quinta-feira, 17 de abril de 2014

É você um Cristão?

Estamos perto da Páscoa, o maior evento do Cristianismo em todo o ano, quando celebramos o sacrifício que Jesus fez por nós e a sua Ressurreição.
Muitos de nós dizemos que somos Cristãos ou que acreditamos em Deus, mas é realmente isso verdade? Primeiro devemos perguntar-mo-nos o que é o um Cristão. Uma definição simples poderia ser: "um Cristão é aquele que segue os ensinamentos de Jesus Cristo", mas esta definição oferece um problema: existe uma grande discórdia em quais foram os ensinamentos de Jesus Cristo, por exemplo os muçulmanos acreditam que Jesus Cristo ensinou o Islão: nunca ensinou que era filho de Deus nem que ia ressuscitar, e que um dia virá à Terra julgar o mundo e condenar os Cristãos tradicionais de hoje em dia (Católicos, Protestantes, Ortodoxos, etc). Desta maneira os Muçulmanos chamar-se-iam de Cristãos e a definição causaria enorme confusão, sendo assim inútil... 

Dizer o que faz alguém um Cristão (condições suficientes) pode ser uma questão difícil, pois existe também alguma discórdia sobre isso entre os crentes de hoje, o que proponho é elaborar uma lista de condições necessárias, ou seja, que todos os Cristãos têm de satisfazer, serão sempre baseadas na Bíblia. Podemos enumerar os seguintes artigos de fé:

1. Deus existe - Obviamente que seria muito estranho chamar um ateu de Cristão! No entanto ideais panteístas de Deus não qualificam para um Cristão, Deus, de acordo com o Cristianismo é (tri) pessoal Pai, Filho, Espírito Santo). Normalmente usamos a palavra "Deus" para nos referir ao Pai (ex: Deus ressuscitou Jesus dos mortos). Deus ser pessoal significa que faz sentido atribuir a Deus decisões (Tg 1:18), sentimentos (Jo 3:16), actos (Gn 1:1) ou falar com vários personagens como Moisés (Ex: 3:14), Samuel (I Sm 16:1) ou a multidões (Mt 3:17). Para além disso, Jesus é filho de Deus, pelo que certamente Deus tem de ser pessoal.

2. Jesus foi crucificado pelos nossos pecados - Não necessita de compreender exactamente como é que tal funciona (a chamada doutrina da expiação),  mas isto é certamente essencial na fé Cristã, e era o centro da pregação dos autores do Novo Testamento, é proclamado por São João Baptista (Jo 1:29) e na carta de João (apóstolo) I Jo 4:10), na epístola aos Hebreus (He 7:27), Paulo claramente diz também em I Co 15:3  e claro por Jesus ele mesmo (Mt 26:28). É óbvio que é subjacente que temos de admitir que somos pecadores e temos necessidade de ser salvos, caso contrário "ser crucificado pelos nosso pecados" não faria qualquer sentido.

3. Jesus é o Messias, Deus feito homem. Filho de Deus - De acordo com o Cristianismo, Jesus não é meramente um homem, mas a incarnação de Deus na Terra. É atestado por São Paulo em Cl 2:9 ou Tt 2:13; São João em Jo 1:1,14; e claro o próprio Jesus em Jo 10:13, Mc 14:60-62 ou quando Tomé lhe chama Deus e ele não o repreende Jo 20:28. A ideia de que Jesus não é divino foi considerada heresia no concílio de Nicéia no ano 325 DC.

4. Jesus ressuscitou fisicamente dos mortos - Se acredita em Deus não será difícil certamente para ele tal milagre, por muito extraordinário que pareça. Este facto é o que testemunha que Jesus não era uma fraude mas sim realmente quem dizia ser, e os autores do Novo Testamento colocam grande ênfase neste facto, aparece em todos os Evangelhos (Mt 28; Lc 24; Jo 20; Mc 16), e também é o centro do sermão de São Paulo em Atenas (At 17:31). 


Credo de Niceia, em 325 D.C. onde estão formuladas as bases do Cristianismo ortodoxo 

Poderá claro ler o Credo de Nicéia para uma mais completa exposição dos essenciais da fé Cristã. Penso que São Paulo faz o melhor resumo da fé Cristã (Romanos 10:9):

Se você confessar com a sua boca que Jesus é Senhor e crer em seu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo.

Se já faz parte da família Cristã, muitos parabéns, se não, considere bem, pois Jesus morreu também por si, e está à sua espera, e não há melhor altura que a Páscoa para pelo menos dar uma chance à fé Cristã e quem sabe deixar que ela mude a sua vida.




terça-feira, 1 de abril de 2014

Argumento Moral

Muitas pessoas não acreditam na existência de Deus, mas no entanto, muitas destas pessoas não se apercebem das devastadoras consequências desta posição. Uma delas tem a ver com moralidade: se Deus não existe e o materialismo é verdadeiro, como podemos realmente falar em moralidade? Como podemos realmente dizer que algo está errado ou certo? Vou defender neste artigo que o ateísmo leva a uma conclusão que não só é absurda mas ninguém na realidade acredita nela. A primeira premissa que vou defender é:
  1. Se Deus não existe, então valores morais objectivos não existem.

Por objectivos entende-se que são verdadeiros e violá-los é errado mesmo que ninguém acredite na sua veracidade. Por exemplo, dizer que o Holocausto é objectivamente errado significa dizer que o Holocausto seria errado mesmo que os Nazis tivessem ganho a Guerra e conseguido fazer que com que toda a gente achasse que o Holocausto estava certo.

Se Deus não existe, então é plausível pensar que o mundo material é tudo o que existe. Se isto for verdade, então todos os eventos são apenas rearranjos da matéria existente, qual é o significado moral de tal rearranjo? Parece simplesmente que é arbitrário se a matéria toma uma certa configuração ou outra. Penso que todos concordaríamos que conduzir do lado esquerdo ou direito da estrada, pintar o cabelo de verde ou de vermelho, etc. são acções moralmente neutras. Se Deus não existe então não há nada realmente especial no ser humano, tal como as pedras somos simplesmente colecções de átomos, destinados a desaparecer um dia na imensidão do Cosmos. Porque somos nós mais importantes que mosquitos, moscas, cães ou porcos? Dizer que somos especiais seria cair na falácia do especismo, ou seja, arbitrariamente decidir que a nossa espécie é mais valiosa que as outras.

Pensemos agora no que significa a palavra “mal”. É difícil arranjar uma definição, mas penso que esta, que ouvi da boca do Dr. J.P. Moreland, é muito boa: “o mal acontece quando a realidade não corresponde à maneira de como as coisas deviam ser”. Mas a óbvia questão surge: se o mundo material é tudo o que existe, então faz algum sentido em falar em numa maneira em como as coisas deviam ser? Não, pois em primeiro lugar se o ateísmo é verdadeiro tudo o que acontece está determinado pelas leis da natureza, portanto não faz sentido em falar em como a realidade poderia ser, pois a realidade não poderia ter sido de outra maneira!



Deus entrega a Moisés as Tábuas da Lei contendo dos Dez Mandamentos

Existe ainda outro problema, se os valores morais objectivos existem não são objectos materiais, e só por aí o materialismo/naturalismo (ligado ao ateísmo) são falsos. Depois existe outro problema: os processos naturais de evolução Darwinista são insuficientes para nos mostrar como podemos apreender a existência de tais valores morais objectivos transcendentes à matéria, pois eles apenas são rearranjos de matéria filtrados pela selecção natural, sem qualquer mecanismo para uma interacção entre o mundo material e o mundo imaterial, portanto chegaríamos à conclusão que mesmo que estes valores morais objectivos existissem, então nós não teríamos qualquer ideia de quais eles eram, o que torna a crença neles arbitrária e irracional.

É interessante notar que muitos ateus concordam com esta afirmação:

“O universo que observamos tem precisamente as características com as quais se conta quando, por trás dele, não existe nenhum plano, nenhuma intenção, nenhum bem ou mal, nada, além da cega e impiedosa indiferença” (Richard Dawkins, "Deus, um delírio")
É importante explicar que não estamos aqui a defender que é preciso acreditar em Deus para agir moralmente, mas sim que a existência de Deus é necessária para se poder falar de valores morais objectivos. Noutras palavras, o problema é ontológico e não epistemológico. Segue-se agora a próxima premissa:

2. Valores morais objectivos existem.

Porquê acreditar nesta premissa? Bem, eu diria que é auto-evidente, tal como a existência do mundo exterior, a existência do passado, as regras da lógica, certas verdades matemáticas como 1+1=2, etc. O fardo da prova está em quem nega a existência de valores morais objectivos, e a não ser que vá argumentar em círculos, o não crente não pode basear tal crença no seu ateísmo/naturalismo. Faça a seguinte experiência mental, pergunte a si mesmo, não acha que é objectivamente verdade dizer que torturar bebés porque é divertido ou violar mulheres é moralmente errado e auto-sacrifício, simpatia, etc. é moralmente certo?
Mesmo Louise Antony, um não-teísta, num debate com William Lane Craig disse:

“Qualquer argumento para o cepticismo moral será baseado em argumentos que são menos óbvios que a existência dos próprios valores morais objectivos.”

Podemos então argumentar:
1.       Se Deus não existe, valores morais objectivos não existem.
2.       Valores morais objectivos existem.
3.       Portanto, Deus existe.

Sendo que a premissa  1 tem fortes argumentos filosóficos a suportá-la, para rejeitar a conclusão temos de rejeitar a premissa 2, ou seja temos de admitir que torturar uma criança inocente por divertimento não está errado, e tem o mesmo significado moral que comer no Burger King em vez do McDonald's... Se é esta a alternativa a acreditar em Deus, penso que a nossa opção deve ser clara e inequívoca: Deus existe.