este imenso poder de pedir a Deus e saber que Ele é o nosso Pai (sim, Deus, o Deus do Universo todo é o nosso Pai) e nos ouve (sim, a nós, que vivem nesta pedrinha perdida no Cosmos que é  a Terra), e portanto não pensemos que só os "Santos" podem fazer milagres e interceder, qualquer um de nós que é filho de Deus tem o grande poder da oração e de ser ouvido.
Reparem como nós os Cristãos somos diferentes do mundo e semelhantes a Deus nesta passagem de João, o que só é possível, mais uma vez, devido ao trabalho de Jesus. Vemos assim que todos os que amam o Senhor recebem a sua promessa de serem filhos de Deus e são Santos, portanto não pensemos que os Santos são só os Santo Agostinhos e as Santas Marias, os Santos são os que seguem Deus, pois no Reino de Céus não haverá um só homem que não seja Santo nem um só homem que não tenha sido pecador.

Evangelho - Mt 5:1-12
Vendo as multidões, Jesus subiu ao monte e se assentou. Seus discípulos aproximaram-se dele, e ele começou a ensiná-los, dizendo: 
'Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o Reino dos céus. 
Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados.
Bem-aventurados os humildes, pois eles receberão a terra por herança.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão satisfeitos.
Bem-aventurados os misericordiosos, pois obterão misericórdia.
Bem-aventurados os puros de coração, pois verão a Deus.
Bem-aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus.
Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, pois deles é o Reino dos céus.
Bem-aventurados serão vocês quando, por minha causa, os insultarem, os perseguirem e levantarem todo tipo de calúnia contra vocês.
Alegrem-se e regozijem-se, porque grande é a sua recompensa nos céus, pois da mesma forma perseguiram os profetas que viveram antes de vocês.'
Lemos aqui o início do famoso sermão da montanha. Vemos que mais uma vez, aqueles que vão estar no Reino dos Céus estão longe de serem perfeitos, antes pelo contrário, eles são pobres em espírito, reconhecendo a sua pobreza, Deus os tornará fortes, pois como Deus diz a Paulo "A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza.". (2 Cor 12:9). Isto traduz-se depois na ânsia da vinda do Reino de Deus, naquela esperança de que Pedro fala na sua carta (1 Pe 3:15).
Também vemos que "ser Santo" não é fácil, e muitas vezes nos perseguirão, tal como perseguiram Jesus. É comum ouvir o povo dizer: "apenas um era perfeito, e mataram-no", e há grande sabedoria nestas palavras, pois os nossos corações endurecem-se e muitas vezes fogem da verdade e da vida para esconderem as suas faltas, mas sabemos que nada está escondido que não vá um dia ser revelado (Rm 2:16, Lc 12:2). Assim, Jesus assegura-nos por um lado que irá haver justiça no seu Reino (não só no sentido de punir o mal, mas num sentido mais profundo da palavra justiça, que realça mais a vitória do bem), que vai haver grande tribulação, pois as trevas tendem a lutar contra a luz, mas que não devemos temer, pois Deus estará por nós, e agora lembra-mo-nos que (Rm 8:31"Se Deus é por nós, quem será contra nós?".






quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Anúncio - Reflexão Semanal Mês de Outubro

Caros irmãos e amigos, durante o mês de Outubro não vai haver refexão semanal por motivos de disponibilidade. A próxima reflexão será a de dia 1 de Novembro que desta vez espero publicar a tempo e horas.

Em Cristo

domingo, 4 de outubro de 2015

20 de Setembro - Sabedoria, Justiça e Candidez

As leituras de hoje têm como propósito fazer-nos reflectir sobre a vida do Cristão e como ela se relaciona com o mundo que o rodeia. Como será que os outros vão olhar para nós? Qual deve ser a nossa atitude em relação aos outros? E mais importante, qual o papel de Deus nesta nossa relação com o mundo? Começamos aqui com uma leitura de um livro que não existe na Bíblia Protestante/Evangélica, no entanto independentemente de este livro ter tido ou não inspiração divina, podem sempre de lá tirar palavras sábias que talvez nos edifiquem.


Primeira Leitura - Sb 2:12-20 (livro Deutracanónico/Apócrifo)
Cerquemos o justo, porque ele nos incomoda; é contrário às nossas acções; ele nos censura por violar a lei e nos acusa de contrariar a nossa educação. Ele se gaba de conhecer a Deus, e se chama a si mesmo filho do Senhor! Sua existência é uma censura às nossas ideias; basta sua vista para nos importunar. Sua vida, com efeito, não se parece com as outras, e os seus caminhos são muito diferentes. Ele nos tem por uma moeda de mau quilate, e afasta-se de nosso caminhos como de manchas. Julga feliz a morte do justo, e gloria-se de ter Deus por pai. Vejamos, pois, se suas palavras são verdadeiras, e experimentemos o que acontecerá quando da sua morte, porque, se o justo é filho de Deus, Deus o defenderá, e o tirará das mãos dos seus adversários. Provemo-lo por ultrajes e torturas, a fim de conhecer a sua doçura e estarmos cientes de sua paciência. Condenemo-lo a uma morte infame. Porque, conforme ele, Deus deve intervir.
É verdade que nós como Cristãos devemos ser uma benção para o mundo, no entanto também é verdade que nós como Cristãos somos "pequenos Cristos", e sabemos que Cristo é "o caminho, a verdade e a vida" (Jo 14:6), e como já dizia o poeta romano Terêncio, "veritas odium parit", ou seja, "a verdade gera o ódio". Jesus reforça esta ideia várias vezes nos seus sermões (Mt 5:11-12Jo 15:18). Devemos então talvez perguntarmo-nos como é que é possível que Jesus tenha sido odiado pelo mundo, sendo ele a incarnação da bondade e do amor, e depois também porque é que os seus discípulos também são odiados. Acho que basta olharmos um pouco para dentro do nosso coração para compreender isto: tal como vemos nesta leitura aqui estudada, quando nos apercebemos que existe alguém mais recto e justo que nós, sentimos inveja e até raiva por reconhecer a nossa inferioridade. A única maneira de nós nos sentirmos bem perante Deus, que é infinitamente mais justo e recto que nós, é se formos humildes e o amarmos. Isto explica o facto de que apenas aqueles que amam Deus podem desfrutar do Céu, o que vem de acordo com os ensinamentos de Jesus quando Ele diz que a condenação aos que o rejeitam é que "os homens amaram as trevas, e não a luz, porque as suas obras eram más" (Jo 3:18-19).
Finalmente, podemos ver que a inclinação daquele que odeia o justo é de o tentar e também tentar a Deus. Esta é uma das tentações lançadas por Satanás a Jesus (Lc 4:9-12): "se és filho de Deus, atira-te daqui abaixo". E também foi precisamente isto que aconteceu a Jesus quando foi crucificado (Mt 27:41-43): "Salvou os outros, mas não é capaz de salvar a si mesmo! (...) Que Deus o salve agora se dele tem compaixão, pois disse: 'Sou o Filho de Deus!'". Todos estes textos têm em comum o ódio pela condição de ser filho de Deus. Se formos Cristãos então muito deste ódio nos esperará, pois está escrito "Amados, agora somos filhos de Deus" (I Jo 3:2), mas também como Cristãos não devemos responder com ódio (como o mundo), mas como amor (como Cristo): "amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem" (Mt 5:44).


Salmo - Sl 54
É o Senhor que me sustém.
Vimos que o Cristão, sendo justo e filho de Deus, é odiado. Mas não somos nós todos pecadores? Sim, somos. Mas não é verdade que os filhos de Deus viverão na justiça? Sim, é. Devemos então perguntar-nos como é que isto acontece. O Salmo de hoje diz-nos isso: "É o Senhor que me sustém". A transformação que deve existir em todos os Cristãos provém de Deus, e portanto a nossa justiça (ou rectidão) é na realidade a de Deus que vive em nós (II Cor 5:21), de forma a que possamos ser um testemunho para o mundo através das nossas boas obras (Ef 2:10), sendo elas a manifestação do amor pelos irmãos, que é o maior sinal do Cristão (Jo 13:35).


Segunda Leitura - Tg 3:16-4:3
Pois onde há inveja e ambição egoísta, aí há confusão e toda espécie de males. Mas a sabedoria que vem do alto é antes de tudo pura; depois, pacífica, amável, compreensiva, cheia de misericórdia e de bons frutos, imparcial e sincera. O fruto da justiça semeia-se em paz para os pacificadores. De onde vêm as guerras e contendas que há entre vocês? Não vêm das paixões que guerreiam dentro de vocês? Vocês cobiçam coisas, mas não as têm; matam e invejam, mas não conseguem obter o que desejam. Vocês vivem a lutar e a fazer guerras. Não têm, porque não pedem. Quando pedem, não recebem, pois pedem por motivos errados, para gastar em seus prazeres.
Vemos aqui que Tiago contrasta sabedoria com a inveja e ambição, isto é na minha opinião um sinal de que o Cristão deve ser sábio e também se interessar pela Ciência e compreensão do mundo, que é a obra de Deus (Sl 111:2), contrastando com o movimento anti-ciência e anti intelectual de algumas Igrejas que acabam por manchar a imagem dos Cristãos no mundo. 
A petição é muito importante, já que a oração do Senhor, conhecida comummente como o "Pai Nosso" está cheia de petições a Deus, pois isso é uma forma de relação com Ele. No entanto devemos pedir no Espírito e em nome de Jesus (Jo 14:14). E isto não significa simplesmente acrescentar "peço isto em nome de Jesus" no final de cada oração, mas sim pedir também um pouco como Jesus pedia. E como é que Jesus pedia? Jesus pedia principalmente para benefício dos outros e para a glória de Deus, e é também importante lembrar que estes dois conceitos não estão em conflito directo como muita gente por vezes pensa, mas complementam-se uns ao outro: Deus glorifica-se no amor e bem que trás ao homem, que por sua vez amando Deus pode receber proveito de contemplar a Sua glória, glorificando assim Deus. Podemos ver exemplos destes temas nas petições e milagres de Jesus no episódio de Lázaro (Jo 11:40-42), na cura dos doentes (Mt 14:14), e claro da sua oração quando enfrentava a morte (Lc 22:41-44)

Evangelho - Mc 9:30-37
Eles saíram daquele lugar e atravessaram a Galileia. Jesus não queria que ninguém soubesse onde eles estavam, porque estava ensinando os seus discípulos. E lhes dizia: "O Filho do homem está para ser entregue nas mãos dos homens. Eles o matarão, e três dias depois ele ressuscitará". Mas eles não entendiam o que ele queria dizer e tinham receio de perguntar-lhe. E chegaram a Cafarnaum. Quando ele estava em casa, perguntou-lhes: "O que vocês estavam discutindo no caminho?" Mas eles guardaram silêncio, porque no caminho haviam discutido sobre quem era o maior. Assentando-se, Jesus chamou os Doze e disse: "Se alguém quiser ser o primeiro, será o último, e servo de todos". E, tomando uma criança, colocou-a no meio deles. Pegando-a nos braços, disse-lhes: "Quem recebe uma destas crianças em meu nome, está me recebendo; e quem me recebe, não está apenas me recebendo, mas também àquele que me enviou".
É interessante ver a frase de Jesus: "O Filho do homem está para ser entregue nas mãos dos homens. Eles o matarão, e três dias depois ele ressuscitará", onde vemos claramente o carácter de Deus: enviou o seu próprio Filho para morrer por aqueles que o haviam de matar. Esse é o meu Deus! Assim podemos entender a razão pela qual S. Paulo diz que devemos gloriar-nos na Cruz (Gl 6:14).
Os primeiros Cristãos não buscavam riquezas e glória dos homens, mas eram antes perseguidos e excluídos da sociedade. É inacreditável como depois de termos lido tudo o que está escrito nas leituras de hoje é possível que a opinião geral das pessoas seja que se segue a Igreja para "ficar melhor na vida", ter regalias e luxos e associarem-se os Cristãos com a aristocracia e as classes altas da sociedade, quando Jesus proferiu frases como "É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus" (Mt 19:24). Isto acontece devido ao facto de muitos que diziam ser Cristãos terem usado o nome de Cristo para o seu benefício pessoal, mas cabe-nos a nós Cristãos de hoje restituir a imagem de Cristo à Igreja Cristã, servindo os outros, tal como Jesus aqui diz. E mais uma vez Jesus não é o Mestre que ordena ao seu servo fazer algo de que Ele próprio não é capaz, pois lemos que "O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir" (Mt 20:28) e temos o clássico exemplo de Jesus a lavar os pés a Pedro, para grande surpresa do mesmo (Jo 13:5-6), mostrando que realmente o maior (Jesus) é o servo.
Finalmente vemos abordada a condição de ser criança, que nos lembra a condição do homem antes da queda e corrupção, que procura sem malícia e os seus pedidos são precisamente no espírito que Tiago acima descreveu, Jesus aqui também nos fala da natureza do próprio Deus, Pai bondoso e amoroso, pois Ele elege as crianças como os principais exemplos para os habitantes do seu Reino.

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

13 de Setembro - Quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á

Depois de meditarmos a fieldade de Deus na semana passada, vemos nesta semana como Jesus exige de nós uma dedicação total à vida Cristã, dedicação essa que mesmo para verdadeiros Cristãos é por vezes difícil de satisfazer.

Primeira Leitura - Is 50:5-9
O Soberano, o Senhor, abriu os meus ouvidos, e eu não tenho sido rebelde; eu não me afastei. Ofereci minhas costas àqueles que me batiam, meu rosto àqueles que arrancavam minha barba; não escondi a face da zombaria e dos cuspes. Porque o Senhor, o Soberano, me ajuda, não serei constrangido. Por isso eu me opus firme como uma dura rocha e sei que não ficarei decepcionado. Aquele que defende o meu nome está perto Quem poderá trazer acusações contra mim? Encaremo-nos um ao outro! Quem é meu acusador? Que ele me enfrente! É o Soberano, o Senhor, que me ajuda. Quem irá me condenar? Todos eles se desgastam como uma roupa; as traças os consumirão. 
A passagem que lemos aqui poderia muito bem ter sido retirada diretamente do Novo Testamento já que retrata na perfeição o Sacrifício de Jesus. Também Isaías nos convida a ser como Jesus, não por sermos fortes mas porque Deus, o Soberano, está connosco. Graças ao Sacrifício de Jesus ninguém nos pode acusar (Rm 8:33), mas não nos podemos esquecer que aquele que é como Jesus é um Cristão, ou seja, um pequeno Cristo, e portanto pode muito bem também ele sofrer muito nesta vida. Mas não em vão! Algumas pessoas pensam que Deus se alegra em ver o nosso sofrimento. Deus não deseja o nosso sofrimento, no entanto às vezes é preciso ou para ser fortalecido espiritualmente e na Fé, ou tal como Jesus, para sofrer para ajudar os outros, pois não há maior prova de amor que dar a vida pelos amigos (Jo 15:13), e amar é estar perto de Jesus e conhecer Deus (I Jo 4:7).

Salmo - Sl 115
Andarei na presença de Deus, junto a ele, na terra dos vivos.
Mas uma vez vemos o tema da proximidade com Deus. A Fé é a confiança em Deus e o início da relação com Deus, e esta deve crescer à medida que nos aproximamos de Deus. E como nos aproximamos de Deus? Não só pela oração, pelo jejum e outros exercícios espirituais, mas também sendo como Ele. Ele coloca-nos em situações difíceis mas está sempre lá para nós. É importante também realçar que o discipulado não é para mostrarmos a Deus que somos verdadeiros na Fé, e embora haja evolução espiritual em nós também não é esse o propósito do discipulado. O maior propósito do discipulado é testemunhar aos outros Deus para Ele seja glorificado e também para os outros poderem virar-se para Ele.






Segunda Leitura - Tg 2:14-18
De que adianta, meus irmãos, alguém dizer que tem fé, se não tem obras? Acaso a fé pode salvá-lo? Se um irmão ou irmã estiver necessitando de roupas e do alimento de cada dia e um de vocês lhe disser: "Vá em paz, aqueça-se e alimente-se até satisfazer-se", sem porém lhe dar nada, de que adianta isso? Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta. Mas alguém dirá: "Você tem fé; eu tenho obras". Mostre-me a sua fé sem obras, e eu mostrarei a minha fé pelas obras.
Vemos aqui um dos textos mais debatidos de sempre, especialmente depois da Reforma Protestante. Será que somos salvos pela Fé ou também pelas obras? Os Protestantes tendem a afirmar a incapacidade do Homem de merecer o Céu e defendem a célebre doutrina Sola Fide, ou seja "Fé Somente", apelando a passagens como Rm 3:28. Por outro lado os Católicos referem textos como este que lemos aqui e outros como Mt 25:31-46 e defendem que as obras tomam parte na nossa Salvação de uma maneira mais forte que os Protestantes, mas sendo que a doutrina Católica sobre este assunto é muito complexa e normalmente caricaturada pelos seus detratores eu vou encaminhar o leitor para os documentos oficiais do Concílio de Trento  de modo a que possa ler a doutrina Católica pelas palavras da própria Igreja Católica.
O que se segue é um resumo de uma prespetiva algo complexa que tenho sobre este assunto e que ainda estou a desenvolver, mas posso dizer que em geral me aproximo mais da ideia Protestante do que Católica: Primeiro é importante compreender em que sentido as obras contribuem para a nossa Salvação. Certamente que não é num sentido de mérito, pois como podemos nós, homens, realizar obras grandiosas o suficiente para merecer a bênção eterna? Todos nós somos pecadores e nenhum de nós é bom o suficiente para merecer o perdão e a graça de Deus (Rm 3:23). Mas isso não quer dizer que Deus não nos dê essa graça, pois Deus é amor (I Jo 4:8) e quer a nossa Salvação. Então como é que acedemos à Salvação de Deus? Pela Fé! (Rm 10:9) Pela Fé recebemos o Espírito de Deus e tornamo-nos Filhos de Deus (Jo 1:12). E se formos realmente Filhos de Deus, o que faremos? Embora não sempre, porque os Cristãos também pecam, mas faremos boas obras como evidência da nossa Salvação, pois uma boa árvore dá bom fruto e uma má árvore dá mau fruto (Mt 7:17).
No entanto Tiago parece estar aqui a dizer que a Justificação é realmente também pelas obras (e continua a dizê-lo neste Capítulo), uma possível harmonização especulativa será dizer que as obras podem não ser apenas evidência da nossa Salvação, mas também podem contribuir para ela, mas de uma maneira não meritória: quando realizamos uma boa obra em Deus, exercemos na realidade um ato de Fé perante Deus, ato esse que será visto por Deus tal como outros atos de Fé (como confessar o Senhor), e para além disso tornamos o nosso coração mais como o de Deus e ficamos mais perto d'Ele (Mt 6:19-21). À Fé que não produz este tipo de obras e que apenas é uma "Fé" de acreditar, a essa Tiago chama de Fé morta e de nada serve. 

Evangelho - Mc 8:27-35
Jesus e os seus discípulos dirigiram-se para os povoados nas proximidades de Cesareia de Filipe. No caminho, ele lhes perguntou: "Quem o povo diz que eu sou?" Eles responderam: "Alguns dizem que és João Batista; outros, Elias; e, ainda outros, um dos profetas". "E vocês?", perguntou ele. "Quem vocês dizem que eu sou?" Pedro respondeu: "Tu és o Cristo". Jesus os advertiu que não falassem a ninguém a seu respeito. Então ele começou a ensinar-lhes que era necessário que o Filho do homem sofresse muitas coisas e fosse rejeitado pelos líderes religiosos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos mestres da lei, fosse morto e três dias depois ressuscitasse. Ele falou claramente a esse respeito. Então Pedro, chamando-o à parte, começou a repreendê-lo. Jesus, porém, voltou-se, olhou para os seus discípulos e repreendeu Pedro, dizendo: "Para trás de mim, Satanás! Você não pensa nas coisas de Deus, mas nas dos homens". Então ele chamou a multidão e os discípulos e disse: "Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida a perderá; mas quem perder a sua vida por minha causa e pelo evangelho a salvará.
Se calhar se perguntarmos aos Homens, talvez até mesmo àqueles que se chamam Cristãos, quem é Jesus, muitos vão responder que era um bom profeta ou um bom homem. Mas um homem que disse que era Deus, que ia julgar o mundo e que a Salvação se baseava n'Ele e estava errado pode ser um bom homem!? Eu acho que não. Jesus podia ter sido um grande charlatão, um lunático ou então quem Ele disse que era, mas certamente não foi "apenas um bom homem". Devemos responder como Pedro respondeu "Tu és o Cristo", que quer dizer Messias, Aquele que ia cumprir o plano de Deus e salvar o Mundo. 

Sabemos que o primeiro a dar exemplo deve ser aquele que comanda, e é precisamente isso que Jesus faz: Ele não nos pede para darmos a Nossa vida por Ele (e pelos outros) sem dar primeiro a Sua por nós! Pedro, no entanto, vendo apenas as coisas dos Homens (o conforto, o instinto de salvar a sua vida, o egoísmo) diz a Jesus que Deus não irá permitir a Sua morte. Mas Jesus, que é de Deus e vive pelas coisas de Deus, que é Amor, deseja na realidade dar a Sua vida pelos pecadores que desobedeceram às suas Leis e até estão prestes a crucificá-lo! Este é o Deus do Cristianismo e por isso Ele repreende Pedro tão vigorosamente, pois Satanás nunca se apresenta como mau, mas disfarçado de anjo, e neste caso sugerir que Jesus, um homem tão bom, fosse poupado da morte que não merecia parecia sensato, mas seria a condenação de todos nós... Finalmente vemos a célebre frase
 "Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida a perderá; mas quem perder a sua vida por minha causa e pelo evangelho a salvará."
É muito importante nos lembrarmos desta frase nos dias de hoje, em que cada vez os movimentos de "auto-afirmação" são populares e até se infiltram na Igreja! "Encontra o bem que há dentro de ti, afirma-te e estarás no caminho certo" é o que ouvimos dizer, mas Jesus diz "Reconhece o mal que há dentro de ti, procura o bem que está em Deus, nega-te a ti mesmo e segue-me pois Eu sou o caminho". Que nós vivamos as nossas vidas por Jesus, como Ele viveu, tomando a Sua cruz e seguindo-o, dando a vida pelos nosso irmãos. E que também não pensemos que esta passagem quer dizer que o Cristão será infeliz, já que Pedro nos fala de "alegria indizível e gloriosa" para os que estão em Jesus Cristo (1 Pe 1:8). O paradoxo resolve-se desta maneira: para aqueles que vêm as coisas dos Homens a vida Cristã é apenas uma grande cruz e não há nela alegria, mas para aqueles que vêm as coisas de Deus, a sua cruz, porque é em amor a Deus e ao próximo, por muitas dificuldades que traga é depois vista com grande alegria.