domingo, 19 de outubro de 2014

Será perigoso dizer que temos a verdade?

Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.
Jo 14:6
Esta  afirmação é um dos grandes pilares da Fé Cristã: Jesus é o caminho para o Pai. Não apenas um caminho, mas o caminho, pois não há outro caminho. Na nossa sociedade de hoje em dia tal pode parecer intolerante, arrogante, insensível ou até perigoso. Tal pode dissuadir muitos de seguirem Jesus, portanto pretendo mostrar que tais objecções falham.

Em primeiro lugar vamos supor que a afirmação de Jesus era intolerante, arrogante ou perigosa. Isso alteraria o seu valor de verdade? Este é o exemplo dum argumento ad hominem, em que tentamos falsificar as afirmações de alguém baseando-se em atacar o carácter dessa pessoa.



Devemos agora compreender um facto importante sobre a verdade: ela é sempre única e exclusiva. A verdade pode ser definida como correspondência à realidade: se uma afirmação coincide com a realidade então ela é verdadeira, caso contrário é falsa. Mas a realidade é apenas uma, não existem várias realidades ao mesmo tempo. Os mais imaginativos podem sentir-se persuadidos a afirmar que existe mais que uma realidade, que a realidade é subjectiva e não existe realidade objectiva. No entanto, examinando com cuidado tal ideia, rapidamente se irão aperceber que acabaram de fazer uma afirmação sobre a realidade objectiva, falsificando a sua própria afirmação! Se existe uma realidade objectiva então existe apenas uma verdade, que é precisamente a descrição do mundo que corresponde à realidade. Por exemplo, considere que tem um cesto de maçãs na sua cozinha, e este cesto tem exactamente 7 maçãs. Apenas será verdade que “o cesto contém 7 maçãs”, no entanto todas as afirmações “o cesto contém 1 maçã”, “o cesto contém 2 maçãs”, “o cesto contém 3 maçãs”, ..., “o cesto contém n maçãs”, para qualquer número natural n, são afirmações falsas (um número infinito de afirmações falsas!). Seria arrogante ou intolerante afirmar que existem exactamente 7 maçãs no cesto e que qualquer outro número está errado? Obviamente que não. A pessoa que afirma que é intolerante afirmar que apenas o Cristianismo está certo e que existem muitas estradas para Deus é também ela intolerante, segundo este critério, sendo que nega todas as religiões que afirmam exclusividade.
Mas não será Jesus arrogante e intolerante ao afirmar que só Ele é o caminho? Jesus não afirma que apenas ele é o caminho para se exibir, pois “o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir” (Mt 20:28). Jesus diz –nos isto para que possamos encontrar o caminho, pois “o Filho do Homem não veio para destruir as vidas dos homens, mas para salvá-las”. A verdade é que o Homem se encontra perdido e em decadência e precisa de Deus, o Homem está doente e Deus tem a cura. Suponha que tem uma certa doença e que há um certo médico que o vem visitar, que sabe exactamente qual é o tratamento para a doença, e que apenas este é eficaz. Poderia acusar o seu médico de intolerância ou arrogância se este lhe dissesse que apenas ele tem a cura? Ou desejaria que este médico lhe desse a cura? Quanto estaria disposto a pagar para salvar a sua vida? Pois bem, Deus oferece a cura gratuitamente, pois Jesus disse “"Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e meu fardo é leve." (Mt 11:28-30) e também: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba.” (Jo 3:37). Se pela nossa vida terrena e temporária tudo damos, quanto mais deveríamos dar pela vida eterna, pois “que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” (Mc 8:36).

Ao contrário de ser perigoso, intolerante, ou arrogante, a afirmação de Jesus é precisamente o contrário de tudo isso: é a afirmação mais amável que Ele poderia fazer, pois mostra-nos livremente o caminho para a Vida.