quarta-feira, 29 de junho de 2016

Os Dons de Deus - Redenção



É já de noite, e chegaram ao fim todas as minhas atividades diárias, lembro-me então que naqueles cinco minutos livres que tenho antes de dormir devo"fazer aquilo que um Cristão faz", ou seja, vou ler a minha Bíblia. Aleatoriamente abro uma página, Antigo Testamento, Isaías, um profeta, perfeito para adormecer! Quando os meus olhos já cansados e prestes a fechar pensam que estão prestes a finalizar mais um "ritual Cristão" há umas palavras que os fazem parar e permanecer abertos por mais um instante:
"Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim, e dos teus pecados não me lembro mais." - Is 43:25
Devo ter lido mal... Deus não se lembra dos meus pecados? Talvez não se lembre daquela pequena mentira ou daquele dia que bebi um bocadinho a mais. Mas certamente que Deus se lembra e bem dos meus maiores pecados, daqueles que eu próprio me lembro todos os dias. E mesmo que Ele se esquecesse, consigo já pensar num punhado de gente que o podia lembrar disso, talvez alguns deles até o fizessem com uma satisfação extra. Isto é simples: eu sei que Deus perdoa os meus pecados, eu sei que já estou perdoado, mas esquecer?...

Espera, mas eu... sou Cristão e portanto acredito na Bíblia, acredito em Deus, e neste verso é Ele mesmo que diz "dos teus pecados não me lembro mais". Já é tarde mas agora estou confuso e quero perceber o que se passa aqui. Se Deus esqueceu os meus pecados isso significa que aos olhos de Deus é como se eu nunca tivesse pecado. Mas não só isso, significa também que quando me olho ao espelho, não aquele que tenho no quarto e que vejo de olhos abertos e me mostra a minha linda face, mas aquele que olho de olhos fechados à noite quando estou a tentar adormecer e me mostra o meu coração eu já não devo mais ver os meus pecados. Espera, eu nem tenho esse direito, nem eu nem ninguém porque se o juiz de toda a Terra não vê mais os meus pecados nem eu posso anular esse veredito. 






Estou a folhear Romanos e aqui está 8:31-39: 

Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica.
Quem é que condena? Pois é Cristo quem morreu, ou antes quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós.
Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito:Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia;Somos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, Nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.

Estou mais convencido: eu sei que Jesus me ama, e seu eu amo Jesus e faço dele o meu Senhor então Ele pode ter poder na minha vida. Mas Ele tem a intenção perfeita na minha vida e quer livrar-me dos meus pecados, e para além disso Ele é poderoso, omnipotente, Então se eu o deixar utilizar o seu poder na minha vida ele poderá realmente apagar os meus pecados.

Deus é omnisciente e portanto sei que Deus esquecer os meus pecados não significa que Ele não está ciente que aconteceram, mas significa que já não os associa a mim, porque Jesus tomou os meus pecados e venceu-os naquele dia em Jerusalém. Podemos dizer que Deus tem os meus pecados na sua cabeça mas não no seu coração, e portanto eles não têm poder para me condenar... Se calhar assim compreendo porque é que às vezes não sinto o poder de Deus na minha vida, porque é que ainda sinto o peso dos meus pecados, porque ouço sussurros a acusarem-me (e nós bem sabemos quem é aquele a quem se chama o acusador), porque tenho Deus presente na minha cabeça mas não no meu coração, na minha cabeça sei que estou perdoado mas não deixo que isso entre no meu coração, e sei bem que o que manda na minha vida é o meu coração. E portanto sinto-me acusado, não só por Deus ou pelos outros mas por mim mesmo...

Como hei-de fazer? Não se pode construir um telhado sem primeiro ter as paredes: devo deixar que Deus entre primeiro no meu coração e com ele sairá o domínio dos meus pecados. Faz sentido: se deixar que Deus entre no meu coração eu serei mais como Deus, e se Deus não se lembra dos meus pecados eu também não me irei lembrar se estiver em comunhão com Ele. Mas como posso fazer isso?? Bem, Deus é uma pessoa, devo falar com Ele, fazer aquilo a que chamei orar, mas só que agora a sério, de filho para Pai. Ele vai ouvir-me, eu sei que vai. Que inferno seria se tivesse de viver para sempre com os meus pecados, com a vergonha, o ódio, a tristeza, a condenação... Que inferno seria se tivesse de viver sem Deus e soubesse que nada poderia apagar as trevas que vi tantas vezes naquele espelho de olhos fechados. Nunca fui muito bom a orar, mas cá vai, já é antigo o ditado que diz que uma caminhada de milhares de quilómetros começa com um só passo, esta é hoje a minha oração:

"Obrigado Senhor porque me amas, obrigado porque me convidas a ser teu Filho sem pedir nada em troca e saíste do teu trono para trocar as trevas do meu coração pela luz do teu. Obrigado porque apagaste os meus pecados e porque graças a ti também eu os apagarei. Obrigado porque não fizeste isto só por mim mas por todos os homens, particularmente aqueles que eu mais amo, sei que nenhum deles terá de viver com os seus pecados e pode-mo-nos olhar uns aos outros como olhamos para ti, puros, não porque fomos bons mas porque tu és bom. Ajuda-me agora também a não me lembrar dos pecados dos outros, lembra-me que não tenho o direito de condenar os outros, porque tu não me condenaste a mim. Desejo agora no meu coração não me esquecer da gratidão que tenho e não me esquecer de te procurar, Haverá dias em que vou estar cansado, desiludido, ou simplesmente não me vai apetecer falar contigo, ajuda-me a que nesses dias eu consiga mesmo assim fazer um esforço para estar perto de ti. Lembro-me agora que tenho outros irmãos que ainda não te conhecem e que me ensinaste a não ser egoísta portanto não te quero todo só para mim, dá-me forças para ter a coragem de partilhar esta mensagem com eles, mesmo quando eles não parecerem recetivos ou eu me sentir fraco, lembra-me que tal como estiveste com Moisés no Egito também estarás comigo em Portugal. 

Para tua glória, em nome de Jesus. Amém"

(os meus olhos já fecharam e já consigo ver mais luz naquele espelho)

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Reflexão 25 de Dezembro - Feliz Natal


Caros amigos, hoje celebramos o Natal, a Incarnação de Deus em Jesus Cristo, o início do maior ato de amor da história da humanidade. Quero hoje apenas olhar para a seguinte passagem do Evangelho segundo Lucas (Lc 2:8-11):
Havia pastores que estavam nos campos próximos e durante a noite tomavam conta dos seus rebanhos. E aconteceu que um anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor resplandeceu ao redor deles; e ficaram aterrorizados. Mas o anjo lhes disse: "Não temais. Trago-vos boas-novas de grande alegria, que são para todo o povo: Hoje, na cidade de David, nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor.
 Nesta passagem vemos vários elementos da mensagem de Deus:


  • Não temais - Deus está connosco e não devemos temer a sua presença. É bom ter temor de Deus, mas não temer a presença de Deus no nosso coração. Confrontados com as nossas imperfeições e pecados, tememos a presença de Deus pois esta irá expor essas mesmas faltas. No entanto o Senhor está do nosso lado, Ele deseja a nossa Salvação, e tornou-se homem mesmo por isso. Se chamarmos o Senhor ao nosso coração, por muitos pecados que tenhamos estes serão perdoados e a paz será nossa. Pois Deus é amor (1 Jo 4:8) e o perfeito amor expulsa o medo (1 Jo 5:18).
  • Trago-vos boas novas de grande alegria- A mensagem Cristã é muitas vezes apresentada como bons conselhos e não boas notícias: fazei isto e isto e irás para o Céu. É verdade que a mensagem de Deus inclui muitos conselhos, no entanto a mensagem do anjo foi de boas-notícias: eis que nasce Jesus, eis que aqui está o que foi prometido, eis que Deus se prepara para consumar o seu plano de Salvação de toda a Criação. Como resultado do que aconteceu, o mundo tornou-se um lugar diferente.

  • Que são para todo o povo - A oferta de Deus é Universal, é para todos, tal como vemos no verso mais famoso da Bíblia, Jo 3:16 - "Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigénito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.". Nós associamos o Natal aos jantares de família, à boa comida, ao quentinho da lareira, ou até a um certo ritual religioso como ir à missa do galo. Este Natal do mundo tem coisas boas e que podem ser incluídas no nosso Natal, mas apenas como aspetos secundários, pois essas não são a essência do Natal Cristão. Não poderiam ser, pois se fossem esta Escritura seria falsa: há muita gente no mundo que vive na solidão e não tem família para passar o Natal, outros que não têm comida pois vivem na pobreza, e outros não têm a liberdade de ir à igreja no Natal, para estes o Natal do mundo não serve. No entanto não há nenhuma pessoa neste mundo, desde o mais pequeno ao maior, à qual Jesus não convide para tomar parte na sua vida e entrar no seu coração. Não há ninguém que não precise de um Salvador, e à qual esta boa nova não tenha sido dirigida. O Natal Cristão é para todos.
  • Nasceu Jesus, o Salvador - Porque é que nos nasceu um Salvador? Porque precisamos de ser salvos. Do quê? Pergunta o nosso mundo moderno convicto de si mesmo e cheio do vazio de Deus. Precisamos de ser salvos de nós próprios, dos nossos pecados, do nosso ódio, da nossa luxúria, que no fim resulta na separação de Deus, resulta numa morte da alma, que vive para toda a eternidade. Mas Jesus não quer tal destino para ninguém, Jesus ama-te tanto que preferiu tornar-se um homem e morrer numa cruz do que passar o resto da eternidade sem ti. Dizem que se formos todos especiais então nenhum de nós é, mas eu discordo. Este é o sentido em que tu és especial: mesmo que só tu existisses no mundo, Ele viria para ti. 

O meu apelo é este: se ainda não o fizeste, neste Natal, deixa que Jesus não nasça só na manjedoura mas também lá bem dentro do teu coração. Um feliz Natal.

domingo, 20 de dezembro de 2015

20 de Dezembro - Deus mostra-nos a sua face

Na última reflexão semanal antes do Natal vamos examinar alguns textos que anunciam não só a vinda de Jesus como Rei, mas também como aquele que cumpre a vontade de Deus e permite que vejamos a sua face, pois esse é o propósito de Deus. Vemos brevemente o papel de Maria nesta história com oportunidade para contemplar aspetos da sua santidade.

Primeira Leitura - Mq 5:1-4
Reúna suas tropas, ó cidade das tropas, pois há um cerco contra nós. O líder de Israel será ferido na face, com uma vara. Mas tu, Belém-Efrata, embora pequena entre os clãs de Judá, de ti virá para mim aquele que será o governante sobre Israel. 
Suas origens estão no passado distante, em tempos antigos. Por isso os israelitas serão abandonados até que aquela que está em trabalho de parto dê à luz. Então o restante dos irmãos do governante voltará para unir-se aos israelitas. Ele se estabelecerá e os pastoreará na força do Senhor, na majestade do nome do Senhor, o seu Deus. E eles viverão em segurança, pois a grandeza dele alcançará os confins da terra.
O profeta Miqueias, que viveu por volta dos séculos VII ou VIII a.C., experienciando portanto a invasão de Judá em 701 pela Assíria. Ele aqui anuncia a vinda do Messias, daquele que libertará o povo, do grande Rei que governará Israel, e este é Jesus, nascido em Belém. O Natal é um tempo importante porque também nos lembra que Deus cumpre as suas promessas. Há diversas profecias no Antigo Testamento que foram cumpridas no nascimento, vida e morte de Jesus, e não devemos subestimar estas profecias, nem aquelas que ainda não se cumpriram pois se referem ao futuro, já que Deus é fiel à sua palavra. 
Estas palavras de Miqueias hoje confirmam para nós o que sabemos sobre Jesus: que todos aqueles que n'Ele confiam estão 'em segurança', e que a sua grandeza alcança os confins da Terra. Nós Cristão, somos co-trabalhadores com Deus, e devemos trabalhar par que o Evangelho seja pregado em todas as Nações, tal como Jesus nos comandou (Mt 28:18-20).

Salmo - Sl 80
Faz resplandecer sobre nós o teu rosto, para que sejamos salvos.
Neste Salmo o orador lembra-se de tudo o que aconteceu ao povo de Israel, e roga a Deus para que os restaure e lhes mostre o seu rosto. Porque é tão importante ver o rosto de Deus? Porque conhecer a Deus (não saber coisas sobre Deus) é a essência da Vida Eterna. A Salvação é, no fundo, a passagem da morte para a vida, a passagem da vida que decai para aquela que é eterna e não decai. A Vida Eterna, no sentido Bíblico, não é meramente existir para sempre, mas sim viver para sempre da melhor forma. Por isso é que Jesus nos disse que a Vida Eterna é conhecer a Deus (Jo 17:3). O Natal é portanto esta grande revelação de Deus, mostrando a sua face aos homens tornando-se Ele mesmo Homem e vivendo connosco. E depois, graças à sua morte, liberta-nos do pecado para que possamos realmente conhecer a Deus para sempre. Pois Deus quer conhecer e ser conhecido, quer amar e ser amado, quer glorificar e ser glorificado.

Segunda Leitura (Hb 10:5-10)
Por isso, quando Cristo veio ao mundo, disse:
"Sacrifício e oferta não quiseste, mas um corpo me preparaste; de holocaustos e ofertas pelo pecado não te agradaste. Então eu disse: 'Aqui estou, no livro está escrito a meu respeito; vim para fazer a tua vontade, ó Deus'". 
 Primeiro ele disse: "Sacrifícios, ofertas, holocaustos e ofertas pelo pecado não quiseste nem deles te agradaste" (os quais eram feitos conforme a Lei). Então acrescentou: "Aqui estou; vim para fazer a tua vontade". Ele cancela o primeiro para estabelecer o segundo. Pelo cumprimento dessa vontade fomos santificados, por meio do sacrifício do corpo de Jesus Cristo, oferecido uma vez por todas.
Vemos aqui uma espécie de diálogo entre Jesus e o Pai, explicado pelo escritor da carta aos Hebreus (que não sabemos ao certo quem foi). Os sacrifícios que eram oferecidos no Antigo Testamento nunca foram o ideal de Deus, pois eles não podem pagar pelo pecado. Várias vezes na Bíblia Deus diz que não são os sacrifícios animais que Ele deseja por parte do Homem (por exemplo Is 1:11). A razão pela qual estes sacrifícios foram instituídos sai fora do âmbito desta publicação. 
Jesus vem portanto fazer a vontade de Deus: Ele vem tornar possível o perdão do Homem, bem como a sua Santificação, para que a Comunhão com Deus e a renovação de toda a Criação seja possível para sempre, e assim o propósito de Deus pode ser cumprido. Jesus é o derradeiro sacrifício, e nunca devemos tentar acrescentar ao que Ele fez: nenhuma das nossas penitências e ofertas paga pelos nossos pecados, e por eles nunca devemos tentar pagar. Se um homem generoso me oferecer um grande conjunto de propriedades e eu lhe oferecer um euro por elas, é uma ofensa. Eu posso oferecer-lhe algo em gratidão, mas nunca pagar por aquilo que de graça recebi. E de graça recebi porque nunca pelo que recebi poderia eu pagar. 
Como nota adiciona, é por isso que denominações que "oferecem sacrifícios a Deus" nas suas celebrações, são por vezes alvo de controvérsia. Isto acontece com a Igreja Católica, que afirma que em todas as missas, o sacrifico de Jesus é novamente apresentado a Deus, e que realmente paga pelos pecados, no entanto com a salvaguarda que o sacrifício de Jesus e o que acontece na missa são um e um só sacrifício. O estudo da teologia da apresentação de sacrifícios a Deus, olhando para o que cada denominação pensa, o que pensaram os patriarcas e o que dizem as Escrituras é complexo e fica portanto fora do âmbito desta publicação.

Evangelho - Lc 1:39-45
Naqueles dias, Maria preparou-se e foi depressa para uma cidade da região montanhosa da Judeia, onde entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o bebé agitou-se em seu ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Em alta voz exclamou: "Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o filho que tu darás à luz! Mas por que sou tão agraciada, ao ponto de me visitar a mãe do meu Senhor? Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, o bebé que está em meu ventre agitou-se de alegria. Feliz é aquela que creu que se cumprirá aquilo que o Senhor lhe disse!"

Este texto permite a reflexão acerca da santidade de Maria. Maria é santa porque nela viveu Deus mesmo, no seu ventre esteve aquele que havia de morrer pelos pecados de todo o mundo. Daí Maria ser bendita entre as mulheres. Na verdade,

é a única mulher na história que foi mãe de Deus. Mas lembre-mo-nos também que Maria é humana como nós, e precisava da Salvação como nós. Digo isto porque muitas vezes certas pessoas falam de Maria como se ela fosse divina e tivesse poderes em si mesma. É controverso se os Santos depois da sua morte intercedem pelos homens e ouvem as nossas orações, no entanto, mesmo que o façam, certamente que todos os milagres que resultem dessa mesma intercessão são de Deus, da mesma maneira que quando pedimos a um amigo ainda neste mundo para orar por nós e um certo milagre acontece esse milagre é de Deus, e não dele. Desejo que a Virgem seja hoje para nós um exemplo, pois ela obedeceu a Deus e creu, ou seja, confiou-Lhe a sua vida. E por isso disse ao anjo: "Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra." (Lc 1:38).


terça-feira, 15 de dezembro de 2015

13 de Dezembro - Os Céus vêm à Terra

Primeira Leitura - Sf 3:14-18

Canta, ó cidade de Sião; exulta, ó Israel! Alegre-se, regozije-se de todo o coração, ó cidade de Jerusalém! O Senhor anulou a sentença contra ti, ele fez retroceder os teus inimigos.

O Senhor, o Rei de Israel, está em seu meio; nunca mais você temerá perigo algum. Naquele dia, dirão a Jerusalém: "Não temas, ó Sião; não deixe suas mãos enfraquecerem. O Senhor, o seu Deus, está em teu meio, poderoso para salvar.
Ele regozijar-se-á em ti; com o seu amor te renovará, ele se regozijará em ti com brados de alegria".
"Eu ajuntarei os que choram pelas festas fixas, os que se afastaram de vós, para que isso não mais pese como ­vergonha para vós."
Lemos aqui a profecia de Sofonias, que viveu num tempo em que Judá era cobiçada pelos poderes estrangeiros, o Egito e a Assíria. A grande promessa de Deus não é que vai destruir a Terra e levar toda a gente para o Céu mas sim que o Céu descerá sobre a Terra, Deus promete inundar o seu povo com a sua presença salvadora. Já parámos para pensar que Deus se regozija em nós, e com brados de alegria? Nós um ser tão pequeno e pecador, tão amados por um ser tão grande e santo. Mas é mesmo por Ele ser grande e Santo que ele nos ama, pois a grandeza de Deus manifesta-se na sua proximidade connosco. 

Responsório - Is 12:2-6
Gritem bem alto e cantem de alegria, habitantes de Sião, pois grande é o Santo de Israel no vosso meio.
Mais uma vez aqui vemos este tema repetido, Deus vem à Terrra. Mais uma vez quero frisar, e agora nas palavras do teólogo e bispo anglicano NT Wright:
“A Ressureição de Jesus é o princípio do novo plano de Deus não para levar as pessoas para fora da Terra mas sim para colonizar a terra com a vida do Céu."
em Surprised by Hope: Rethinking Heaven, the Resurrection, and the Mission of the Church 

 Se lermos a passagem toda devemos reparar que Isaías a "anunciar entre as Nações" os feitos de Deus. Porquê, não só para glorificar o nome de Deus mas também porque os feitos de Deus são a boa nova para todas as nações.

Segunda Leitura - Fl 4:4-7
Alegrem-se sempre no Senhor. Novamente direi: Alegrem-se! Seja a amabilidade de vocês conhecida por todos. Perto está o Senhor. Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus.
Muitas vezes temos a ideia dos Cristãos como tristes que estão sempre a pensar nos pecados que cometeram e a fazer penitências, ou então a lamentar-se por tudo o que na vida não podem fazer livremente e sem restrições (sexo, álcool, drogas, etc). Mas esta imagem do Cristão não é a imagem Bíblica. Talvez este problema já existisse nos tempos de São Paulo, pois vemos como ele repete para nos alegrarmos. Mas não é só para nos alegrarmos, pois podemos não coisas na nossa vida com que nos alegrar: alguns de nós podem estar doentes ou ter familiares doentes, outros com dificuldades financeiras ou outros com problemas sociais. São Paulo exorta-nos a alegrar-mo-nos não em abstrato, mas em concreto no Senhor. Pois as dificuldades da vida podem bater a porta de qualquer um e não sabemos quem está sem elas, mas qualquer Cristão se pode alegrar no Senhor, pois o Senhor não abandona nenhum daqueles que deposita em si a sua confiança, e com Ele vem a Sua paz, que como o apóstolo diz, "supera todo o entendimento".


Evangelho - Lc 3:10-18
"O que devemos fazer então?", perguntavam as multidões. João respondia: "Quem tem duas túnicas dê uma a quem não tem nenhuma; e quem tem comida faça o mesmo". Alguns publicanos também vieram para serem batizados. Eles perguntaram: "Mestre, o que devemos fazer?" Ele respondeu: "Não cobrem nada além do que foi estipulado". Então alguns soldados lhe perguntaram: "E nós, o que devemos fazer?" Ele respondeu: "Não pratiquem extorsão nem acusem ninguém falsamente; contentem-se com o seu salário". O povo estava em grande expectativa, questionando em seu coração se acaso João não seria o Cristo. João respondeu a todos: "Eu os batizo com água. Mas virá alguém mais poderoso do que eu, tanto que não sou digno nem de desamarrar as correias das suas sandálias. Ele os batizará com o Espírito Santo e com fogo. Ele traz a pá em sua mão, a fim de limpar sua eira e juntar o trigo em seu celeiro; mas queimará a palha com fogo que nunca se apaga". E com muitas outras palavras João exortava o povo e lhe pregava as boas-novas.
João foi aquele que anunciou a vinda de Jesus, ou como o texto diz, "as boas novas". João dava conselhos, respondendo à questão "o que devemos fazer". Um pormenor que vemos aqui é que João não ordenou aos soldados para deixarem de ser soldados, mostrando que por vezes a força é necessária para manter a ordem e em certos ofícios, ou talvez para salvar alguém de perigo, mas claro sem nunca nos esquecermos das palavras de Jesus que falam em dar a outra e amar o próximo como a nós mesmos. Mas o Cristianismo, embora os tenha, não é uma religião de bons conselhos, mas de boas notícias. Deus não nos diz o que devemos de fazer para chegar ao Céu, mas Ele faz por nós, e nós devemos apenas receber a sua oferta. Jesus dá-nos o batismo do Espírito Santo, que nos dá verdadeiro poder sobre a Criação para sermos os trabalhadores de Deus no mundo e executarmos a Sua vontade. Chegará o dia em que Deus mandará ceifar a Sua ceara, e nesse dia separá o trigo do joio, aqueles que receberam a Sua oferta e querem viver para sempre na Sua companhia e aqueles que, rejeitando a oferta de Deus, se separam d'Ele. E você, onde quer estar? No celeiro de Deus? O trabalho já está feito e pronto para ser recebido por si, e se o receber pode conhecer Deus pessoalmente, como um filho conhece um pai e um amigo conhece um amigo. Jesus vem aí, e Ele está de braços abertos para o receber.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

6 de Dezembro - O Advento

Hoje, em vez de termos uma reflexão semanal com os textos calendarizados como de costume, devo lembrar que estamos já no advento e perto do Natal, que é a data em que nós celebramos a Incarnação do Senhor, uma tradição que já está entranhada na nossa sociedade. O que é então este mistério da Incarnação?

Em primeiro lugar devemos falar sobre a palavra "mistério". Esta palavra muitas vezes no sentido de estarmos a falar sobre algo que não se pode compreender de maneira nenhuma, no entanto não é este o sentido em que a palavra deve ser compreendida. Um mistério de Deus é algo que na realidade nós Cristãos devemos compreender, pois é-nos revelado por Deus. Portanto um mistério é algo que compreendemos através da Revelação Divina e que não podemos compreender sem essa Revelação. Podemos ver isto em várias passagens da Bíblia como Col 2:1-3; Ef 3:2-6; Col 1:26-27 ou Mt 13:11-13). Há porém mistérios que Deus pode ainda não ter revelado e não compreendemos na totalidade, no entanto é possível compreender certos mistérios de Deus parcialmente através da capacidade racional que nos foi dada por Deus, e que devemos utilizar para o amar e glorificar, bem como para servir os outros, pois devemos também amar a Deus com "toda a nossa mente" (Lc 10:13).

Parece complicado decifrar o mistério da Incarnação, como pode Deus tornar-se homem? Os Patriarcas da Igreja debateram sobre este assunto. No seu primeiro Concílio, guiados pelo Espírito Santo para unir a Igreja, escreveram no Credo de Niceia acerca de Jesus: "Deus verdadeiro de Deus verdadeiro", afirmando a essência divina de Jesus. No Concílio de Calcedónia, mais explicitamente lemos "verdadeiramente Deus e verdadeiramente Homem". Mas é isto possível? Devemos clarificar o que queremos dizer quando dizemos que Jesus é Homem e Deus para não cair em confusão. 

Não estamos a dizer que Jesus tem uma natureza Humana e Divina ao mesmo tempo, nem estamos a dizer que há em Jesus duas pessoas, um humano e um divino, nem que Jesus é a pessoa de Deus Pai e também Humano, nem mesmo que é metade Deus e metade Humano. Estamos a dizer que a pessoa de Jesus tem duas naturezas, uma humana e outra divina. Sabemos que há um só Deus, no entanto este Deus não é um ser unipessoal como eu ou você mas sim um ser tripessoal, e uma dessas pessoas é Jesus. A natureza de algo mostra o que esse algo é, e a pessoa de algo mostra quem esse algo é. Portanto se perguntarmos quem é a segunda pessoa da Trindade, a resposta é a pessoa de Jesus. Se perguntarmos o que é a segunda pessoa da trindade, a resposta é Deus (natureza divina) e Homem (natureza Humana). 

Mas agora que já passámos os problemas filosóficos devemos voltar a Teologia e perguntar: porque é que Jesus veio ao mundo? Muitos diriam: para dar um exemplo moral de vida, outros talvez diriam que foi para nos mostrar milagres e nos fazer acreditar, outros que foi para nos ensinar doutrinas importantes. Jesus fez realmente todas estas coisas importantes, mas não foi por isso que Ele veio. Para nos ensinar doutrina e mostrar milagres Deus poderia ter feito sinais nos Céus ou enviado um dos seus profetas, ou até mesmo um anjo. Mas o que Jesus fez na sua vinda a Terra nenhum sinal no Céu, ou anjo, ou profeta poderia fazer. Jesus não veio para nos ensinar, nem para fazer milagres, nem para nos dar um exemplo, embora Ele também tenha feito todas essas coisas, Ele veio para morrer (Jo 12:27). Mas porquê? A resposta está em João 3:16:
Deus deseja tanto viver connosco para sempre e mostrar-nos quem Ele é, que foi capaz de nascer numa manjedoura, numa família pobre, num tempo de pouca qualidade de vida e com o ofício de carpinteiro para depois morrer de uma das formas mais brutais e humilhantes já inventadas por todo o mundo, incluindo aqueles que o estavam a pregar na cruz, e depois de tudo isto exclamou: 
"Perdoa-lhes Pai, porque não sabem o que fazem"
Este é o Deus dos Cristãos, e é por isso que nós o amamos tanto, porque Ele nos amou primeiro (1 Jo 4:19). Graças à Incarnação de Jesus podemos conhecer a Deus, ter os nossos pecados perdoados. Satanás apresente o pecado como benção, mas só vem para matar e destruir mas Jesus vem para termos vida, e a termos abundância (Jo 10:10). A Incarnação é o primeiro passo do plano de Deus para cada um de nós, é o primeiro passo da mais bela história já contada e vivida na Terra. Imagine todas aquelas pessoas que você ama, se não fosse a Incarnação de Jesus não haveria esperança para eles nem para si, mas apenas uma eternidade sem Deus. Assim, há esperança, dê Graças a Deus e espalhe a Boa Nova.

O que interessa no Natal não são as prendas, nem os doces, nem a árvore, nem o jantar em família, nem os presépios, nem mesmo a missa do galo! O que interessa no Natal é Jesus, e é para celebrar a sua vinda que nos devemos preparar neste tempo de Advento!