sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Reflexão 25 de Dezembro - Feliz Natal


Caros amigos, hoje celebramos o Natal, a Incarnação de Deus em Jesus Cristo, o início do maior ato de amor da história da humanidade. Quero hoje apenas olhar para a seguinte passagem do Evangelho segundo Lucas (Lc 2:8-11):
Havia pastores que estavam nos campos próximos e durante a noite tomavam conta dos seus rebanhos. E aconteceu que um anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor resplandeceu ao redor deles; e ficaram aterrorizados. Mas o anjo lhes disse: "Não temais. Trago-vos boas-novas de grande alegria, que são para todo o povo: Hoje, na cidade de David, nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor.
 Nesta passagem vemos vários elementos da mensagem de Deus:


  • Não temais - Deus está connosco e não devemos temer a sua presença. É bom ter temor de Deus, mas não temer a presença de Deus no nosso coração. Confrontados com as nossas imperfeições e pecados, tememos a presença de Deus pois esta irá expor essas mesmas faltas. No entanto o Senhor está do nosso lado, Ele deseja a nossa Salvação, e tornou-se homem mesmo por isso. Se chamarmos o Senhor ao nosso coração, por muitos pecados que tenhamos estes serão perdoados e a paz será nossa. Pois Deus é amor (1 Jo 4:8) e o perfeito amor expulsa o medo (1 Jo 5:18).
  • Trago-vos boas novas de grande alegria- A mensagem Cristã é muitas vezes apresentada como bons conselhos e não boas notícias: fazei isto e isto e irás para o Céu. É verdade que a mensagem de Deus inclui muitos conselhos, no entanto a mensagem do anjo foi de boas-notícias: eis que nasce Jesus, eis que aqui está o que foi prometido, eis que Deus se prepara para consumar o seu plano de Salvação de toda a Criação. Como resultado do que aconteceu, o mundo tornou-se um lugar diferente.

  • Que são para todo o povo - A oferta de Deus é Universal, é para todos, tal como vemos no verso mais famoso da Bíblia, Jo 3:16 - "Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigénito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.". Nós associamos o Natal aos jantares de família, à boa comida, ao quentinho da lareira, ou até a um certo ritual religioso como ir à missa do galo. Este Natal do mundo tem coisas boas e que podem ser incluídas no nosso Natal, mas apenas como aspetos secundários, pois essas não são a essência do Natal Cristão. Não poderiam ser, pois se fossem esta Escritura seria falsa: há muita gente no mundo que vive na solidão e não tem família para passar o Natal, outros que não têm comida pois vivem na pobreza, e outros não têm a liberdade de ir à igreja no Natal, para estes o Natal do mundo não serve. No entanto não há nenhuma pessoa neste mundo, desde o mais pequeno ao maior, à qual Jesus não convide para tomar parte na sua vida e entrar no seu coração. Não há ninguém que não precise de um Salvador, e à qual esta boa nova não tenha sido dirigida. O Natal Cristão é para todos.
  • Nasceu Jesus, o Salvador - Porque é que nos nasceu um Salvador? Porque precisamos de ser salvos. Do quê? Pergunta o nosso mundo moderno convicto de si mesmo e cheio do vazio de Deus. Precisamos de ser salvos de nós próprios, dos nossos pecados, do nosso ódio, da nossa luxúria, que no fim resulta na separação de Deus, resulta numa morte da alma, que vive para toda a eternidade. Mas Jesus não quer tal destino para ninguém, Jesus ama-te tanto que preferiu tornar-se um homem e morrer numa cruz do que passar o resto da eternidade sem ti. Dizem que se formos todos especiais então nenhum de nós é, mas eu discordo. Este é o sentido em que tu és especial: mesmo que só tu existisses no mundo, Ele viria para ti. 

O meu apelo é este: se ainda não o fizeste, neste Natal, deixa que Jesus não nasça só na manjedoura mas também lá bem dentro do teu coração. Um feliz Natal.

domingo, 20 de dezembro de 2015

20 de Dezembro - Deus mostra-nos a sua face

Na última reflexão semanal antes do Natal vamos examinar alguns textos que anunciam não só a vinda de Jesus como Rei, mas também como aquele que cumpre a vontade de Deus e permite que vejamos a sua face, pois esse é o propósito de Deus. Vemos brevemente o papel de Maria nesta história com oportunidade para contemplar aspetos da sua santidade.

Primeira Leitura - Mq 5:1-4
Reúna suas tropas, ó cidade das tropas, pois há um cerco contra nós. O líder de Israel será ferido na face, com uma vara. Mas tu, Belém-Efrata, embora pequena entre os clãs de Judá, de ti virá para mim aquele que será o governante sobre Israel. 
Suas origens estão no passado distante, em tempos antigos. Por isso os israelitas serão abandonados até que aquela que está em trabalho de parto dê à luz. Então o restante dos irmãos do governante voltará para unir-se aos israelitas. Ele se estabelecerá e os pastoreará na força do Senhor, na majestade do nome do Senhor, o seu Deus. E eles viverão em segurança, pois a grandeza dele alcançará os confins da terra.
O profeta Miqueias, que viveu por volta dos séculos VII ou VIII a.C., experienciando portanto a invasão de Judá em 701 pela Assíria. Ele aqui anuncia a vinda do Messias, daquele que libertará o povo, do grande Rei que governará Israel, e este é Jesus, nascido em Belém. O Natal é um tempo importante porque também nos lembra que Deus cumpre as suas promessas. Há diversas profecias no Antigo Testamento que foram cumpridas no nascimento, vida e morte de Jesus, e não devemos subestimar estas profecias, nem aquelas que ainda não se cumpriram pois se referem ao futuro, já que Deus é fiel à sua palavra. 
Estas palavras de Miqueias hoje confirmam para nós o que sabemos sobre Jesus: que todos aqueles que n'Ele confiam estão 'em segurança', e que a sua grandeza alcança os confins da Terra. Nós Cristão, somos co-trabalhadores com Deus, e devemos trabalhar par que o Evangelho seja pregado em todas as Nações, tal como Jesus nos comandou (Mt 28:18-20).

Salmo - Sl 80
Faz resplandecer sobre nós o teu rosto, para que sejamos salvos.
Neste Salmo o orador lembra-se de tudo o que aconteceu ao povo de Israel, e roga a Deus para que os restaure e lhes mostre o seu rosto. Porque é tão importante ver o rosto de Deus? Porque conhecer a Deus (não saber coisas sobre Deus) é a essência da Vida Eterna. A Salvação é, no fundo, a passagem da morte para a vida, a passagem da vida que decai para aquela que é eterna e não decai. A Vida Eterna, no sentido Bíblico, não é meramente existir para sempre, mas sim viver para sempre da melhor forma. Por isso é que Jesus nos disse que a Vida Eterna é conhecer a Deus (Jo 17:3). O Natal é portanto esta grande revelação de Deus, mostrando a sua face aos homens tornando-se Ele mesmo Homem e vivendo connosco. E depois, graças à sua morte, liberta-nos do pecado para que possamos realmente conhecer a Deus para sempre. Pois Deus quer conhecer e ser conhecido, quer amar e ser amado, quer glorificar e ser glorificado.

Segunda Leitura (Hb 10:5-10)
Por isso, quando Cristo veio ao mundo, disse:
"Sacrifício e oferta não quiseste, mas um corpo me preparaste; de holocaustos e ofertas pelo pecado não te agradaste. Então eu disse: 'Aqui estou, no livro está escrito a meu respeito; vim para fazer a tua vontade, ó Deus'". 
 Primeiro ele disse: "Sacrifícios, ofertas, holocaustos e ofertas pelo pecado não quiseste nem deles te agradaste" (os quais eram feitos conforme a Lei). Então acrescentou: "Aqui estou; vim para fazer a tua vontade". Ele cancela o primeiro para estabelecer o segundo. Pelo cumprimento dessa vontade fomos santificados, por meio do sacrifício do corpo de Jesus Cristo, oferecido uma vez por todas.
Vemos aqui uma espécie de diálogo entre Jesus e o Pai, explicado pelo escritor da carta aos Hebreus (que não sabemos ao certo quem foi). Os sacrifícios que eram oferecidos no Antigo Testamento nunca foram o ideal de Deus, pois eles não podem pagar pelo pecado. Várias vezes na Bíblia Deus diz que não são os sacrifícios animais que Ele deseja por parte do Homem (por exemplo Is 1:11). A razão pela qual estes sacrifícios foram instituídos sai fora do âmbito desta publicação. 
Jesus vem portanto fazer a vontade de Deus: Ele vem tornar possível o perdão do Homem, bem como a sua Santificação, para que a Comunhão com Deus e a renovação de toda a Criação seja possível para sempre, e assim o propósito de Deus pode ser cumprido. Jesus é o derradeiro sacrifício, e nunca devemos tentar acrescentar ao que Ele fez: nenhuma das nossas penitências e ofertas paga pelos nossos pecados, e por eles nunca devemos tentar pagar. Se um homem generoso me oferecer um grande conjunto de propriedades e eu lhe oferecer um euro por elas, é uma ofensa. Eu posso oferecer-lhe algo em gratidão, mas nunca pagar por aquilo que de graça recebi. E de graça recebi porque nunca pelo que recebi poderia eu pagar. 
Como nota adiciona, é por isso que denominações que "oferecem sacrifícios a Deus" nas suas celebrações, são por vezes alvo de controvérsia. Isto acontece com a Igreja Católica, que afirma que em todas as missas, o sacrifico de Jesus é novamente apresentado a Deus, e que realmente paga pelos pecados, no entanto com a salvaguarda que o sacrifício de Jesus e o que acontece na missa são um e um só sacrifício. O estudo da teologia da apresentação de sacrifícios a Deus, olhando para o que cada denominação pensa, o que pensaram os patriarcas e o que dizem as Escrituras é complexo e fica portanto fora do âmbito desta publicação.

Evangelho - Lc 1:39-45
Naqueles dias, Maria preparou-se e foi depressa para uma cidade da região montanhosa da Judeia, onde entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o bebé agitou-se em seu ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Em alta voz exclamou: "Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o filho que tu darás à luz! Mas por que sou tão agraciada, ao ponto de me visitar a mãe do meu Senhor? Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, o bebé que está em meu ventre agitou-se de alegria. Feliz é aquela que creu que se cumprirá aquilo que o Senhor lhe disse!"

Este texto permite a reflexão acerca da santidade de Maria. Maria é santa porque nela viveu Deus mesmo, no seu ventre esteve aquele que havia de morrer pelos pecados de todo o mundo. Daí Maria ser bendita entre as mulheres. Na verdade,

é a única mulher na história que foi mãe de Deus. Mas lembre-mo-nos também que Maria é humana como nós, e precisava da Salvação como nós. Digo isto porque muitas vezes certas pessoas falam de Maria como se ela fosse divina e tivesse poderes em si mesma. É controverso se os Santos depois da sua morte intercedem pelos homens e ouvem as nossas orações, no entanto, mesmo que o façam, certamente que todos os milagres que resultem dessa mesma intercessão são de Deus, da mesma maneira que quando pedimos a um amigo ainda neste mundo para orar por nós e um certo milagre acontece esse milagre é de Deus, e não dele. Desejo que a Virgem seja hoje para nós um exemplo, pois ela obedeceu a Deus e creu, ou seja, confiou-Lhe a sua vida. E por isso disse ao anjo: "Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra." (Lc 1:38).


terça-feira, 15 de dezembro de 2015

13 de Dezembro - Os Céus vêm à Terra

Primeira Leitura - Sf 3:14-18

Canta, ó cidade de Sião; exulta, ó Israel! Alegre-se, regozije-se de todo o coração, ó cidade de Jerusalém! O Senhor anulou a sentença contra ti, ele fez retroceder os teus inimigos.

O Senhor, o Rei de Israel, está em seu meio; nunca mais você temerá perigo algum. Naquele dia, dirão a Jerusalém: "Não temas, ó Sião; não deixe suas mãos enfraquecerem. O Senhor, o seu Deus, está em teu meio, poderoso para salvar.
Ele regozijar-se-á em ti; com o seu amor te renovará, ele se regozijará em ti com brados de alegria".
"Eu ajuntarei os que choram pelas festas fixas, os que se afastaram de vós, para que isso não mais pese como ­vergonha para vós."
Lemos aqui a profecia de Sofonias, que viveu num tempo em que Judá era cobiçada pelos poderes estrangeiros, o Egito e a Assíria. A grande promessa de Deus não é que vai destruir a Terra e levar toda a gente para o Céu mas sim que o Céu descerá sobre a Terra, Deus promete inundar o seu povo com a sua presença salvadora. Já parámos para pensar que Deus se regozija em nós, e com brados de alegria? Nós um ser tão pequeno e pecador, tão amados por um ser tão grande e santo. Mas é mesmo por Ele ser grande e Santo que ele nos ama, pois a grandeza de Deus manifesta-se na sua proximidade connosco. 

Responsório - Is 12:2-6
Gritem bem alto e cantem de alegria, habitantes de Sião, pois grande é o Santo de Israel no vosso meio.
Mais uma vez aqui vemos este tema repetido, Deus vem à Terrra. Mais uma vez quero frisar, e agora nas palavras do teólogo e bispo anglicano NT Wright:
“A Ressureição de Jesus é o princípio do novo plano de Deus não para levar as pessoas para fora da Terra mas sim para colonizar a terra com a vida do Céu."
em Surprised by Hope: Rethinking Heaven, the Resurrection, and the Mission of the Church 

 Se lermos a passagem toda devemos reparar que Isaías a "anunciar entre as Nações" os feitos de Deus. Porquê, não só para glorificar o nome de Deus mas também porque os feitos de Deus são a boa nova para todas as nações.

Segunda Leitura - Fl 4:4-7
Alegrem-se sempre no Senhor. Novamente direi: Alegrem-se! Seja a amabilidade de vocês conhecida por todos. Perto está o Senhor. Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus.
Muitas vezes temos a ideia dos Cristãos como tristes que estão sempre a pensar nos pecados que cometeram e a fazer penitências, ou então a lamentar-se por tudo o que na vida não podem fazer livremente e sem restrições (sexo, álcool, drogas, etc). Mas esta imagem do Cristão não é a imagem Bíblica. Talvez este problema já existisse nos tempos de São Paulo, pois vemos como ele repete para nos alegrarmos. Mas não é só para nos alegrarmos, pois podemos não coisas na nossa vida com que nos alegrar: alguns de nós podem estar doentes ou ter familiares doentes, outros com dificuldades financeiras ou outros com problemas sociais. São Paulo exorta-nos a alegrar-mo-nos não em abstrato, mas em concreto no Senhor. Pois as dificuldades da vida podem bater a porta de qualquer um e não sabemos quem está sem elas, mas qualquer Cristão se pode alegrar no Senhor, pois o Senhor não abandona nenhum daqueles que deposita em si a sua confiança, e com Ele vem a Sua paz, que como o apóstolo diz, "supera todo o entendimento".


Evangelho - Lc 3:10-18
"O que devemos fazer então?", perguntavam as multidões. João respondia: "Quem tem duas túnicas dê uma a quem não tem nenhuma; e quem tem comida faça o mesmo". Alguns publicanos também vieram para serem batizados. Eles perguntaram: "Mestre, o que devemos fazer?" Ele respondeu: "Não cobrem nada além do que foi estipulado". Então alguns soldados lhe perguntaram: "E nós, o que devemos fazer?" Ele respondeu: "Não pratiquem extorsão nem acusem ninguém falsamente; contentem-se com o seu salário". O povo estava em grande expectativa, questionando em seu coração se acaso João não seria o Cristo. João respondeu a todos: "Eu os batizo com água. Mas virá alguém mais poderoso do que eu, tanto que não sou digno nem de desamarrar as correias das suas sandálias. Ele os batizará com o Espírito Santo e com fogo. Ele traz a pá em sua mão, a fim de limpar sua eira e juntar o trigo em seu celeiro; mas queimará a palha com fogo que nunca se apaga". E com muitas outras palavras João exortava o povo e lhe pregava as boas-novas.
João foi aquele que anunciou a vinda de Jesus, ou como o texto diz, "as boas novas". João dava conselhos, respondendo à questão "o que devemos fazer". Um pormenor que vemos aqui é que João não ordenou aos soldados para deixarem de ser soldados, mostrando que por vezes a força é necessária para manter a ordem e em certos ofícios, ou talvez para salvar alguém de perigo, mas claro sem nunca nos esquecermos das palavras de Jesus que falam em dar a outra e amar o próximo como a nós mesmos. Mas o Cristianismo, embora os tenha, não é uma religião de bons conselhos, mas de boas notícias. Deus não nos diz o que devemos de fazer para chegar ao Céu, mas Ele faz por nós, e nós devemos apenas receber a sua oferta. Jesus dá-nos o batismo do Espírito Santo, que nos dá verdadeiro poder sobre a Criação para sermos os trabalhadores de Deus no mundo e executarmos a Sua vontade. Chegará o dia em que Deus mandará ceifar a Sua ceara, e nesse dia separá o trigo do joio, aqueles que receberam a Sua oferta e querem viver para sempre na Sua companhia e aqueles que, rejeitando a oferta de Deus, se separam d'Ele. E você, onde quer estar? No celeiro de Deus? O trabalho já está feito e pronto para ser recebido por si, e se o receber pode conhecer Deus pessoalmente, como um filho conhece um pai e um amigo conhece um amigo. Jesus vem aí, e Ele está de braços abertos para o receber.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

6 de Dezembro - O Advento

Hoje, em vez de termos uma reflexão semanal com os textos calendarizados como de costume, devo lembrar que estamos já no advento e perto do Natal, que é a data em que nós celebramos a Incarnação do Senhor, uma tradição que já está entranhada na nossa sociedade. O que é então este mistério da Incarnação?

Em primeiro lugar devemos falar sobre a palavra "mistério". Esta palavra muitas vezes no sentido de estarmos a falar sobre algo que não se pode compreender de maneira nenhuma, no entanto não é este o sentido em que a palavra deve ser compreendida. Um mistério de Deus é algo que na realidade nós Cristãos devemos compreender, pois é-nos revelado por Deus. Portanto um mistério é algo que compreendemos através da Revelação Divina e que não podemos compreender sem essa Revelação. Podemos ver isto em várias passagens da Bíblia como Col 2:1-3; Ef 3:2-6; Col 1:26-27 ou Mt 13:11-13). Há porém mistérios que Deus pode ainda não ter revelado e não compreendemos na totalidade, no entanto é possível compreender certos mistérios de Deus parcialmente através da capacidade racional que nos foi dada por Deus, e que devemos utilizar para o amar e glorificar, bem como para servir os outros, pois devemos também amar a Deus com "toda a nossa mente" (Lc 10:13).

Parece complicado decifrar o mistério da Incarnação, como pode Deus tornar-se homem? Os Patriarcas da Igreja debateram sobre este assunto. No seu primeiro Concílio, guiados pelo Espírito Santo para unir a Igreja, escreveram no Credo de Niceia acerca de Jesus: "Deus verdadeiro de Deus verdadeiro", afirmando a essência divina de Jesus. No Concílio de Calcedónia, mais explicitamente lemos "verdadeiramente Deus e verdadeiramente Homem". Mas é isto possível? Devemos clarificar o que queremos dizer quando dizemos que Jesus é Homem e Deus para não cair em confusão. 

Não estamos a dizer que Jesus tem uma natureza Humana e Divina ao mesmo tempo, nem estamos a dizer que há em Jesus duas pessoas, um humano e um divino, nem que Jesus é a pessoa de Deus Pai e também Humano, nem mesmo que é metade Deus e metade Humano. Estamos a dizer que a pessoa de Jesus tem duas naturezas, uma humana e outra divina. Sabemos que há um só Deus, no entanto este Deus não é um ser unipessoal como eu ou você mas sim um ser tripessoal, e uma dessas pessoas é Jesus. A natureza de algo mostra o que esse algo é, e a pessoa de algo mostra quem esse algo é. Portanto se perguntarmos quem é a segunda pessoa da Trindade, a resposta é a pessoa de Jesus. Se perguntarmos o que é a segunda pessoa da trindade, a resposta é Deus (natureza divina) e Homem (natureza Humana). 

Mas agora que já passámos os problemas filosóficos devemos voltar a Teologia e perguntar: porque é que Jesus veio ao mundo? Muitos diriam: para dar um exemplo moral de vida, outros talvez diriam que foi para nos mostrar milagres e nos fazer acreditar, outros que foi para nos ensinar doutrinas importantes. Jesus fez realmente todas estas coisas importantes, mas não foi por isso que Ele veio. Para nos ensinar doutrina e mostrar milagres Deus poderia ter feito sinais nos Céus ou enviado um dos seus profetas, ou até mesmo um anjo. Mas o que Jesus fez na sua vinda a Terra nenhum sinal no Céu, ou anjo, ou profeta poderia fazer. Jesus não veio para nos ensinar, nem para fazer milagres, nem para nos dar um exemplo, embora Ele também tenha feito todas essas coisas, Ele veio para morrer (Jo 12:27). Mas porquê? A resposta está em João 3:16:
Deus deseja tanto viver connosco para sempre e mostrar-nos quem Ele é, que foi capaz de nascer numa manjedoura, numa família pobre, num tempo de pouca qualidade de vida e com o ofício de carpinteiro para depois morrer de uma das formas mais brutais e humilhantes já inventadas por todo o mundo, incluindo aqueles que o estavam a pregar na cruz, e depois de tudo isto exclamou: 
"Perdoa-lhes Pai, porque não sabem o que fazem"
Este é o Deus dos Cristãos, e é por isso que nós o amamos tanto, porque Ele nos amou primeiro (1 Jo 4:19). Graças à Incarnação de Jesus podemos conhecer a Deus, ter os nossos pecados perdoados. Satanás apresente o pecado como benção, mas só vem para matar e destruir mas Jesus vem para termos vida, e a termos abundância (Jo 10:10). A Incarnação é o primeiro passo do plano de Deus para cada um de nós, é o primeiro passo da mais bela história já contada e vivida na Terra. Imagine todas aquelas pessoas que você ama, se não fosse a Incarnação de Jesus não haveria esperança para eles nem para si, mas apenas uma eternidade sem Deus. Assim, há esperança, dê Graças a Deus e espalhe a Boa Nova.

O que interessa no Natal não são as prendas, nem os doces, nem a árvore, nem o jantar em família, nem os presépios, nem mesmo a missa do galo! O que interessa no Natal é Jesus, e é para celebrar a sua vinda que nos devemos preparar neste tempo de Advento!

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

29 de Novembro - Procurai estar de pé diante do Filho do Homem

Nas leituras de hoje falamos das promessas de Deus e de alguns dos eventos que vão preceder o seu cumprimento.

Primeira Leitura - Jr 33:14-16
Dias virão", declara o Senhor, "em que cumprirei a promessa que fiz à comunidade de Israel e à comunidade de Judá. Naqueles dias e naquela época farei brotar um Renovo justo da linhagem de Davi; ele fará o que é justo e certo na terra. Naqueles dias, Judá será salva e Jerusalém viverá em segurança, e este é o nome pelo qual ela será chamada: O Senhor é a Nossa Justiça.
A maneira como S. Paulo pregava o Evangelho não era da maneira como ele é pregado hoje em dia. Nos dias dos apóstolos, as pessoas acreditavam na existência de um Deus, e as pessoas de Israel em particular acreditavam que o que chamamos hoje de "Antigo Testamento" era a palavra de Deus e tinha autoridade. Como sabemos, no AT encontram-se os livros dos profetas, como por exemplo Jeremias que aqui lemos hoje, que continham promessas ou profecias sobre o futuro. Então Paulo tentava demonstrar aos judeus que Jesus era aquele que cumpria as promessas feitas anteriormente (repare-se na repetição da expressão "de acordo com as escrituras" em  Cor 15:3-5). 
Neste passagem de Jeremias vemos precisamente uma promessa: o povo de Deus será salvo, mas como? Não pelos seus trabalhos ou mérito, mas pelo trabalho do Messias, por isso é que depois dizemos "O Senhor é a Nossa Justiça".

Salmo - Sl 25
A ti, Senhor, elevo a minha alma.
O que significa elevar a nossa alma ao Senhor? A palavra alma, em hebraico nefesh, é o sopro que dá vida aos nossos corpos, num certo sentido, o que nos faz vivos (não exatamente o mesmo que espírito, que em hebraico se diz ruach). Elevar a nossa alma ao Senhor, é portanto focar a nossa força de viver na Sua Glória e satisfazermo-nos nela. É conhecer a Deus pessoalmente, o que é claramente uma experiência inesquecível. Não é só isto, mas também colocar a nossa confiança na Sua Justiça e no Seu Amor, pois Ele salvou-nos do pecado e ama cada de um de nós.

Segunda Leitura - 1 Ts 3:12-13;4:1-2
Quanto ao mais, irmãos, já os instruímos acerca de como viver a fim de agradar a Deus e, de facto, assim vocês estão procedendo. Agora pedimos e exortamo-vos no Senhor Jesus que cresçam nisso cada vez mais. Pois conhecem os mandamentos que vos demos pela autoridade do Senhor Jesus. Que o Senhor faça crescer e transbordar o amor que vós tendes uns para com os outros e para com todos, a exemplo do nosso amor por vós. Que ele fortaleça o vosso coração para serem irrepreensíveis em santidade diante de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus com todos os seus santos.
Os mandamentos da Bíblia não vêm simplesmente das autoridades religiosas, mas sim da autoridade de Deus, de Jesus. 
Os mandamentos que Deus colocou na Sua palavra não são simplesmente proibições arbitrárias para ter um pretexto para nos condenar, mas algo com o propósito de nos ensinar a viver, de colocar o nosso coração mais perto do coração de Deus (Mt 19:16-17;Lc 18:18-20;Mc 10:17-19;Dt 11:8-9). E cumprir a Lei de Deus tem poder! Nenhum mero homem consegue cumprir toda a Lei, no entanto o Messias, Jesus Cristo, fê-lo e dá-nos todos os benefícios que isso mesmo trás. Para além disso o Espírito Santo que vive em nós permite-nos vencer o pecado e seguir a Lei de Deus, ficando assim mais próximos de'Ele. Embora a Lei por si não dê a vida e Salvação, que vem de Jesus Cristo e pela Fé, a Lei é muito importante porque ajuda a moldar os nossos corações.
Mas porque é que nós é que sabemos quais são estas leis? Não será arrogante afirmar que temos as leis absolutas da moralidade e do bem? Seria arrogante se pregássemos estas leis pela nossa própria autoridade, no entanto nem os apóstolos se atreviam a fazer tal coisa, como lemos, não é pela autoridade do Papa, nem do pastor, nem do padre, nem do bispo, nem do ancião, mas sim do Senhor Jesus.

Evangelho - Lc 21:25-36
Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na terra, as nações estarão em angústia e perplexidade com o bramido e a agitação do mar. Os homens desmaiarão de terror, apreensivos com o que estará sobrevindo ao mundo; e os poderes celestes serão abalados. Então se verá o Filho do homem vindo numa nuvem com poder e grande glória. Quando começarem a acontecer estas coisas, levantem-se e ergam a cabeça, porque estará próxima a redenção de vocês. Ele lhes contou esta parábola: Observem a figueira e todas as árvores. Quando elas brotam, vocês mesmos percebem e sabem que o verão está próximo. Assim também, quando virem estas coisas acontecendo, saibam que o Reino de Deus está próximo. Eu asseguro a vocês que não passará esta geração até que todas essas coisas aconteçam. Os céus e a terra passarão, mas as minhas palavras jamais passarão. Tenham cuidado, para não sobrecarregar o coração de vocês de libertinagem, bebedeira e ansiedades da vida, e aquele dia venha sobre vocês inesperadamente. Porque ele virá sobre todos os que vivem na face de toda a terra. Estejam sempre atentos e orem para que vocês possam escapar de tudo o que está para acontecer e estar em pé diante do Filho do homem.
Aqui vemos que todos devemos estar vigilantes, não devemos "desleixar-nos na Fé". Se um atleta deixar de treinar o seu corpo, ao longo do tempo ele perderá capacidades e quando chegar a hora da prova irá falhar. Assim é com o nosso espírito: se deixarmos de ler a palavra de Deus, de rezar, de confessar os nossos pecados e de praticar o bem, o nosso espírito começa a ficar doente e o pecado começa a entrar de novo na nossa vida. Jesus é claro nesta passagem que todos nós, crentes e não crentes devemos estar vigilantes para que possamos estar "em pé diante do Filho do Homem". No entanto não devemos temer este dia, pois se estamos com Jesus, este é o dia da nossa redenção, o dia em que o nosso melhor amigo vem para ficar connosco para sempre.
Esta passagem tem, no entanto, algo que também devemos observar, o que quis Jesus dizer com: "Eu asseguro a vocês que não passará esta geração até que todas essas coisas aconteçam."? Não pretendo nesta publicação resolver completamente este problema, que parece fazer de Jesus um falso profeta ao afirmar que o mundo ia acabar antes do ano 70 d.C.. Vou apenas apresentar algumas possíveis interpretações desta passagem:


  • Preterista: todos estes acontecimentos ocorreram na destruição do tempo em 70 d.C. (40 anos é uma geração, sendo que Jesus pregou entre 30 e 33, a sua profecia estaria correta). A linguagem é uma metáfora para este grande evento catastrófico. 
  • Geração do Futuro: A geração de que Jesus fala nesta passagem não é a geração das pessoas com quem ele está a falar naquele momento, mas sim a geração que experienciará todos aqueles sinais, ou seja, quando os sinais do fim começarem, o fim estará muito próximo.
  • Geração dos Judeus: A palavra geração, do grego γενεα (genea), também pode significar família ou raça. Logo o que Jesus pode estar aqui a dizer é que a raça dos judeus não se vai extinguir até ao fim dos tempos. Embora tenha estado perto de acontecer, a raça dos Judeus ainda existe nos dias de hoje, e portanto a profecia de Jesus ainda não foi falsificada. Ler mais aqui.


Pode consultar a abordagem de William Lane Craig aqui.


terça-feira, 1 de dezembro de 2015

22 de Novembro - Cristo Rei

Primeira Leitura (Dn 7:13-14)
"Em minha visão à noite, vi alguém semelhante a um filho de homem, vindo com as nuvens dos céus. Ele se aproximou do ancião e foi conduzido à sua presença. Ele recebeu autoridade, glória e o reino; todos os po­vos, nações e homens de todas as línguas o adoraram. Seu domínio é um domínio eterno que não acabará, e seu reino jamais será destruído.
Qualquer pessoa que já leu o Novo Testamento está familiarizado com a expressão "Filho do Homem", mas esta expressão significa muito mais do que aparenta. À primeira vista, parece que Jesus se chama a si mesmo o "Filho do Homem" para mostrar a sua natureza humana. No entanto esta passagem do livro de Daniel mostra o contrário: o Filho do Homem é uma figura divina, que recebe autoridade e o seu reino é para sempre. Podemos ver Jesus a confirmar isto quando diz que estará sentado à direita de Deus (Mc 14:62). Nas imagens do antigo testamento, nunca vemos um mero homem sentar-se à direita de Deus, pois isto significa dividir com Deus a posição de Rei do Universo. Por isso é que Jesus ao se chamar o Filho do Homem mostra não só a sua divindade, mas também a sua autoridade como Rei do Universo.

Salmo - Sl 93
O Senhor reina! Vestiu-se de majestade.
O salmo diz precisamente isso: o Senhor é o Rei do Universo, vestiu-se de majestade, e mais se vestirá quando voltar à Terra na sua Glória. 

Segunda Leitura (Ap 1:5-8)
João, às sete igrejas da província da Ásia: A vocês, graça e paz da parte daquele que é, que era e que há de vir, dos sete espíritos que estão diante do seu trono e de Jesus Cristo, que é a testemunha fiel, o primogénito dentre os mortos e o soberano dos Reis da terra. Ele nos ama e nos libertou dos nossos pecados por meio do seu sangue, e nos constituiu reino e sacerdotes para servir a seu Deus e Pai. A ele sejam glória e poder para todo o sempre! Amém. Eis que ele vem com as nuvens, e todo olho o verá, até mesmo aqueles que o trespassaram; e todos os povos da terra se lamentarão por causa dele. Assim será! Amém. "Eu sou o Alfa e o Ómega", diz o Senhor Deus, "o que é, o que era e o que há de vir, o Todo-poderoso".
João revela-nos aqui mais uma vez a nobreza de Jesus, o Rei. Mas como é que este Rei escolheu vir à Terra? Não foi em vestes magníficas nem com poder sobre os homens, mas nasceu numa manjedoura, foi  um pobre carpinteiro toda a vida, viveu num tempo em que não havia grandes condições de higiene e qualidade de vida era baixa e sofreu uma morte através de um dos meios mais diabólicos e humilhantes inventados pelo homem: a crucificação. Mas porquê? Por causa de ti, de mim, e não só por nós mas por todo o mundo (1 Jo 2:2). O Reino de Jesus é o Reino dos Céus, e é do Céu que somos cidadãos (Fl 3:20).




Evangelho (Jo 18:33-37)
Pilatos então voltou para o Pretório, chamou Jesus e lhe perguntou: "Você é o rei dos judeus?" Perguntou-lhe Jesus: "Essa pergunta é tua, ou outros te falaram a meu respeito?" Respondeu Pilatos: "Acaso sou judeu? Foram o seu povo e os chefes dos sacerdotes que o entregaram a mim. Que foi que você fez?" Disse Jesus: "O meu Reino não é deste mundo. Se fosse, os meus servos lutariam para impedir que os judeus me prendessem. Mas agora o meu Reino não é daqui". "Então, você é rei!", disse Pilatos. Jesus respondeu: "Tu dizes que sou rei. De facto, por esta razão nasci e para isto vim ao mundo: para testemunhar da verdade. Todos os que são da verdade me ouvem".
Pilatos pensava que Jesus poderia ser uma ameaça política ao seu reino terreno, mas Jesus é um cidadão do Céu, e o que Ele deseja não é ganhar território mas sim corações e almas. O trabalho de Deus é glorificar-se na sua relação com o Homem, e isso não passava por estabelecer um Reino físico em Israel, libertando Israel da escravidão dos Romanos, mas sim estabelecer o Reino de Deus no coração de cada um de nós, libertando-nos da escravidão de Satanás, que tem poder sobre nós sempre que fechamos os nosso corações a Deus. É por isso que Jesus diz "O Reino de Deus está no meio de vós" (Lc 17:20-21). O Cristo veio ao mundo para testemunhar esta grande verdade, e nós que somos os seus discípulos, os Cristãos, os pequenos Cristos, que carregam o Seu nome, temos o dever de ser também testemunhas d'Ele.