terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Argumento Teleológico

Ao escrever um artigo sobre o argumento teleológico, penso que é minha obrigação explicar o que quero dizer com tal termo. Podemos dizer que a teleologia é o estudo das finalidades, do grego τέλος (télos). O argumento teleológico basicamente pretende demonstrar que o Universo foi desenhado para a existência de vida, ou seja, era este o seu fim. 
É um facto científico de que para que a vida possa existir é necessário que certas quantidades e constantes da natureza se apresentem num balanço extremamente preciso, a isto chamamos "fino timbre", em inglês "fine-tuning". Isto não é apenas uma teoria remota que os teólogos trouxeram, mas é confirmada pelos mais avançados estudos na área da física, como diz o prestigiado físico Paul Davies:

"Existe agora um acordo geral entre físicos e cosmologistas de que o Universo está em vários aspectos "bem afinado" para a [existência de] vida." - Davies (2003). "How bio-friendly is the universe".

E claro, provavelmente o mais famoso físico do mundo, Stephen Hawking diz:

"As leis da natureza, como as conhecemos presentemente, contêm muitos números fundamentais, como  valor da carga eléctrica do electrão e a razão entre as massas do protão e do electrão... O facto notável é que os valores destes números parecem ter sido finamente ajustados para fazer possível o desenvolvimento de vida." - Stephen Hawking, 1988. A Brief History of Time,Bantam Book, p125

O grande desacordo entre ateus e teístas não é a a existência ou não do chamado fino timbre na natureza, mas sim a explicação desse fenómeno.




Que explicação poderá existir então? Talvez os que observamos sejam os únicos compatíveis com as leis da natureza, e portanto os valores são os observados por necessidade física. Se tal não for verdade então ou as constantes são estas por um processo aleatório, ou foram determinadas por um algum agente. Podemos então enunciar a seguinte premissa:

1. O timbre fino do Universo é devido a necessidade física, acaso, ou design.

Consideremos a primeira possibilidade: necessidade física. Note-se que esta possibilidade é muito implausível sendo que as constantes e quantidades de que falamos são independentes das leis da natureza que conhecemos hoje. A nossa melhor teoria neste momento, a teoria M ou de super-cordas prevê que existem certa de 10500 "universos possíveis" consistentes com as nossas leis da física actuais, o que mostra que as constantes actuais não são as únicas compatíveis com as leis da natureza, logo necessidade física é uma alternativa implausível.



E em relação à segunda possibilidade, o que podemos dizer? Será razoável supor que tivemos realmente muita, muita sorte? Que por mero acaso as constantes e quantidades são as que vemos? A resposta é não assim que considerarmos as probabilidades ínfimas que estamos a considerar. Para ter apenas uma ideia, note-se que o número de segundos que passou desde o início do Universo é cerca de 1020 e o número de células no nosso corpo é 1014. Com estes números em mente considere-se o seguinte:

Se alterássemos a constante cosmológica em 1 parte em 10120 partes, o Universo ir-se-ia espalhar de forma demasiado rápida ou demasiado lenta, e a vida seria impossível. Mas se este número (1 seguido de 120 zeros) não é suficientemente monstruoso, considere o seguinte: se alterássemos a distribuição da massa e da energia do Universo em uma parte em 10^10123 partes, mais uma vez não haveria vida. Este último número mostra uma probabilidade (muitos) biliões de vezes inferior à de um macaco escrevendo ao acaso num computador, reproduzir o Hamlet, de Shakespeare, à primeira tentativa (cerca de 1 em 4.4 × 10360,783). É óbvio então que o acaso é uma explicação extraordinariamente implausível.

Chegamos à segunda premissa do argumento:

2. O fino timbre do Universo não se deve nem a necessidade física nem ao acaso.

E portanto a conclusão segue trivialmente: O fino timbre do Universo deve-se a design, havendo portanto um designer, a que chamamos Deus.

domingo, 7 de dezembro de 2014

Podemos confiar na Bíblia? - Fiabilidade Textual

Estamos no tempo do Advento, em que se preparamos para a chegada do Senhor, mas porque devemos nós confiar na mensagem Bíblica? Neste primeiro artigo começarei por examinar as questões que se prendem com a fiabilidade textual do Novo Testamento.

Certos eventos relatados na Bíblia são quase Universalmente aceites como terem acontecido,  mesmo pelos historiadores mais cépticos. Entre estes eventos está por exemplo a crucificação de Jesus, como diz o famoso historiador céptico Bart Ehrman, em várias das suas obras:

“De qualquer forma, o relato de Tácito confirma o que sabemos de outras fontes , que Jesus foi executado por ordem do Governador da Judeia, Pôncio Pilatos.” -  Bart Ehrman, The New Testament: A Historical Introduction to the Early Christian Writings, Oxford University Press, 2000], p. 197

O que eu penso que podemos dizer com alguma confiança é que Jesus realmente morreu, ele provavelmente foi sepultado, e que alguns dos seus discípulos afirmam tê-lo visto vivo posteriormente. De entre aqueles que fazem esta afirmação, interessantemente estava o próprio irmão de Jesus, Tiago, que veio a acreditar em Jesus e pouco tempo depois se tornou um dos principais líderes da igreja Cristã primitiva.” - Bart Ehrman, Jesus, Apocalyptic Prophet of the New Millennium, [Oxford University Press US, 1999], p.229

No entanto existem outros acontecimentos, os chamados de mais fantásticos como os milagres, que estes autores descredibilizam. Irei dedicar um artigo inteiro a discutir a Ressurreição, mas neste quero apenas focar-me na Bíblia em geral: porque devemos ter alguma confiança nesta colecção de livros escritos ao longo de séculos e cujos mais recentes têm perto de 2000 anos de idade?

Em primeiro lugar, nós temos boa evidência de que o texto não foi corrompido. Talvez o leitor pense que os manuscritos mais antigos que temos são muito recentes e poderiam facilmente ter sido forjados pela Igreja na Idade Média ou até mesmo quando no tempo de Constantino Roma se converteu, mas isto não é verdade. Note-se que possuímos neste momento cerca de 24000 cópias de manuscritos do Novo Testamento, e como se isso não bastasse temos também em nossa posse aproximadamente 86000 citações pelos primeiros Cristãos. Mesmo que não possuíssemos nenhum manuscrito do Novo Testamento, apenas com base em citações ao longo de 150-200 da Igreja Primitiva seria possível reconstruir todo o Novo Testamento, com excepção de apenas 11 versos!

Podemos pensar que as variações entre estes textos são de grande proporção. Isso é verdade em número mas não em qualidade: existem cerca de 150000 variações, no entanto 99% destas são insignificantes, como troca na ordem de palavras (exemplo escrever Jesus Cristo ao invés de Cristo Jesus) ou desaparecimento de uma letra (por exemplo escrever “letr” em vez de “letra”) sem que se altere o significado do texto.

Quando existem realmente variações maiores, estas nunca tocam em nenhuma doutrina essencial do Cristianismo, como a divindade de Cristo ou a Ressurreição, nem em nenhum mandamento essencial.
Mas talvez o leitor neste momento se esteja a perguntar: “muito bem, eu não sei muito sobre o método histórico e não tenho noção de se estes números para a Bíblia indicam ou não um texto histórico fiável, quero saber como se sai a Bíblia em comparação com outros textos históricos antigos”. Fico muito contente se o leitor estiver neste momento a considerar esta questão, pois Deus criou o mundo de tal forma que a Sua Palavra é realmente o texto histórico mais fiável que temos, com números que nem se comparam com os de outros documentos!

Observe a seguinte tabela (Josh McDowell, Evidências que provam um veredito, Thomas Nelson Publishers, 1999):


Repare-se bem na esmagadora superioridade do Novo Testamento contra os textos seculares, não em cópias, mas também em número de manuscritos!

Concluímos assim que temos boas evidências de que os textos do Novo Testamento que chegam hoje aos nossos dias estão muito perto (ou idênticos), àqueles que foram escritos originalmente. Mas será isto suficiente para crermos na Bíblia? O próximo artigo oferecerá a resposta a essa questão.

Note-se que algumas das informações e ideias usadas neste artigo foram retiradas das seguintes fontes:


sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

O Cristão e a tragédia Ferguson

Se tem estado a par das notícias mais recentes sobre o mundo, com certeza que está ciente da tragédia em Ferguson, nos EUA: um jovem de 18 anos, de nome Daniel Brown, foi alvejado por um polícia no passado dia 9 de Agosto, recentemente soube-se que não vai haver acusação contra o polícia, o que desencadeou uma onda enorme de protestos.  
Em primeiro lugar, que fique bem claro que não me compete a mim julgar se o polícia é ou não culpado, e para além disso não tenho informação suficiente sobre os detalhes do caso. Mas mesmo que os tivesse, e possuísse uma opinião muito bem formada sobre quem "tem razão" não o iria expor neste blogue, porque o propósito deste blogue simplesmente não é esse. 

No entanto quero utilizar este caso para transmitir certos princípios Cristãos ao leitor:

1. Para o Cristão, existe igualdade entre seres Humanos de todas as raças

Começando pelos Génesis, Deus cria o Homem à sua imagem, não fazendo diferença entre raças (Gn 1:27), e isso é reafirmado no tempo de Moisés: "Pois o SENHOR vosso Deus é o Deus dos deuses, e o Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e terrível, que não faz acepção de pessoas, nem aceita recompensas;" (Dt 10:17). 

São Pedro diz-nos nos Actos dos Apóstolos: "Então Pedro começou a falar: "Agora percebo verdadeiramente que Deus não trata as pessoas com parcialidade, mas de todas as nações aceita todo aquele que o teme e faz o que é justo." (Act 10:34-35).

Também São Paulo, o apóstolo dos gentios (não judeus) diz: "Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus." (Gl 3:28); "Onde não há grego, nem judeu, circuncisão, nem incircuncisão, bárbaro, cita, servo ou livre; mas Cristo é tudo, e em todos." (Cl 3:11). 



E claro Jesus mostra isto perfeitamente no episódio do bom samaritano. Um homem perguntou a Jesus o que deveria fazer para alcançar a vida eterna, e Jesus remeteu-o para a Lei, onde estão os grandes mandamentos sumariados, que são amar Deus e amar o próximo, que os judeus poderiam entender como se referindo apenas a judeus e daí o que acontece a seguir: 

"Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo?E, e respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto. E, ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo. E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e, vendo-o, passou de largo. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão; E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre o seu animal, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele; E, partindo no outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que de mais gastares eu to pagarei quando voltar. Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai, e fazei da mesma maneira." (Lc 10:29-37).

Repare-se que os Samaritanos eram especialmente odiados pelos judeus, e os levitas eram os sacerdotes que poderiam ser considerados como especialmente "santos". Portanto Jesus mostra claramente que para Deus não há parcialidade entre raças, e portanto para nós também não deve haver, pois devemos amar o nosso próximo como a nós mesmos, independentemente da raça.

2. Será que os protestos que estão a ser feitos fazem sentido?

Vamos supor que realmente este homem é culpado de homicídio e que o tribunal decidiu mal. Não defendo que se devamos calar, mas também me oponho a actos de vandalismo, como os que se têm registado recentemente, com pessoas a incendiar casas e tudo mais. Responder a injustiça com violência não é a mensagem Cristã. Quando Jesus, o homem mais bondoso que já viveu, e não merecia nenhuma injustiça, estava prestes a ser preso, um dos seus discípulos cortou a orelha de um soldado, mas Jesus disse-lhe: "Embainha a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão." (Mt 26:52). 



É fácil para nós amar os nossos amigos, aqueles que não nos causam injustiça, mas Jesus pede mais! Jesus diz-nos tão sabiamente: 

"Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos. Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim? Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus." (Mt 5:43-48).

Lembre-mo-nos dos que disse Jesus quando estava a sofrer a maior injustiça de todas, quando estava a ser crucificado o que nunca pecou:

"E dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem. E, repartindo as suas vestes, lançaram sortes." (Lc 23:34).