domingo, 22 de novembro de 2015

15 de Novembro - O Fim dos Tempos

Primeira Leitura (Dn 12:1-3)
"Naquela ocasião Miguel, o grande príncipe que protege o seu povo, se levantará. Haverá um tempo de angústia como nunca houve desde o início das nações até então. Mas naquela ocasião o seu povo, todo aquele cujo nome está escrito no livro, será liberto. Multidões que dormem no pó da terra acordarão: uns para a vida eterna, outros para a vergonha, para o desprezo eterno. Aqueles que são sábios reluzirão como o fulgor do céu, e aqueles que conduzem muitos à justiça serão como as estrelas, para todo o sempre.
Daniel, o profeta, estava no exílio na Babilónia. Rodeado de pagãos, mas ele adorava o Senhor, Deus de Israel, e mesmo frente a perseguição e ameaças de morte. Vemos uma passagem apocalíptica, que expressão que normalmente é associada ao fim do mundo. No entanto, a palavra em grego (Αποκάλυψη), quer dizer algo como "revelação". Podemos dizer que aqui Daniel tem uma revelação, que neste caso é acerca do fim dos tempos e do juízo final. Muitos de nós, ao lermos estas passagens, tememos. Porquê? Talvez porque achamos que podemos ser castigados, talvez porque olhamos para a nossa vida e podemos não ser considerados 'sábios' ou 'aqueles que conduzem à justiça', talvez porque identificamos na nossa vida coisas que fizémos sobre as quais temos vergonha e reconhecemos que estão erradas, atitudes que não poderiam ser permitidas num paraíso, atitudes que falharam o objetivo que o Criador tinha para nós, que o deixariam desapontado e talvez até mesmo revoltado, a isso a Igreja chama de pecado. Ouvimos falar em justiça e ouvimos falar do Céu, e pensamos que talvez não somos bons o suficiente para lá entrar, um sítio tão Santo com um Deus tão Santo e nós com tantas coisas erradas, coisas que às vezes parecem demasiado más para serem perdoadas. Não só isto mas percebemos que temos uma tendência persistente para desejar estas coisas. A isto a Igreja  chama a Queda do Homem. 

O que devemos fazer é muitas penitências e muitas boas ações, pois assim podemos compensar as coisas que fizemos mal e no dia do juízo, perante Deus, ser considerados justos com base nestas coisas, certo? Mas será que conseguimos? Será que é possível com penitências apagar um mal que já foi feito, e será que com boas obras podemos ser Santos? Mais importante, será que com penitências e boas obras, só por nós, conseguimos tornar os nossos corações possíveis de habitar o Céu, eliminando as consequências da Queda do Homem? Eu acho que existe um caminho melhor, que é as Escrituras nos apresentam a seguir:

Segunda Leitura (Hb 10:11-18)
Dia após dia, todo sacerdote apresenta-se e exerce os seus deveres religiosos; repetidamente oferece os mesmos sacrifícios, que nunca podem remover os pecados. Mas, quando esse sacerdote acabou de oferecer, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à direita de Deus. Daí em diante, ele está esperando até que os seus inimigos sejam como estrado dos seus pés; porque, por meio de um único sacrifício, ele aperfeiçoou para sempre os que estão sendo santificados. O Espírito Santo também nos testifica a esse respeito. Primeiro ele diz: "Esta é a aliança que farei com eles, depois daqueles dias, diz o Senhor. Porei as minhas leis em seu coração e as escreverei em sua mente"; e acrescenta: "Dos seus pecados e iniquidades não me lembrarei mais". Onde esses pecados foram perdoados, não há mais necessidade de sacrifício por eles.
Afinal, oferecer sacrifícios do homem não é suficiente para remover os pecados, mesmo que seja o Sumo Sacerdote a oferecê-los. É preciso algo maior, algo infinito capaz de remover a consequência da ofensa perante um Deus Santo... perante um Pai Amoroso... Porque nós não somos os únicos que ficamos preocupados com o problema do nosso pecado, Deus, que nos ama, e quer viver a Eternidade connosco, preocupa-se ainda mais. O pecado é um problema sério. Querem ver o quão seriamente Deus leva o pecado? Olhem para a cruz! Jesus, o Filho Inocente, oferece-se pelos nosso pecados, removendo de nós a culpa que existia, o medo. A isto chama-se expiação. Assim, podemos chegar perante Ele no dia do juízo e não temer, não porque depositamos a nossa confiança nas nossas obras, mas a depositamos n'Aquele que morreu pelos nossos pecados, e esse nunca pecou e o seu sacrifício foi suficiente, de uma vez por todas! A isto chama-se justificação.
Porque Deus trabalha para a renovação da sua Criação que Ele tanto ama. E como pode a sua Criação agora corrompida viver em comunhão com Ele para sempre? E como pode ele torná-la perfeita sem destruir o pecado? Assim, esta é a solução de Deus: oferece o Seu Filho para destruir o pecado. Mas atrevo-me a dizer que isso não e o propósito de Deus, isso é apenas um meio para atingir o verdadeiro propósito de Deus: manifestar a Sua Glória. E como é que Deus manifesta a Sua Glória? Mostrando o seu atributo de Amor numa relação de comunhão com o Homem, e para isto Ele tem de ser santificado. Pois eis que o Homem tem de ter os seus pecados perdoados para viver para sempre com o seu Pai. E assim se cumpre a promessa de Deus: "Porei as minhas leis em seu coração e as escreverei em sua mente (...) "Dos seus pecados e iniquidades não me lembrarei mais" (Jr 31:33-34).

Neste momento faz todo o sentido introduzir o Salmo:
Salmo - Sl 16 
Protege-me, ó Deus, pois em ti me refugio.
Deus é verdadeiramente o nosso refúgio, pois graças a Ele estamos livres do pecado.

Evangelho (Mc 13:24-32)
Mas, naqueles dias, após aquela tribulação, 'o sol escurecerá e a lua não dará a sua luz; as estrelas cairão do céu e os poderes celestes serão abalados'. "Então verão o Filho do homem vindo nas nuvens com grande poder e glória. E ele enviará os seus anjos e reunirá os seus eleitos dos quatro ventos, dos confins da terra até os confins do céu. "Aprendam a lição da figueira: Quando seus ramos se renovam e suas folhas começam a brotar, vocês sabem que o verão está próximo. Assim também, quando virem estas coisas acontecendo, saibam que ele está próximo, às portas. Eu asseguro a vocês que não passará esta geração até que todas estas coisas aconteçam. Os céus e a terra passarão, mas as minhas palavras jamais passarão. Quanto ao dia e à hora ninguém sabe, nem os anjos no céu, nem o Filho, senão somente o Pai.
Aqui vemos Jesus, tal como Daniel, a falar do fim dos tempos. E agora pergunto: devemos temer o fim dos tempos? Mas qual o significado do fim dos tempos? O significado do fim dos tempos é a consumação do plano de Deus, é quando ele vem ceifar o que já foi semeado e deu bom fruto. É quando Deus se prepara para concluir o seu programa de restauração da Criação, é quando Deus se prepara para manifestar a Sua Glória. Se caminharmos com Ele, não devemos portanto temer, pois o fim dos tempos é a consumação da Boa Nova anunciada. Devemos é sempre estar vigilantes para ter a certeza que caminhamos com o Senhor quando Ele voltar, pois o dia e a hora nem os anjos do Céu sabem. Deus quer realmente renovar a sua Criação, para manifestar a sua Glória  numa relação de Amor e Comunhão com o Homem. Pois Deus ama para manifestar a Sua Glória e manifesta a sua Glória porque ama. Mas e se nós não amarmos Deus? Se nós não formos redimidos? Se os nossos pecados não forem perdoados, não podemos ser regenerados, e se não formos regenerados não podemos ser santificados, e assim não podemos entrar na nova Criação. Temos de ser portanto deixados de fora, vivendo sem Deus e apenas connosco e com os nosso pecados que ainda permanecem, que nos irão atormentar eternamente. Este é o castigo de Deus. Esta é a Ressurreição da vergonha e do desprezo eterno que Daniel falava. A isto a Igreja chama inferno. E não estou aqui a criar a cultura do medo, a dizer as pessoas que se tornem Cristãos por medo do inferno, mas faço esta pergunta: se durante a vida alguém foge de Deus e não quer a sua presença, se prefere o pecado ao perdão e a criatura ao Criador, porque razão essa pessoa deveria esperar que na próxima vida isso mudasse? Parece até bizarro achar que as pessoas que toda uma vida fogem de Deus se devem poder queixar porque não passam a eternidade com Ele. Cada um terá o destino que traçou, e ninguém poderá dizer a Jesus, enquanto contempla as chagas das suas mãos e as feridas do seu lado: "não tentaste que chegue, não me amaste o suficiente". 

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

8 de Novembro - A oferta dos homens e de Deus

Primeira Leitura - 1 Rs 17:10-16
E ele [Elias] foi. Quando chegou à porta da cidade, encontrou uma viúva que estava colhendo gravetos. Ele a chamou e perguntou: "Pode me trazer um pouco d'água numa jarra para eu beber?" Enquanto ela ia buscar água, ele gritou: "Por favor, traga também um pedaço de pão". Mas ela respondeu: "Juro pelo nome do Senhor, o teu Deus, que não tenho nenhum pedaço de pão; só um punhado de farinha num jarro e um pouco de azeite numa botija. Estou colhendo uns dois gravetos para levar para casa e preparar uma refeição para mim e para o meu filho, para que a comamos e depois morramos." Elias, porém, lhe disse: "Não tenha medo. Vá para casa e faça o que eu disse. Mas primeiro faça um pequeno bolo com o que você tem e traga para mim, e depois faça algo para você e para o seu filho. Pois assim diz o Senhor, o Deus de Israel: 'A farinha na vasilha não se acabará e o azeite na botija não se secará até o dia em que o Senhor fizer chover sobre a terra' ". Ela foi e fez conforme Elias lhe dissera. E aconteceu que a comida durou muito tempo, para Elias e para a mulher e sua família. Pois a farinha na vasilha não se acabou e o azeite na botija não se secou, conforme a palavra do Senhor proferida por Elias.
Havia uma grande seca na terra, pois o povo tinha abandonado Deus e prestado culto a Baal, e Elias foi enviado por Deus para longe e Deus prometeu sustento para ele, nomeadamente através desta viúva. Podemos em primeiro lugar, ver como esta viúva é generosa: mesmo tendo pouco ela faz a sua Elias. Depois vemos também como Deus muitas vezes providencia as coisas terrenas para nós quando precisamos delas para alcançar os seus planos, tal como Jesus referencia em Mt 6:31-34.

Salmo - Sl 146
Louve, ó minha alma, o Senhor.
O Senhor Deus é Aquele que nos criou, que nos deu existência, também é Ele contra quem nós muitas vezes pecámos, e que ainda assim nos perdoou, e a grande custo, ao custo do seu próprio sofrimento numa cruz. Mas na Sua vinda à Terra Ele não apenas morreu, como também nos ensinou como viver uns com os outros, nos abriu os olhos para as escrituras e nos deu um novo mandamento: "amai-vos uns aos outros como eu vos amei", e para além disso veio como servo e não como mestre, apesar de ser Ele Deus. Quando o seu corpo deixou fisicamente a Terra, assegurou-nos de que iria enviar o confortador, que é o seu Espírito Santo para nos guiar, e também que estaria sempre connosco até ao final dos tempos, nomeadamente na Comunhão do pão e do vinho. Para além disto, podemos chamar-lhe Pai e sobre nós também deu o poder sobre este mundo, para que façamos coisas maiores do que as que Ele fez como homem, não só coisas invisíveis mas também visíveis, como curar os doentes. Finalmente, sabemos que a sua essência é o Amor, que não morreu só pelos nossos pecados mas de todo o mundo, e ama toda a Humanidade com um grande amor, sempre à espera daquela ovelha perdida que há-de ser encontrada. É por isto que a nossa alma deve louvar o Senhor.




Segunda Leitura (Hb 9:24-28)
Pois Cristo não entrou em santuário feito por homens, uma simples representação do verdadeiro; ele entrou nos céus, para agora se apresentar diante de Deus em nosso favor; não, porém, para se oferecer repetidas vezes, à semelhança do sumo sacerdote que entra no Lugar Santíssimo todos os anos, com sangue alheio. Se assim fosse, Cristo precisaria sofrer muitas vezes, desde o começo do mundo. Mas agora ele apareceu uma vez por todas no fim dos tempos, para aniquilar o pecado mediante o sacrifício de si mesmo. Da mesma forma, como o homem está destinado a morrer uma só vez e depois disso enfrentar o juízo, assim também Cristo foi oferecido em sacrifício uma única vez, para tirar os pecados de muitos; e aparecerá segunda vez, não para tirar o pecado, mas para trazer salvação aos que o aguardam.
Nos tempos do antigo testamento todos os anos o sumo sacerdote fazia uma oferta a Deus para que os pecados do povo pudessem ser expiados. Este sacrifício era imperfeito, e na realidade o sumo sacerdote nunca poderia pagar pelos pecados do povo, já que ele tinha os seus próprios pecados para se preocupar, para além disso ele era apenas um ser finito. Para oferecer expiação pelos pecados do povo (do mundo, neste caso), é preciso alguém que seja infinito e sem pecado para oferecer esta expiação. Isto mostra que o sacrifício de Cristo era necessário para a redenção.
Mas o sacrifício não só era necessário, mas também foi suficiente. Por isso não precisamos de estar a pagar a Deus pelos nossos pecados com penitências e sacrifícios. Podemos fazer penitências como um exercício espiritual e oferecer sacrifícios (não de sangue, mas por exemplo dar esmolas) em ação de graças, mas sendo que o sacrifício de Jesus foi suficiente para a remissão dos pecados, os nosso sacrifícios nunca devem ser feitos com o intuito de possibilitar o perdão dos nosso pecados.
Por fim, vemos que o sacrifício de Cristo não só nos dá o perdão, bem como nos regenera e dá a Salvação, podendo assim ser Filhos de Deus. O que devemos fazer é aproximar-se d'Ele em humildade, pedir perdão e reclamar a herança que Ele nos deixou.

Evangelho - Mc 12:38-44
Ao ensinar, Jesus dizia: "Cuidado com os mestres da lei. Eles fazem questão de andar com roupas especiais, de receber saudações nas praças e de ocupar os lugares mais importantes nas sinagogas e os lugares de honra nos banquetes. Eles devoram as casas das viúvas, e, para disfarçar, fazem longas orações. Esses receberão condenação mais severa!". Jesus sentou-se em frente do lugar onde eram colocadas as contribuições e observava a multidão colocando o dinheiro nas caixas de ofertas. Muitos ricos lançavam ali grandes quantias. Então, uma viúva pobre chegou-se e colocou duas pequeninas moedas de cobre, de muito pouco valor. Chamando a si os seus discípulos, Jesus declarou: "Afirmo que esta viúva pobre colocou na caixa de ofertas mais do que todos os outros. Todos deram do que lhes sobrava; mas ela, da sua pobreza, deu tudo o que possuía para viver".
Começo por observar que aqui revemos a passagem da viúva que o livro dos Reis nos mostrou: tal como a viúva que deu a Elias do pouco que tinha, também esta deu, da sua pobreza, tudo o que tinha. O Cristão também é chamado a dar, tal como esta viúva. E não só em dinheiro, mas também em alma, a Deus. Pois Jesus chama cada um de nós, a, da sua pobreza em espírito, dar tudo o que tem a Deus.
Tantas vezes ouvimos as pessoas dizer: "vai a Igreja e ainda é pior do que os que não vão", ou a criticar as diversas atrocidades e hipocrisias que aconteceram na história da Religião organizada, cujos protagonistas se chamavam Cristãos. E algumas destas pessoas afastam-se da Igreja por esta razão, no entanto talvez estas pessoas devessem saber que Jesus, no seu tempo, fez as mesmas críticas e hoje também as faria. Nos dias de hoje talvez não fosse aos mestres da lei, mas talvez a alguns membros do clero, ou até mesmo das instituições governamentais. Vivem para as aparências apenas para receber a glória dos homens, mas sabemos que tais já receberam a sua recompensa (Mt 6:1-6). Jesus não quer hipócritas, mas sim pessoas que realmente o representam aqui, e representar Deus na Terra é uma grande tarefa. Tarefa essa que nós Cristãos, fomos incumbidos de carregar pelo nosso Rei, Jesus. Que cumpramos bem a nossa missão, para que não nos arrisquemos a que depois poemas como o seguinte possam ter fundo de razão:
No tempo em que os homens rudes imperavam
Os bandidos nas cruzes penduravam
Hoje que vivemos na época das luzes
No peito dos bandidos penduram cruzes

Álvaro de Campos

domingo, 8 de novembro de 2015

1 de Novembro - Quem são os Santos?

Hoje, como sabem, é feriado, dia de todos os Santos. O tema desta reflexão será precisamente o que as escrituras de hoje nos dizem sobre os Santos.

A Primeira Leitura de acordo com o calendário que estamos a seguir seria Ap 7:2-4 e 9-14, no entanto penso que começar por outra leitura do Apocalipse é mais importante:

Primeira Leitura - Ap 22:8-9
Eu, João, sou aquele que ouviu e viu estas coisas. Tendo-as ouvido e visto, caí aos pés do anjo que me mostrou tudo aquilo, para adorá-lo. Mas ele me disse: "Não faça isso! Sou servo como você e seus irmãos, os profetas, e como os que guardam as palavras deste livro. Adore a Deus!"

Infelizmente vemos muitas vezes Cristãos a caírem no erro de João e adorarem os Santos ou Anjos como Deus. Embora diferentes em santidade, em poder ou em natureza, os anjos e santos são "servos como nós" e não devem ser alvo da nossa adoração, pois assim caímos no erro da idolatria, ou seja adorar algo que não a Deus, pois Deus é o único que é digo de ser adorado. Embora a Igreja Católica seja onde muitas vezes estes abusos acontecem, a sua doutrina oficial não defende que se adorem os santos, mas que se pode pedir aos mesmos que intercedam por nós perante Deus, leia mais sobre isto aqui.






Salmo - Sl 24
Quem poderá subir o monte do Senhor? Quem poderá entrar no seu Santo Lugar?
Aquele que tem as mãos limpas e o coração puro, que não recorre aos ídolos nem jura por deuses falsos.

Ele receberá bênçãos do Senhor, e Deus, o seu Salvador, lhe fará justiça.
São assim aqueles que o buscam, que buscam a tua face, ó Deus de Jacó.
Costumo citar apenas um verso do salmo, mas desta vez achei importante citar mais, sendo que este salmo nos ensina verdades muito importantes. Nós, como Filhos de Deus, temos o privilégio de subir ao seu monte e entrar no seu Santo Lugar, mas será que já parámos para pensar como isto é possível? Deus é Santo e perfeito e nós não somos. Não tanto a pensar no facto de Deus poder não nos querer deixar entrar na sua presença, mas o próprio acontecimento parece impossível, tão impossível como um cubo de gelo estar dentro de um vulcão sem derreter. Parece que para entrarmos na presença de Deus devíamos também nós ser precisamente Santos. Quem pode então entrar na presença de Deus? "
Aquele que tem as mãos limpas e o coração puro, que não recorre aos ídolos nem jura por deuses falsos.". Eu confesso que eu no meu estado natural não sou assim, eu já sujei as minhas mãos com injustiça e violência, já tive no meu coração ódio e luxúria e já adorei ídolos como o dinheiro ou a glória dos homens, e no entanto aqui estou eu na presença de Deus, eu e milhões de Cristãos pelo mundo fora. Como é isto possível? Graças à morte de Jesus aqueles que quiserem subir ao monte Santo de Deus vão receber o perdão pelos seus pecados, ficando com as suas mãos limpas e pelo Espírito Santo vão ser regenerados e serão de coração puro. Por isso é que podemos dizer que "
São assim aqueles que o buscam, que buscam a tua face, ó Deus de Jacó.", pois sabemos que todos aqueles que buscam Deus de coração o vão encontrar (Jr 29:13). 
Muitas pessoas têm a ideia errada de que Deus procura os Santos para serem seus filhos, mas a verdade é que Deus procura os pecadores (que são todos) e graças ao trabalho de Deus neles estes tornam-se Santos. 

Segunda Leitura - 1 Jo 3:1-3
Vejam como é grande o amor que o Pai nos concedeu: sermos chamados filhos de Deus, o que de fato somos! Por isso o mundo não nos conhece, porque não o conheceu. Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser, mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é. Todo aquele que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, assim como ele é puro.
Em primeiro lugar devemos observar que somos filhos de Deus, mas que isto nos é concedido e não nasce connosco. É verdade que todos somos "filhos de Deus" no sentido de termos sido criados por Deus e todos somos filhos de Deus no sentido em que Deus nos ama. Mas nem todos somos filhos de Deus no sentido de termos uma relação de filho para Pai com Deus, e isso é óbvio observando o facto de que muitas pessoas não conhecem Deus. Deus quer ser o Pai de todos nós, e é o Pai de todos nós num certo sentido, no entanto, infelizmente e por nossa culpa, não tem a relação de Pai para filho com todos nós.
Como filhos de Deus podemos pedir a Deus, o nosso Pai, tal como Jesus diz (Lc 11:9-13):
"Por isso digo: Peçam, e será dado; busquem, e encontrarão; batam, e a porta será aberta. Pois todo o que pede, recebe; o que busca, encontra; e àquele que bate, a porta será aberta. Qual pai, do meio de vocês, se o filho pedir um peixe, em lugar disso lhe dará uma cobra? Ou, se pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai que está nos céus dará o Espírito Santo a quem o pedir!?"


E a oração do Senhor (conhecida como o Pai Nosso) reflete isto mesmo, pois está cheia de petições do início ao fim, pois Deus é uma pessoa e é Pai, e todo aquele que é Pai e ama se alegra em dar aos seus filhos. Portanto todos nós os Cristãos temos este imenso poder de pedir a Deus e saber que Ele é o nosso Pai (sim, Deus, o Deus do Universo todo é o nosso Pai) e nos ouve (sim, a nós, que vivem nesta pedrinha perdida no Cosmos que é  a Terra), e portanto não pensemos que só os "Santos" podem fazer milagres e interceder, qualquer um de nós que é filho de Deus tem o grande poder da oração e de ser ouvido.
Reparem como nós os Cristãos somos diferentes do mundo e semelhantes a Deus nesta passagem de João, o que só é possível, mais uma vez, devido ao trabalho de Jesus. Vemos assim que todos os que amam o Senhor recebem a sua promessa de serem filhos de Deus e são Santos, portanto não pensemos que os Santos são só os Santo Agostinhos e as Santas Marias, os Santos são os que seguem Deus, pois no Reino de Céus não haverá um só homem que não seja Santo nem um só homem que não tenha sido pecador.

Evangelho - Mt 5:1-12
Vendo as multidões, Jesus subiu ao monte e se assentou. Seus discípulos aproximaram-se dele, e ele começou a ensiná-los, dizendo: 
'Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o Reino dos céus. 
Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados.
Bem-aventurados os humildes, pois eles receberão a terra por herança.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão satisfeitos.
Bem-aventurados os misericordiosos, pois obterão misericórdia.
Bem-aventurados os puros de coração, pois verão a Deus.
Bem-aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus.
Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, pois deles é o Reino dos céus.
Bem-aventurados serão vocês quando, por minha causa, os insultarem, os perseguirem e levantarem todo tipo de calúnia contra vocês.
Alegrem-se e regozijem-se, porque grande é a sua recompensa nos céus, pois da mesma forma perseguiram os profetas que viveram antes de vocês.'
Lemos aqui o início do famoso sermão da montanha. Vemos que mais uma vez, aqueles que vão estar no Reino dos Céus estão longe de serem perfeitos, antes pelo contrário, eles são pobres em espírito, reconhecendo a sua pobreza, Deus os tornará fortes, pois como Deus diz a Paulo "A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza.". (2 Cor 12:9). Isto traduz-se depois na ânsia da vinda do Reino de Deus, naquela esperança de que Pedro fala na sua carta (1 Pe 3:15).
Também vemos que "ser Santo" não é fácil, e muitas vezes nos perseguirão, tal como perseguiram Jesus. É comum ouvir o povo dizer: "apenas um era perfeito, e mataram-no", e há grande sabedoria nestas palavras, pois os nossos corações endurecem-se e muitas vezes fogem da verdade e da vida para esconderem as suas faltas, mas sabemos que nada está escondido que não vá um dia ser revelado (Rm 2:16, Lc 12:2). Assim, Jesus assegura-nos por um lado que irá haver justiça no seu Reino (não só no sentido de punir o mal, mas num sentido mais profundo da palavra justiça, que realça mais a vitória do bem), que vai haver grande tribulação, pois as trevas tendem a lutar contra a luz, mas que não devemos temer, pois Deus estará por nós, e agora lembra-mo-nos que (Rm 8:31"Se Deus é por nós, quem será contra nós?".